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CRÍTICA
Filme ironiza assédio a famosos
de Londres
Se fôssemos tomar "Notting
Hill" pelo que é, de uma forma
crua, chegaríamos a poucas e óbvias conclusões: trata-se de uma
comédia romântica cheia de piadas bobas, um final previsível e
diálogos fraquíssimos, que resultam apenas de sustos a partir da
confrontação de pessoas comuns
face aos famosos.
Também poderíamos dar um
desconto e dizer que vale a pena
ver o filme pois Hugh Grant está
muito bem no papel cômico do
macho atrapalhado, Julia Roberts
está bonita como sempre e, enfim,
pode-se passear um pouco pelos
jardins e ruas de Londres por meio
das imagens.
Além disso, há o personagem
alegórico do bobalhão Spike, que
representa a desesperança dos desclassificados da virada do milênio
e fornece as piadas mais interessantes de todo o enredo.
Mas "Notting Hill" pode ser visto
também pelo que não pretende ser.
E aí chegamos a uma realidade que
a Inglaterra, e de forma geral a cultura ocidental, enfrentou com
muita intensidade nestes anos 90,
agravada também pela morte da
princesa Diana: a da comercialização da imagem e da vida íntima
dos famosos levada a extremos.
O personagem de Julia Roberts, a
atriz Anna Scott, é vítima de uma
publicação sensacionalista que
exibe fotos dela nua. Em um jantar
com os familiares plebeus de Thacker (Grant), ela reclama por ter de
fazer dieta, do assédio da imprensa, da intromissão dos fãs em sua
vida.
Sua postura em todo o filme é a
de querer ser uma mulher "normal", casar e ter filhos com um homem "normal".
Como a vida imita a arte (ou vice-versa), na mesma semana em que o
filme estreou no Reino Unido, o tablóide "The Sun" trouxe fotos da
futura princesa Sophie Rhys-Jones
fazendo topless.
Uma semana antes, o capitão da
seleção nacional de rúgbi foi afastado porque outro jornal sensacionalista o acusou de traficar drogas.
Ambas publicações esgotaram em
poucas horas das bancas londrinas.
Em breve, Woody Allen chegará
às telas brasileiras com seu "Celebrity" (estréia prevista para setembro) que, obviamente de forma
mais elegante e inteligente que
"Notting Hill", irá abordar o mesmo tema: a vida íntima das celebridades como produto do mercado.
(SC)
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