São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2000


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SEMANA DE MODA
New chic jovem do segundo dia esbarra na falta de grana

DA REDAÇÃO

A frente fria que chegou a São Paulo na terça esfriou também os ânimos do público que foi conferir o segundo dia da Semana de Moda. O programa, irregular, atrasou uma hora e meia e terminou quase à meia-noite.
Em geral, dá para dizer que os estilistas caíram na armadilha do new chic, estilo que só dá para visitar com riqueza de materiais e de acabamento. Sem muito dinheiro, fica pobrinho, baratinho e velho. Melhor trabalhar com juventude e arrojo, já que a Semana de Moda não é o MorumbiFashion e que seus participantes devem, sim, cruzar a fronteira do comercial e do previsível.
Marcelo Quadros avança nesse aspecto, criando impacto com suas decadentes e sensuais habitantes de hall de hotéis de luxo.
Foi um ótimo ponto de partida, reforçado por excelente look de cabelo desgrenhado, que emoldurou mesmo conjuntos simples como o blazer branco com bermuda justa, ou os ótimos padrões ópticos em roxo sobre o branco, em maiôs e na calça. Bons momentos também: vestido de cetim branco em frente-única e os vestidinhos fluidos, cortados no viés. A cartela, moderna, trouxe vinho, laranja e verde-esmeralda. Uma edição mais enxuta valorizaria o desfile. Bem, esse pode ser um comentário para todos os desfiles do dia.
Mareu Nitschke brincou de nobreza européia com sensualidade brasileira, de modo miscigenado. Conceitualmente ótimo, mas esbarramos aqui na questão do material. Os bons momentos ficaram com a interseção entre os dois mundos: o trabalho das anquinhas, de babados urbanos e usáveis; a regata como forro de um corselet; as microssaias de chintz fazendo a anágua; e as blusinhas com babadinhos delicados.
Também a minissaia de palha com blusa desfiada no mesmo material se destaca, mas aí já estava empastelada pelo excesso de looks, pela música arrastada e pelo casting desigual. A boa maquiagem remetia a mulatas/morenas querendo ser brancas, pintando o rosto de pó-de-arroz.
A Cavalera fez o desfile mais leve da noite, tentando orientar para o fashion sua tradição streetwear, ou pelo menos mostrar o fashion, em coleção que entra quase como uma segunda linha.
Em cores lavadas, em tons de laranja, morango, azul, verde-água, casais em uniformes esportivos, com saias vindas do tênis e regatas, do basquete, com short curtinho (mesmo para os homens), passeavam na passarela. Até aí nada de muito novo. As estampas ficaram meio bobas, com inscrições de manuais de segurança.
Da primeira parte, destacam-se a calça vermelha com recorte no joelho e o bermudão verde-água do cabeludo Álvaro. Uma entrada com um punhado dos DJs da cidade, entre eles Marky, Mau Mau e Renato Lopes, provou que a roupa é real, numa boa sequência para o lilás, seguida de calças e tops em degradê colorido e divertido, mais o bom jeans já surrado. Mas estava difícil ver alguma coisa na suavidade entediante das modelos. Faltou energia à Cavalera. E não estava lembrando a V-Rom?
Jotta Sybbalena quis brincar de Riquinho, debochando do new chic e aludindo ao personagem que marcou a infância do estilista mineiro. Acerta nos acessórios, tipo Prada, com o cifrãozinho típico, que aparece também na boa camisa vermelha com o silk em "$". As malhas com o padrão de fogo do estilista vêm chiques, em tons suaves de bege e rosa.
Jeziel Moraes terminaria a noite, numa espécie de retrocesso. A idéia é boa, mas, mais uma vez, temos problemas. A inspiração da coleção é o mundo dos playboys da década de 60, mas a transcrição para 2000 não funcionou. Esbarrou nos tecidos, nas formas e no casting. A silhueta justa não agrada, deixando os rapazes gordinhos. Outros, magrelos, viraram nerds esquisitos e parecia que a roupa tinha encolhido.
(EP)


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