São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

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TEATRO

Dirigida por Monique Gardenberg, montagem brasileira chega amanhã ao Sesc Belenzinho, em São Paulo

"Baque" expõe os erros e a desumanidade do mundo de Neil LaBute

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um executivo, um jovem casal de universitários e uma jovem seduzida por seu professor. Nem bons nem ruins, apenas humanos, e, portanto, predispostos à desumanidade. É este o espelho que o cineasta e dramaturgo norte-americano Neil LaBute descortina aos poucos em "Baque".
A primeira versão brasileira da peça, dirigida por Monique Gardenberg, estréia amanhã no Sesc Belenzinho, em São Paulo, após passar pelo Rio de Janeiro e pelo Festival de Teatro de Curitiba.
Em três monólogos, encenados por Deborah Evelyn, Emílio de Mello e Carlos Evelyn, LaBute critica a sociedade moderna, a homofobia e a própria existência, tomando o cuidado de, antes de tirar as máscaras dos personagens, fazer com que a platéia crie empatia com eles.
"O LaBute manipula o texto o tempo inteiro e conduz o público a se identificar, para depois trair", diz Monique Gardenberg. "Mas o lindo é que ele coloca sempre esses atos desumanos em nome do nosso lado humano. Por sermos humanos, somos frágeis, passíveis de erros."
Inédito no Brasil, o texto de LaBute chamou a atenção dos irmãos Carlos e Deborah Evelyn, que assistiram a uma montagem em Berlim, em 2002. "[Foi] totalmente por acaso. Não estávamos procurando um texto. Estávamos numa viagem familiar, vendo várias peças. E, entre várias, vimos Neil LaBute", conta Deborah.
A primeira reação de Gardenberg diante do convite para dirigir "Baque" foi de susto. "Eram três monólogos, um deles era "Medéia". Eu tinha acabado de ter o seguinte pensamento: "Nossa, não sei como a Bia Lessa dirige "Medéia". Só que o texto do LaBute é um texto filosófico, que me atraiu profundamente", conta.
Esta não é a primeira vez que a diretora, com trabalhos no teatro e no cinema ("Benjamim"), monta o texto de um dramaturgo-cineasta. "Os Sete Afluentes do Rio Ota" era de Robert Lepage.

Linguagem cinematográfica
A narrativa visual e a metralhadora de palavras usadas pelo dramaturgo arrebataram a diretora.
"Ele tem uma escrita que evoca as imagens, você consegue imaginar perfeitamente as situações descritas. Só um cineasta teria a capacidade de escrever tão visualmente os acontecimentos", diz.
Encenar "monólogos verborrágicos" não é o único desafio de Gardenberg neste espetáculo. Enquanto "Os Sete Afluentes..." apoiava-se no trabalho de 15 atores, em uma cenografia dinâmica e multimídia, a direção de "Baque" baseia-se no trabalho dos atores.
"O [cineasta] Domingos Oliveira me deu um conselho totalmente errado. Ele falou assim: "Ai, monólogo é a melhor coisa. Você só vai ter que se dedicar a um ator". Eu achei muito pior, justamente porque você só tem um ator e é só ele. E três vezes! O trabalho é dilacerante."
Em "Ephigênia in Orem", um executivo (Emílio de Mello) vai, aos poucos, tentando manipular a platéia para, no final, tentar se redimir de seu ato impiedoso. No segundo ato, "Um Bando de Santos", um casal (Carlos e Deborah Evelyn) rememora fatos de um fim de semana inesquecível no Rio, cada um a seu modo. Em "Medeia Redux", uma jovem conta como foi seduzida, aos 13 anos, por seu professor.
"Embora tenha sido o que eu tive mais relutância no início, porque era um texto que propunha uma barganha, "Ephigênia" é o mais brilhante do ponto de vista da escrita. Cada palavra, vírgula e ponto é matematicamente calculado. O segundo é uma obra-prima, uma nova possibilidade teatral. O terceiro me pegou pelo coração e pelas vísceras. É um texto filosófico, uma reflexão sobre a existência", analisa a diretora.
O ator Emílio de Mello defende a função primordial do teatro, o fazer pensar, e dispara: "O Neil LaBute coloca um espelho na frente da platéia e mostra para ela como ela é. Tem gente, por exemplo, que diz: "O que é que eu estou fazendo aqui dentro?". E sai".


Baque
Quando:
sex. a dom., às 21h; de 15/7 a 14/8
Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 915, SP, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 15


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