São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2000


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"A MUSA"
Falta inspiração para filme de Albert Brooks

CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O primeiro erro de "A Musa" é pôr Sharon Stone no papel de inspiradora de roteiros cinematográficos "sérios". Com a famosa cruzada de pernas e o rosto incrível, inspiraria melhor pensamentos obscenos, sonhos calientes ou, no mínimo, roteiros do tipo "Instinto Selvagem".
Sharon Stone não cruza as pernas e nem é particularmente sexy neste filme. Para quem vai ao cinema ver esta "musa", ou melhor, diva, em ação, a economia de "close ups" é um desapontamento -tanto é assim que o cartaz é uma propaganda enganosa: ela não aparece em nenhuma cena do filme como está lá.
O segundo erro é fatal: quando Sharon aparece nua, por alguns segundos, está de costas e, tal qual a pobre modelo rica do MorumbiFashion, também tem celulite no bumbum, que horror!
Mas a atriz está engraçadinha, fez poucos papéis cômicos em sua carreira e se sai bem como a musa que desce do Olimpo para ajudar roteiristas e cineastas com a criatividade em baixa, como o Steven Phillips vivido por Albert Brooks, também diretor do filme.
A musa é uma menina mimada, que vive a expensas de gente que acredita em qualquer coisa para ter a inspiração de volta -até em uma mulher que diz ser uma das nove filhas de Zeus, as "musas" da mitologia grega que tantos artistas caçam durante a vida.
E aí está o melhor do filme: em participações especiais, diretores como Rob Reiner ("Harry e Sally"), Martin Scorsese ("Cassino") e James Cameron ("Titanic") são clientes desesperados -e fornecedores de jóias Tiffany's- da musa Sarah/Sharon. Com Cameron acontece uma das mais hilárias gags da história.
O excesso de "woodyallenismo" de Brooks incomoda -é o "Woody Allen da Costa Oeste"-, porque não só está a muitas milhas de Manhattan como da criatividade (e por que não dizer inspiração?) do criador de "Poderosa Afrodite". A ironia ao "Hollywood way of life", à estupidez dos produtores e agentes e à ditadura do que está vendendo no momento na indústria é o ponto alto do filme. O conjunto, porém, deixa a impressão de que não eram só os personagens que sofriam do problema de falta de inspiração.
Quando a musa incentiva a mulher do roteirista (Andie MacDowell) a abrir uma loja de biscoitos e, enfim, consegue resolver o vazio da cabeça do próprio, a gente pensa que a coisa vai ficar melhor. Que nada: subitamente o filme acaba, com uma anedota óbvia.
"A Musa" tem momentos engraçados, mas ainda que seja muito fã de Sharon Stone, você ainda pode esperar pelo vídeo ou pela TV a cabo.


A Musa
The Muse    Produção: EUA, 1999 Direção: Albert Brooks Com: Sharon Stone, Albert Brooks, Andie MacDowell, Martin Scorsese Quando: a partir de hoje nos cines Pátio Higienópolis 3, Vitrine e circuito




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