São Paulo, Segunda-feira, 14 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOSTRA
Brasil participa pela primeira vez de todas as sessões da Quadrienal, a maior exposição de cenografia do mundo
Praga premia arquitetura de teatros brasileiros

Janete Longo/Folha Imagem
Teatro São Pedro, em SP, cuja reforma, ao lado de outros projetos, foi premiada nesta Quadrienal


VALMIR SANTOS
CAMILA VIEGAS

especial para a Folha

A 9ª Quadrienal de Cenografia, Indumentária e Arquitetura Teatral de Praga, aberta em 7 de junho, divulgou, na última sexta-feira, o resultado da premiação deste ano. O Brasil recebeu a medalha de ouro de Arquitetura Teatral, uma das quatro sessões da mostra (veja quadro abaixo).
O prêmio foi dedicado ao conjunto de oito projetos de restauração, transformação e construção de teatros nacionais. Os teatros José de Alencar, de Fortaleza, e o São Pedro, de São Paulo, estavam entre os elogiados planos de renovação; o teatro dos Bancários, Cacilda Becker, no Rio, Oficina, em São Paulo, e São Pedro, em Porto Alegre, colaboraram com seus desenhos e projetos experimentais.
Essa edição da Quadrienal é a maior já realizada e teve a participação maciça de brasileiros. Cerca de 40 estudantes, cenógrafos, atores e diretores foram prestigiar a mostra e participar das atividades paralelas organizadas pelo evento. "Essa foi a característica mais marcante dessa edição. Gustavo Lanfranchi, José Dias e Márcio Tadeu, por exemplo, fizeram uma visita guiada na mostra com alunos de vários países", conta o curador da delegação Funarte J. C. Serroni.
Para ele, os oito teatros brasileiros apresentados na sessão arquitetônica têm em comum o fato de serem intimistas, com um número médio de lugares, o que privilegia o ator e o espetáculo. "Além disso, a apresentação do estande, com piso de madeira, urdimento e painéis com desenhos e fotografias, impulsionou a escolha do júri."
"O reconhecimento de países de tradição teatral, como a Grã-Bretanha, diz ao Brasil que sua opção de transformar e restaurar seus teatros é acertada", avalia.
Mirando o terceiro milênio, o tema deste ano é "Nosso Mundo Comum - Mundo, Nações, Indivíduos", reunindo representantes de 50 países. Pela primeira vez, o Brasil participa das quatro sessões da Quadrienal: as mostras nacional (cenógrafos), temática, de escolas e de arquitetura cênica.
José Dias, Márcio Tadeu, Gringo Cardia, Fernando Mello Costa e Ulysses Cruz debutam no principal evento internacional do gênero -"a Documenta de Kassel da cenografia", compara Serroni.
É a mesma composição brasileira que integrou a mostra Espaço da Cena Latino-Americana, realizada em novembro passado no Memorial da América Latina.
Serroni participa ainda da sessão de escolas. Trata-se do seu pioneiro Espaço Cenográfico, que funciona há um ano, com cursos de especialização em cenografia e arquitetura cênica.
Em tempo: o ex-parceiro de Antunes Filho afirma que esta é a última vez que encabeça a cena. Quer delegar a organização de eventos para as novas gerações, como já antecipa nesta edição, criando subcuradorias com o designer Aby Cohen (seção temática), a cenógrafa Telumi Helen (escolas) e o arquiteto Gustavo Lanfranchi (arquitetura cênica).
A sessão temática tem como representante o Serviço Social do Comércio (Sesc), de São Paulo. A instituição desenvolve política de apoio às artes cênicas, que inclui, por exemplo, a construção de 20 edifícios teatrais em suas unidades e a manutenção do Centro de Pesquisa Teatral (CPT), no Sesc Consolação.
O Brasil ocupa, ao todo, 100 metros quadrados da área de exposição do Palácio das Indústrias em Praga -espaço proporcional ao do primeiro time da cenografia internacional (Alemanha, França, Estados Unidos e Tcheco-Eslováquia).
Não se trata de uma exposição estanque de desenhos, fotos, plantas e maquetes. "Para mostrar a cenografia fora do palco, fora do seu habitat, isolada do texto, do ator, é preciso recriar o espaço e a luz com um tratamento que estabeleça uma proximidade com o visitante, como se ele estivesse entrando num palco de verdade", explica Serroni.
A participação brasileira no evento custou cerca de R$ 200 mil, injetados sobretudo pelo Sesc. Quase duas toneladas de material foram transportadas para a Europa por navio. A delegação brasileira desembarcou em Praga no dia 1º de junho. Como no teatro, a riqueza do processo de montagem foi privilégio de cenógrafos.



Texto Anterior: Relâmpagos - João Gilberto Noll: Peregrino
Próximo Texto: Bienal paulista influenciou a criação do evento, em 1967
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.