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TEATRO/CRÍTICA
"O Rei da Vela" vira teatro de revista hilário
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Rei da Vela" é um paradigma do teatro brasileiro. O texto foi
escrito em 1933, por Oswald de
Andrade, e a montagem realizada
em 1967, com o Teatro Oficina, foi
considerada pelo crítico teatral
Décio de Almeida Prado como o
"aqui e agora" do teatro nacional.
Desde então, poucos se atreveram a remontar o texto, tamanha
a força da encenação de José Celso
Martinez Corrêa.
A Cia. de Atores, com o diretor
Enrique Diaz à frente, enfrentou o
desafio. E saiu-se bem.
A estrutura anárquica do texto
de Oswald é perfeita para a versatilidade da companhia carioca,
que o transformou em um grande
teatro de revista. E ainda conseguiu atualizar o texto, sem fazer
grandes alterações em seu original. Isso porque, afinal, pouca coisa mudou no Brasil: o padre Marcelo está aí para mostrar a força
conservadora da Igreja Católica, e
Nicéa Pitta comprova que a corrupção continua desenfreada. Todos devidamente citados no espetáculo.
A peça, em três atos, conta a história de Abelardo 1 (Marcelo
Olinto), um agiota e fabricante de
velas que só se preocupa em ficar
rico. Ele conquista Heloísa de Lesbos (Drica Moraes), uma aristocrata decadente em busca de reconquistar sua posição.
Drica e Olinto têm uma atuação
brilhante, que é acompanhada
por todo o elenco. Especialmente
Gustavo Gasparini, que interpreta
a tia Poloca e transforma o segundo ato numa sequência de cenas
hilariantes. Além da ótima participação de Malu Galli, como Dona Cesarina.
O equilíbrio que Oswald criou
entre o lúdico e o didático, com
suas críticas aos intelectuais, à elite econômica e ao próprio teatro é
mantido na encenação.
O clima de paródia, já presente
no texto, é valorizado por vários
elementos cênicos, como o ótimo
figurino, criado pelo próprio protagonista, Marcelo Olinto, e a interpretação da companhia: debochada e exagerada.
O cenário criado por Gabriel Villela contribui para o ritmo de
chanchada que Diaz instituiu. E
esse ritmo é ainda mais valorizado pela luz de Maneco Quinderé.
Da profusão de elementos utilizados, há apenas um que acaba
não se encaixando bem. São os vídeos projetados em um telão. Em
vez de intensificarem a encenação, acabam por dispersar e tirar a
atenção do espectador.
Mas é um pequeno detalhe, em
uma montagem divertida, crítica,
que atualiza o texto de Oswald.
Não criou um novo paradigma
para o teatro brasileiro, mas, afinal, quem quer paradigmas hoje?
(FABIO CYPRIANO)
O Rei da Vela
Texto: Oswald de Andrade
Direção: Enrique Diaz
Com: Cia. dos Atores (Marcelo Olinto,
Drica Moraes e outros)
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às
20h. Até 24/9
Onde: Sala TBC (r. Major Diogo, 315, tel.
0/xx/11/3115-4622)
Quanto: R$ 20 e R$ 25 (sáb.)
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