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"A MUSA"
Falta inspiração para filme de Albert Brooks
CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA
O primeiro erro de "A Musa" é pôr Sharon Stone no
papel de inspiradora de roteiros
cinematográficos "sérios". Com a
famosa cruzada de pernas e o rosto incrível, inspiraria melhor pensamentos obscenos, sonhos calientes ou, no mínimo, roteiros do
tipo "Instinto Selvagem".
Sharon Stone não cruza as pernas e nem é particularmente sexy
neste filme. Para quem vai ao cinema ver esta "musa", ou melhor,
diva, em ação, a economia de
"close ups" é um desapontamento -tanto é assim que o cartaz é
uma propaganda enganosa: ela
não aparece em nenhuma cena do
filme como está lá.
O segundo erro é fatal: quando
Sharon aparece nua, por alguns
segundos, está de costas e, tal qual
a pobre modelo rica do MorumbiFashion, também tem celulite
no bumbum, que horror!
Mas a atriz está engraçadinha,
fez poucos papéis cômicos em sua
carreira e se sai bem como a musa
que desce do Olimpo para ajudar
roteiristas e cineastas com a criatividade em baixa, como o Steven
Phillips vivido por Albert Brooks,
também diretor do filme.
A musa é uma menina mimada,
que vive a expensas de gente que
acredita em qualquer coisa para
ter a inspiração de volta -até em
uma mulher que diz ser uma das
nove filhas de Zeus, as "musas" da
mitologia grega que tantos artistas caçam durante a vida.
E aí está o melhor do filme: em
participações especiais, diretores
como Rob Reiner ("Harry e
Sally"), Martin Scorsese ("Cassino") e James Cameron ("Titanic") são clientes desesperados
-e fornecedores de jóias Tiffany's- da musa Sarah/Sharon.
Com Cameron acontece uma das
mais hilárias gags da história.
O excesso de "woodyallenismo"
de Brooks incomoda -é o
"Woody Allen da Costa Oeste"-,
porque não só está a muitas milhas de Manhattan como da criatividade (e por que não dizer inspiração?) do criador de "Poderosa
Afrodite". A ironia ao "Hollywood way of life", à estupidez dos
produtores e agentes e à ditadura
do que está vendendo no momento na indústria é o ponto alto
do filme. O conjunto, porém, deixa a impressão de que não eram
só os personagens que sofriam do
problema de falta de inspiração.
Quando a musa incentiva a mulher do roteirista (Andie MacDowell) a abrir uma loja de biscoitos
e, enfim, consegue resolver o vazio da cabeça do próprio, a gente
pensa que a coisa vai ficar melhor.
Que nada: subitamente o filme
acaba, com uma anedota óbvia.
"A Musa" tem momentos engraçados, mas ainda que seja
muito fã de Sharon Stone, você
ainda pode esperar pelo vídeo ou
pela TV a cabo.
A Musa
The Muse
Produção: EUA, 1999
Direção: Albert Brooks
Com: Sharon Stone, Albert Brooks, Andie
MacDowell, Martin Scorsese
Quando: a partir de hoje nos cines Pátio
Higienópolis 3, Vitrine e circuito
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