|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em novo CD, Prodigy volta requentado
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Demorou sete anos para ficar
pronto e menos de dois meses para cair na internet. Mas, pelo resultado do álbum, parece que foi o
contrário.
"Always Outnumbered, Never
Outgunned", o quarto e mais recente disco do Prodigy, já pode
ser ouvido por inteiro na rede. O
lançamento oficial é em 23 de
agosto, na Europa. A gravadora
Sum Records promete a versão
brasileira para a mesma data.
Mesmo após todo esse tempo,
qualquer coisa que envolva o Prodigy é evento que chama a atenção. Se a música eletrônica chegou aonde chegou, se um DJ consegue hoje levar quase 200 mil
pessoas a uma praia do Rio de Janeiro, grande parte disso é responsabilidade desta banda e de
"The Fat of the Land".
Parido em 1997, o disco trazia
(muitas) batidas de tecno, de rap e
de dub embaralhadas com (muitas) guitarras e arranjos roqueiros. O resultado foi uma música
pesada e enérgica, boa para ser tocada em ambientes grandes, para
muita gente. "Breathe", "Firestarter", "Mindfields", "Funky Shit" e
"Smack My Bitch Up" foram tocadas por todo o mundo, em todos os lugares.
Não era nada muito novo, mas,
naquele 1997, ano de "Homework", do Daft Punk, e de "Dig
Your Own Hole", dos Chemical
Brothers, estava em sintonia com
a modernidade da época e apontava alguns caminhos.
A diferença é que, enquanto os
outros concorrentes seguiram a
estrada (os C. Brothers lançaram
dois discos nesse tempo; o Daft
Punk, um), o Prodigy estagnou. E
"AONO" mostra bem isso.
Em sete anos, Liam Howlett,
programador e cérebro do grupo,
casou com Natalie Appleton (do
extinto grupo All Saints) e colocou no mercado um disco de remixes, "The Dirtchamber Sessions, Vol. 1", em 1999. O dançarino Leeroy Thornhill caiu fora. Os
vocalistas Keith Flint e Maxim
Reality pouco fizeram além de
participarem de desfiles de moda.
Uma idéia de como seria o
quarto disco do Prodigy veio em
2002, com o single "Baby's Got a
Temper". A música, que não foi
incluída em "AONO", rendeu
mais assunto por fazer referências
a uma droga utilizada após casos
de estupros do que por qualquer
qualidade "musical" que tivesse.
Entre 1997 e 2004 muita coisa
aconteceu na música pop/eletrônica (The Streets, Audio Bullys,
Fatboy Slim virou superstar...) e
um disco do Prodigy faria sentido
se trouxesse algo além, diferente
do que o grupo já fez, que saísse
da mesmice. O que não é o caso de
"Always Outnumbered...".
O primeiro single a sair do disco, "Girlz", é até bem interessante.
Começa com referências a Bomb
the Bass, depois entram batidas
graves. Vira um electrofunk.
Outra boa é "Hotride", esta com
os vocais da "Assassina por Natureza" Juliette Lewis. Não que Juliette seja grande cantora, mas ela
dá personalidade à faixa, que tem
som pesado, com batidas gordas.
É bem industrial, mas com um lado pop. Já "The Way It" e "Memphis Bells" são bastante eletrônicas, que remetem aos dois primeiros álbuns do Prodigy, "Experience" (1992) e "Music for the Jilted
Generation" (1995).
O resto parece um cozidão de
sobra de "The Fat of the Land".
Um monte de músicas com "inclinação roqueira", pesadas.
"Spitfire", que abre o disco, parece Marilyn Manson. Só que sem a
maquiagem. "Get Up Get Off"
lembra "Breathe" (só que "Breathe" saiu há sete anos...). "Action
Radar" é bem electro, com um vocal sujo. Ou seja, está pelo menos
uns dois anos fora de tempo.
"Wake Up Call" remete a "Get Up
Get Off", que por sua vez remete a
"Spitfire"...
Já "Shootdown", que fecha
"AONO", tem Liam Gallagher
nos vocais. Por mais que o vocalista do Oasis dê algum charme à
canção, a faixa é apenas pesada,
com ele gritando. Não tem groove
nem melodia decente. É chata.
Neste tão aguardado disco, o
Prodigy chega requentado. Não
que o disco precisasse trazer coisas totalmente novas, mas é que
soa apenas retrô, e retrô em dance
music não funciona.
Neste 2004, não é o Prodigy que
mostra os caminhos da eletrônica. São bandas e produtores como
Whitey, Alter Ego, Black Strobe...
Texto Anterior: De volta à realeza Próximo Texto: Panorâmica - Ilustrada: Chorão pede desculpas, mas cantor do Los Hermanos mantém intenção de processá-lo Índice
|