São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2000


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Krajcberg celebra 80 anos com dois museus

Reprodução
Obra sem título de Krajcberg, exposta na Mostra do Redescobrimento, em SP



Obra do escultor, de cunho ecológico, ganha espaços em um centro cultural em Montparnasse, em Paris, e em Nova Viçosa, no sul da Bahia


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

No próximo ano o artista plástico Franz Krajcberg comemora seus 80 anos e já sabe quais presentes espera ganhar: um museu em Paris e outro na Bahia.
Não se trata apenas de um sonho impossível. Está em andamento o processo de doação de seu ateliê francês para a prefeitura de Paris (leia texto abaixo), que será transformado em museu Franz Krajcberg.
Segundo Sylvain Lecombre, chefe do Departamento de Artes Plásticas da Direção de Assuntos Culturais da Prefeitura de Paris, "o projeto está em andamento e possivelmente será aprovado", declarou à Folha.
É justo; afinal, segundo a professora e crítica de artes plásticas Stella Teixeira de Barros, "ele tornou-se conhecido primeiro na França, e só depois no Brasil".
Além do mais, foi lá que, em 1975, ao realizar uma grande exposição no Centro Georges Pompidou, passou a trabalhar a natureza não apenas como suporte para suas obras, mas também para utilizá-la como uma bandeira a ser defendida, o que ampliou ainda mais a repercussão de sua obra.
Assim, ironicamente, o primeiro museu parisiense dedicado a um artista brasileiro será para um oriundo da Polônia. "Eu nasci lá por acaso, estou aqui desde 1947 e, além de naturalizado por lei, me considero brasileiro de alma", disse por telefone de sua casa, em Nova Viçosa (sul da Bahia).
De qualquer forma, é como brasileiro que Krajcberg é conhecido, especialmente porque sua temática - a devastação das florestas brasileiras- é uma das razões que ajudam em seus prestígio internacional.
Krajcberg embarca para Paris em setembro, quando espera assinar a doação de seu ateliê, que possui há 43 anos, e receber outro espaço em troca. "Lá eu não trabalho mais, só vou para descansar a cabeça".
Além de um museu na França, já está sendo projetado outro pelo arquiteto Jaime Cupertino, desta vez em Nova Viçosa, onde Krajcberg vive e tem seu ateliê. As obras iniciais serão financiadas pelo próprio artista, que também já tem promessas de apoios de outras entidades.
"Estou aqui há 29 anos e esta é a última floresta que existe no sul da Bahia; com isso espero ajudar também na preservação", afirma. Esse museu deveria ter sido construído em Vitória, pelo governo do Estado, em 1993, mas a idéia não se concretizou.
Cupertino espera terminar o projeto até o fim deste mês. Será uma fundação, não apenas com as obras de Krajcberg, mas também com o acervo de sua coleção particular. Haverá uma sala "Krajcberg e amigos", com obras de Picasso, Paul Klee, Chagal, Bracque e Volpi. O arquiteto trabalha também na preparação do catálogo "raisonné", com a documentação completa da obra do artista. Até hoje, poucos são os brasileiros que possuem esse tipo de catálogo, entre eles Portinari e Volpi.
Aliás, nos anos 50, Krajcberg chegou a pintar azulejos junto com Volpi, em São Paulo, mas tem tristes memórias do período. "Foi uma fase de muitas dificuldades e, graças ao Lasar Segall, fui trabalhar com a família Klabin, no Paraná, e descobri a natureza."
Ele prepara, ainda para este ano, uma grande exposição com o tema ecológico, em Tóquio.
O que já é certo para a comemoração dos 80 anos do artista são duas grandes retrospectivas em 2001: uma em Paris e outra no Rio de Janeiro.
Segundo Krajcberg, estava prevista também sua participação na Expo 2000, em Hannover, na Alemanha. "Ligaram do Itamaraty para me convidar, mas no final esqueceram de mim", afirmou o artista, que chegou a falar em censura. Mas ele está conformado: "Acho que foi melhor. Com tanto escândalo, foi melhor não me envolverem". A Folha procurou a Embratur sobre o assunto, mas não obteve resposta.


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