|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Dirigida por Monique Gardenberg, montagem
brasileira chega amanhã ao Sesc Belenzinho, em São Paulo
"Baque" expõe os erros e a desumanidade do mundo de Neil LaBute
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um executivo, um jovem casal
de universitários e uma jovem seduzida por seu professor. Nem
bons nem ruins, apenas humanos,
e, portanto, predispostos à desumanidade. É este o espelho que o
cineasta e dramaturgo norte-americano Neil LaBute descortina aos
poucos em "Baque".
A primeira versão brasileira da
peça, dirigida por Monique Gardenberg, estréia amanhã no Sesc
Belenzinho, em São Paulo, após
passar pelo Rio de Janeiro e pelo
Festival de Teatro de Curitiba.
Em três monólogos, encenados
por Deborah Evelyn, Emílio de
Mello e Carlos Evelyn, LaBute critica a sociedade moderna, a homofobia e a própria existência, tomando o cuidado de, antes de tirar
as máscaras dos personagens, fazer com que a platéia crie empatia
com eles.
"O LaBute manipula o texto o
tempo inteiro e conduz o público a
se identificar, para depois trair",
diz Monique Gardenberg. "Mas o
lindo é que ele coloca sempre esses
atos desumanos em nome do nosso lado humano. Por sermos humanos, somos frágeis, passíveis de
erros."
Inédito no Brasil, o texto de LaBute chamou a atenção dos irmãos Carlos e Deborah Evelyn,
que assistiram a uma montagem
em Berlim, em 2002. "[Foi] totalmente por acaso. Não estávamos
procurando um texto. Estávamos
numa viagem familiar, vendo várias peças. E, entre várias, vimos
Neil LaBute", conta Deborah.
A primeira reação de Gardenberg diante do convite para dirigir
"Baque" foi de susto. "Eram três
monólogos, um deles era "Medéia". Eu tinha acabado de ter o seguinte pensamento: "Nossa, não
sei como a Bia Lessa dirige "Medéia". Só que o texto do LaBute é
um texto filosófico, que me atraiu
profundamente", conta.
Esta não é a primeira vez que a
diretora, com trabalhos no teatro e
no cinema ("Benjamim"), monta
o texto de um dramaturgo-cineasta. "Os Sete Afluentes do Rio Ota"
era de Robert Lepage.
Linguagem cinematográfica
A narrativa visual e a metralhadora de palavras usadas pelo dramaturgo arrebataram a diretora.
"Ele tem uma escrita que evoca
as imagens, você consegue imaginar perfeitamente as situações
descritas. Só um cineasta teria a
capacidade de escrever tão visualmente os acontecimentos", diz.
Encenar "monólogos verborrágicos" não é o único desafio de
Gardenberg neste espetáculo. Enquanto "Os Sete Afluentes..."
apoiava-se no trabalho de 15 atores, em uma cenografia dinâmica e
multimídia, a direção de "Baque"
baseia-se no trabalho dos atores.
"O [cineasta] Domingos Oliveira me deu um conselho totalmente errado. Ele falou assim: "Ai, monólogo é a melhor coisa. Você só
vai ter que se dedicar a um ator".
Eu achei muito pior, justamente
porque você só tem um ator e é só
ele. E três vezes! O trabalho é dilacerante."
Em "Ephigênia in Orem", um
executivo (Emílio de Mello) vai,
aos poucos, tentando manipular a
platéia para, no final, tentar se redimir de seu ato impiedoso. No segundo ato, "Um Bando de Santos", um casal (Carlos e Deborah
Evelyn) rememora fatos de um
fim de semana inesquecível no
Rio, cada um a seu modo. Em
"Medeia Redux", uma jovem conta como foi seduzida, aos 13 anos,
por seu professor.
"Embora tenha sido o que eu tive mais relutância no início, porque era um texto que propunha
uma barganha, "Ephigênia" é o
mais brilhante do ponto de vista
da escrita. Cada palavra, vírgula e
ponto é matematicamente calculado. O segundo é uma obra-prima, uma nova possibilidade teatral. O terceiro me pegou pelo coração e pelas vísceras. É um texto
filosófico, uma reflexão sobre a
existência", analisa a diretora.
O ator Emílio de Mello defende a
função primordial do teatro, o fazer pensar, e dispara: "O Neil LaBute coloca um espelho na frente
da platéia e mostra para ela como
ela é. Tem gente, por exemplo, que
diz: "O que é que eu estou fazendo
aqui dentro?". E sai".
Baque
Quando: sex. a dom., às 21h; de 15/7 a
14/8
Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro
Ramos, 915, SP, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 15
Texto Anterior: Crítica: "Ensaio.Hamlet" vê a perfeição do erro Próximo Texto: Saiba mais: Diretor faz crítica ao lado cruel do homem Índice
|