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SEMANA DE MODA
New chic jovem do segundo dia esbarra na falta de grana
DA REDAÇÃO
A frente fria que chegou a
São Paulo na terça esfriou
também os ânimos do público
que foi conferir o segundo dia da
Semana de Moda. O programa, irregular, atrasou uma hora e meia
e terminou quase à meia-noite.
Em geral, dá para dizer que os
estilistas caíram na armadilha do
new chic, estilo que só dá para visitar com riqueza de materiais e
de acabamento. Sem muito dinheiro, fica pobrinho, baratinho e
velho. Melhor trabalhar com juventude e arrojo, já que a Semana
de Moda não é o MorumbiFashion e que seus participantes devem, sim, cruzar a fronteira do comercial e do previsível.
Marcelo Quadros avança nesse
aspecto, criando impacto com
suas decadentes e sensuais habitantes de hall de hotéis de luxo.
Foi um ótimo ponto de partida,
reforçado por excelente look de
cabelo desgrenhado, que emoldurou mesmo conjuntos simples como o blazer branco com bermuda
justa, ou os ótimos padrões ópticos em roxo sobre o branco, em
maiôs e na calça. Bons momentos
também: vestido de cetim branco
em frente-única e os vestidinhos
fluidos, cortados no viés. A cartela, moderna, trouxe vinho, laranja
e verde-esmeralda. Uma edição
mais enxuta valorizaria o desfile.
Bem, esse pode ser um comentário para todos os desfiles do dia.
Mareu Nitschke brincou de nobreza européia com sensualidade
brasileira, de modo miscigenado.
Conceitualmente ótimo, mas esbarramos aqui na questão do material. Os bons momentos ficaram
com a interseção entre os dois
mundos: o trabalho das anquinhas, de babados urbanos e usáveis; a regata como forro de um
corselet; as microssaias de chintz
fazendo a anágua; e as blusinhas
com babadinhos delicados.
Também a minissaia de palha
com blusa desfiada no mesmo
material se destaca, mas aí já estava empastelada pelo excesso de
looks, pela música arrastada e pelo casting desigual. A boa maquiagem remetia a mulatas/morenas
querendo ser brancas, pintando o
rosto de pó-de-arroz.
A Cavalera fez o desfile mais leve da noite, tentando orientar para o fashion sua tradição streetwear, ou pelo menos mostrar o
fashion, em coleção que entra
quase como uma segunda linha.
Em cores lavadas, em tons de laranja, morango, azul, verde-água,
casais em uniformes esportivos,
com saias vindas do tênis e regatas, do basquete, com short curtinho (mesmo para os homens),
passeavam na passarela. Até aí
nada de muito novo. As estampas
ficaram meio bobas, com inscrições de manuais de segurança.
Da primeira parte, destacam-se
a calça vermelha com recorte no
joelho e o bermudão verde-água
do cabeludo Álvaro. Uma entrada
com um punhado dos DJs da cidade, entre eles Marky, Mau Mau
e Renato Lopes, provou que a
roupa é real, numa boa sequência
para o lilás, seguida de calças e
tops em degradê colorido e divertido, mais o bom jeans já surrado.
Mas estava difícil ver alguma coisa na suavidade entediante das
modelos. Faltou energia à Cavalera. E não estava lembrando a V-Rom?
Jotta Sybbalena quis brincar de
Riquinho, debochando do new
chic e aludindo ao personagem
que marcou a infância do estilista
mineiro. Acerta nos acessórios, tipo Prada, com o cifrãozinho típico, que aparece também na boa
camisa vermelha com o silk em
"$". As malhas com o padrão de
fogo do estilista vêm chiques, em
tons suaves de bege e rosa.
Jeziel Moraes terminaria a noite,
numa espécie de retrocesso. A
idéia é boa, mas, mais uma vez, temos problemas. A inspiração da
coleção é o mundo dos playboys
da década de 60, mas a transcrição para 2000 não funcionou. Esbarrou nos tecidos, nas formas e
no casting. A silhueta justa não
agrada, deixando os rapazes gordinhos. Outros, magrelos, viraram nerds esquisitos e parecia
que a roupa tinha encolhido.
(EP)
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