São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2000


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BALÉ
Gulbenkian esbarra em estereótipos e tolices

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A atual temporada do Ballet Gulbenkian no Brasil traz a mais importante companhia portuguesa em fase de renovação. No entanto, o programa escolhido peca pelo desequilíbrio. Ter a assinatura de Jiri Kylian em uma das coreografias sempre enobrece e confere atração a todo espetáculo. O problema foi fazer de "Stamping Ground" a peça de encerramento, frustrando expectativas de quem aguarda um grande final. Concebida a partir da convivência de Kylian com aborígenes australianos, "Stamping Ground" é obra referencial. Mas, para ser mais bem apreciada, exige do espectador uma visão de conjunto da carreira de Kylian.
Sob tal perspectiva, "Stamping Ground" soa como um exercício que permitiu ao coreógrafo somar novas possibilidades ao seu vocabulário. Quem conhece o que Kylian criou depois pode perceber quão fértil foi para ele conhecer particularidades das danças aborígenes, como os contramovimentos. Ao mesmo tempo, como todo ocidental que tenta se apoderar de elementos culturais típicos, Kylian não escapou das armadilhas, esbarrando na expressão primitiva estereotipada.
No mesmo programa, a tentativa de mostrar a dança contemporânea portuguesa por meio de um de seus pioneiros, Rui Horta, também resultou em uma escolha infeliz. "À Mesa em 15 Minutos" representa um lugar-comum da dança atual, na qual sobram conceitos interessantes que decepcionam na prática. Aparentemente original, a proposta de Horta de associar o preparo de comida a um processo de depuração acaba convergindo para a tolice. Como um tecido esgarçado, cujas tramas não se completam, a coreografia e os afazeres culinários, no fundo do palco, não aprofundam suas sintonias.
No conjunto, o destaque fica para a peça de abertura -"Nuti", de Meryl Tankard, que faz do requinte visual o seu principal atributo. Inspirada em figuras egípcias da antiguidade, ela obtém belos resultados graças a uma sofisticada projeção de slides, elaborada pelo fotógrafo Regis Lansac.
Em movimentos lentos, os bailarinos caminham de perfil pelo palco, lembrando procedimento semelhante lançado por Nijinsky, quando ele criou "Après-Midi d'un Faune", baseado nas pinturas de vasos gregos. Essa possível citação não tolhe a identidade estética de "Nuti", capaz de despertar um estado de contemplação.


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