São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO/CRÍTICA
"O Rei da Vela" vira teatro de revista hilário

DA REPORTAGEM LOCAL

"O Rei da Vela" é um paradigma do teatro brasileiro. O texto foi escrito em 1933, por Oswald de Andrade, e a montagem realizada em 1967, com o Teatro Oficina, foi considerada pelo crítico teatral Décio de Almeida Prado como o "aqui e agora" do teatro nacional.
Desde então, poucos se atreveram a remontar o texto, tamanha a força da encenação de José Celso Martinez Corrêa.
A Cia. de Atores, com o diretor Enrique Diaz à frente, enfrentou o desafio. E saiu-se bem.
A estrutura anárquica do texto de Oswald é perfeita para a versatilidade da companhia carioca, que o transformou em um grande teatro de revista. E ainda conseguiu atualizar o texto, sem fazer grandes alterações em seu original. Isso porque, afinal, pouca coisa mudou no Brasil: o padre Marcelo está aí para mostrar a força conservadora da Igreja Católica, e Nicéa Pitta comprova que a corrupção continua desenfreada. Todos devidamente citados no espetáculo.
A peça, em três atos, conta a história de Abelardo 1 (Marcelo Olinto), um agiota e fabricante de velas que só se preocupa em ficar rico. Ele conquista Heloísa de Lesbos (Drica Moraes), uma aristocrata decadente em busca de reconquistar sua posição.
Drica e Olinto têm uma atuação brilhante, que é acompanhada por todo o elenco. Especialmente Gustavo Gasparini, que interpreta a tia Poloca e transforma o segundo ato numa sequência de cenas hilariantes. Além da ótima participação de Malu Galli, como Dona Cesarina.
O equilíbrio que Oswald criou entre o lúdico e o didático, com suas críticas aos intelectuais, à elite econômica e ao próprio teatro é mantido na encenação.
O clima de paródia, já presente no texto, é valorizado por vários elementos cênicos, como o ótimo figurino, criado pelo próprio protagonista, Marcelo Olinto, e a interpretação da companhia: debochada e exagerada.
O cenário criado por Gabriel Villela contribui para o ritmo de chanchada que Diaz instituiu. E esse ritmo é ainda mais valorizado pela luz de Maneco Quinderé.
Da profusão de elementos utilizados, há apenas um que acaba não se encaixando bem. São os vídeos projetados em um telão. Em vez de intensificarem a encenação, acabam por dispersar e tirar a atenção do espectador.
Mas é um pequeno detalhe, em uma montagem divertida, crítica, que atualiza o texto de Oswald. Não criou um novo paradigma para o teatro brasileiro, mas, afinal, quem quer paradigmas hoje?
(FABIO CYPRIANO)


O Rei da Vela     Texto: Oswald de Andrade Direção: Enrique Diaz Com: Cia. dos Atores (Marcelo Olinto, Drica Moraes e outros) Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 24/9 Onde: Sala TBC (r. Major Diogo, 315, tel. 0/xx/11/3115-4622) Quanto: R$ 20 e R$ 25 (sáb.)




Texto Anterior: Artes Plásticas: Editor da "Visionaire" seleciona obras do Redescobrimento
Próximo Texto: Balé: Gulbenkian esbarra em estereótipos e tolices
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.