São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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Crítica/DVD/"A Classe Operária Vai ao Paraíso"

Ironia marca clássico do cinema político

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Basta dar poucos passos para superar a distância que distingue o céu do inferno ou é só atravessar um muro para descobrir que nada isola a razão da insanidade. É o que demonstra com precisão o cineasta Elio Petri em "A Classe Operária Vai ao Paraíso", filme de 1971 sobre a trajetória de um trabalhador cujo nome, Massa, carrega consigo as questões políticas que são as protagonistas da obra do diretor.
O longa converteu-se em paradigma de um gênero, o "cinema político italiano", e obra maior de todas as tentativas feitas de apropriação política do cinema. E é até mais profunda que a implacável demonstração do poder como patologia feita por Petri em "Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita" (1970).
Que se entenda política aqui não como discurso ideológico ou como ilustração de um valor para engajamento, como identificamos no passado nos filmes de Costa-Gavras e no presente nos filmes brasileiros que "acertam contas" com a ditadura militar, por exemplo.
O projeto de Petri não comporta tantas certezas e, por isso, abriga ironias, como a explícita desde o título. Massa (Gian Maria Volonté) é um operário assediado, de um lado, por forças esquerdistas que pregam a radicalização, e, de outro, pelas seduções da sociedade de consumo, da qual seus magros rendimentos o mantêm apartado.
Massa é metade besta, metade máquina, sem alcançar o status de homem, como ele terá condições de reconhecer em diálogos que evidenciam sua tomada de consciência da fragilidade de ideais como "liberdade" ou "autonomia".
Mais admirável é ver como Petri encena tais questões sem ceder à tentação do discurso, dinamizando o fundo histórico das reivindicações trabalhistas em ação no capitalismo naquele momento e integrando sem arestas a dimensão social e a individual, o universal e o particular. O mundo que vivemos é outro e o capitalismo também, só que essa tragicomédia do homem qualquer nos ensina que quando nos dizem que tudo muda nem sempre nos avisam que pode ser para pior.


A CLASSE OPERÁRIA VAI AO PARAÍSO
Direção: Elio Petri
Lançamento: Versátil (R$ 44,90; classificação: 16 anos)
Avaliação: ótimo




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