São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em novo CD, Prodigy volta requentado

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Demorou sete anos para ficar pronto e menos de dois meses para cair na internet. Mas, pelo resultado do álbum, parece que foi o contrário.
"Always Outnumbered, Never Outgunned", o quarto e mais recente disco do Prodigy, já pode ser ouvido por inteiro na rede. O lançamento oficial é em 23 de agosto, na Europa. A gravadora Sum Records promete a versão brasileira para a mesma data.
Mesmo após todo esse tempo, qualquer coisa que envolva o Prodigy é evento que chama a atenção. Se a música eletrônica chegou aonde chegou, se um DJ consegue hoje levar quase 200 mil pessoas a uma praia do Rio de Janeiro, grande parte disso é responsabilidade desta banda e de "The Fat of the Land".
Parido em 1997, o disco trazia (muitas) batidas de tecno, de rap e de dub embaralhadas com (muitas) guitarras e arranjos roqueiros. O resultado foi uma música pesada e enérgica, boa para ser tocada em ambientes grandes, para muita gente. "Breathe", "Firestarter", "Mindfields", "Funky Shit" e "Smack My Bitch Up" foram tocadas por todo o mundo, em todos os lugares.
Não era nada muito novo, mas, naquele 1997, ano de "Homework", do Daft Punk, e de "Dig Your Own Hole", dos Chemical Brothers, estava em sintonia com a modernidade da época e apontava alguns caminhos.
A diferença é que, enquanto os outros concorrentes seguiram a estrada (os C. Brothers lançaram dois discos nesse tempo; o Daft Punk, um), o Prodigy estagnou. E "AONO" mostra bem isso.
Em sete anos, Liam Howlett, programador e cérebro do grupo, casou com Natalie Appleton (do extinto grupo All Saints) e colocou no mercado um disco de remixes, "The Dirtchamber Sessions, Vol. 1", em 1999. O dançarino Leeroy Thornhill caiu fora. Os vocalistas Keith Flint e Maxim Reality pouco fizeram além de participarem de desfiles de moda.
Uma idéia de como seria o quarto disco do Prodigy veio em 2002, com o single "Baby's Got a Temper". A música, que não foi incluída em "AONO", rendeu mais assunto por fazer referências a uma droga utilizada após casos de estupros do que por qualquer qualidade "musical" que tivesse.
Entre 1997 e 2004 muita coisa aconteceu na música pop/eletrônica (The Streets, Audio Bullys, Fatboy Slim virou superstar...) e um disco do Prodigy faria sentido se trouxesse algo além, diferente do que o grupo já fez, que saísse da mesmice. O que não é o caso de "Always Outnumbered...".
O primeiro single a sair do disco, "Girlz", é até bem interessante. Começa com referências a Bomb the Bass, depois entram batidas graves. Vira um electrofunk.
Outra boa é "Hotride", esta com os vocais da "Assassina por Natureza" Juliette Lewis. Não que Juliette seja grande cantora, mas ela dá personalidade à faixa, que tem som pesado, com batidas gordas. É bem industrial, mas com um lado pop. Já "The Way It" e "Memphis Bells" são bastante eletrônicas, que remetem aos dois primeiros álbuns do Prodigy, "Experience" (1992) e "Music for the Jilted Generation" (1995).
O resto parece um cozidão de sobra de "The Fat of the Land". Um monte de músicas com "inclinação roqueira", pesadas. "Spitfire", que abre o disco, parece Marilyn Manson. Só que sem a maquiagem. "Get Up Get Off" lembra "Breathe" (só que "Breathe" saiu há sete anos...). "Action Radar" é bem electro, com um vocal sujo. Ou seja, está pelo menos uns dois anos fora de tempo. "Wake Up Call" remete a "Get Up Get Off", que por sua vez remete a "Spitfire"...
Já "Shootdown", que fecha "AONO", tem Liam Gallagher nos vocais. Por mais que o vocalista do Oasis dê algum charme à canção, a faixa é apenas pesada, com ele gritando. Não tem groove nem melodia decente. É chata.
Neste tão aguardado disco, o Prodigy chega requentado. Não que o disco precisasse trazer coisas totalmente novas, mas é que soa apenas retrô, e retrô em dance music não funciona.
Neste 2004, não é o Prodigy que mostra os caminhos da eletrônica. São bandas e produtores como Whitey, Alter Ego, Black Strobe...


Texto Anterior: De volta à realeza
Próximo Texto: Panorâmica - Ilustrada: Chorão pede desculpas, mas cantor do Los Hermanos mantém intenção de processá-lo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.