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Crítica/DVD/"A Classe Operária Vai ao Paraíso"
Ironia marca clássico do cinema político
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Basta dar poucos passos
para superar a distância
que distingue o céu do
inferno ou é só atravessar um
muro para descobrir que nada
isola a razão da insanidade. É o
que demonstra com precisão o
cineasta Elio Petri em "A Classe Operária Vai ao Paraíso", filme de 1971 sobre a trajetória de
um trabalhador cujo nome,
Massa, carrega consigo as questões políticas que são as protagonistas da obra do diretor.
O longa converteu-se em paradigma de um gênero, o "cinema político italiano", e obra
maior de todas as tentativas feitas de apropriação política do
cinema. E é até mais profunda
que a implacável demonstração
do poder como patologia feita
por Petri em "Investigação sobre um Cidadão Acima de
Qualquer Suspeita" (1970).
Que se entenda política aqui
não como discurso ideológico
ou como ilustração de um valor
para engajamento, como identificamos no passado nos filmes
de Costa-Gavras e no presente
nos filmes brasileiros que
"acertam contas" com a ditadura militar, por exemplo.
O projeto de Petri não comporta tantas certezas e, por isso, abriga ironias, como a explícita desde o título. Massa (Gian
Maria Volonté) é um operário
assediado, de um lado, por forças esquerdistas que pregam a
radicalização, e, de outro, pelas
seduções da sociedade de consumo, da qual seus magros rendimentos o mantêm apartado.
Massa é metade besta, metade máquina, sem alcançar o
status de homem, como ele terá
condições de reconhecer em
diálogos que evidenciam sua
tomada de consciência da fragilidade de ideais como "liberdade" ou "autonomia".
Mais admirável é ver como
Petri encena tais questões sem
ceder à tentação do discurso,
dinamizando o fundo histórico
das reivindicações trabalhistas
em ação no capitalismo naquele momento e integrando sem
arestas a dimensão social e a individual, o universal e o particular. O mundo que vivemos é
outro e o capitalismo também,
só que essa tragicomédia do homem qualquer nos ensina que
quando nos dizem que tudo
muda nem sempre nos avisam
que pode ser para pior.
A CLASSE OPERÁRIA
VAI AO PARAÍSO
Direção: Elio Petri
Lançamento: Versátil (R$ 44,90; classificação: 16 anos)
Avaliação: ótimo
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