São Paulo, Segunda-feira, 14 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA
Filme ironiza assédio a famosos

de Londres

Se fôssemos tomar "Notting Hill" pelo que é, de uma forma crua, chegaríamos a poucas e óbvias conclusões: trata-se de uma comédia romântica cheia de piadas bobas, um final previsível e diálogos fraquíssimos, que resultam apenas de sustos a partir da confrontação de pessoas comuns face aos famosos.
Também poderíamos dar um desconto e dizer que vale a pena ver o filme pois Hugh Grant está muito bem no papel cômico do macho atrapalhado, Julia Roberts está bonita como sempre e, enfim, pode-se passear um pouco pelos jardins e ruas de Londres por meio das imagens.
Além disso, há o personagem alegórico do bobalhão Spike, que representa a desesperança dos desclassificados da virada do milênio e fornece as piadas mais interessantes de todo o enredo.
Mas "Notting Hill" pode ser visto também pelo que não pretende ser. E aí chegamos a uma realidade que a Inglaterra, e de forma geral a cultura ocidental, enfrentou com muita intensidade nestes anos 90, agravada também pela morte da princesa Diana: a da comercialização da imagem e da vida íntima dos famosos levada a extremos.
O personagem de Julia Roberts, a atriz Anna Scott, é vítima de uma publicação sensacionalista que exibe fotos dela nua. Em um jantar com os familiares plebeus de Thacker (Grant), ela reclama por ter de fazer dieta, do assédio da imprensa, da intromissão dos fãs em sua vida.
Sua postura em todo o filme é a de querer ser uma mulher "normal", casar e ter filhos com um homem "normal".
Como a vida imita a arte (ou vice-versa), na mesma semana em que o filme estreou no Reino Unido, o tablóide "The Sun" trouxe fotos da futura princesa Sophie Rhys-Jones fazendo topless.
Uma semana antes, o capitão da seleção nacional de rúgbi foi afastado porque outro jornal sensacionalista o acusou de traficar drogas. Ambas publicações esgotaram em poucas horas das bancas londrinas.
Em breve, Woody Allen chegará às telas brasileiras com seu "Celebrity" (estréia prevista para setembro) que, obviamente de forma mais elegante e inteligente que "Notting Hill", irá abordar o mesmo tema: a vida íntima das celebridades como produto do mercado. (SC)

Texto Anterior: Cinema: Comédia bate cybermundo de "Matrix"
Próximo Texto: Notting Hill vira moda
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.