São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2001
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Evaldo Cabral de Mello visita feridas abertas do Brasil
SYLVIA COLOMBO EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA No começo, chamava-se Nova Lusitânia, e os primeiros colonos a aportar no século 16 sonhavam em construir ali um prolongamento de Portugal. De Nova Lusitânia a Pernambuco, muita coisa mudaria. A capitania que, a princípio, fora fiel à metrópole, se transformaria, ao longo dos séculos, em verdadeiro pomo de discórdia da ordem colonial e de parte do período pós-Independência. Em "A Ferida de Narciso - Ensaio de História Regional", o historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello, que escreve mensalmente no Mais!, investiga as razões pelas quais a região assumiu postura combativa em vários momentos de sua história, em relação à dominação holandesa (no século 17), na Guerra dos Mascates (no século 18) e, por fim, no processo que se iniciou na revolução de 1817 e terminou na Confederação do Equador (1824). Tudo começa quando o primeiro donatário de Pernambuco, Duarte Coelho, importa da Ilha da Madeira o modelo dos engenhos de açúcar. Para o historiador, Coelho desconfiava de que o sistema -implementado na ilha com características urbanas e mais democráticas-, ao se espalhar por uma grande área, como eram as terras de Pernambuco, poderia causar danos gravíssimos a outras culturas. Cabral de Mello apresenta o processo e suas consequências políticas e sociais. "Ao conjunto importado da Madeira, a única adição importante feita no Brasil foi a da senzala." A partir daí, o livro resume a história de Pernambuco, mas foca em especial o momento em que o nativismo toma força na região. Isso teria acontecido depois da expulsão dos holandeses, em 1654. Cabral de Mello explica que o fato de Pernambuco ter até então se considerado um prolongamento de Portugal fez com que se criasse uma expectativa de que, depois de expulsos os holandeses, a província recebesse um tratamento especial da metrópole. Como isso não aconteceu, o nativismo teria tomado força e estaria na base dos movimentos revolucionários vindouros. O historiador não concorda com a "acusação" de separatismo quando se fala dos movimentos revolucionários de 1817 e 1824. Acredita que esse conceito não cabia numa época em que o Brasil não se encontrava ainda estabelecido, senão formalmente. Para ele, o objetivo dos movimentos era o de instaurar um Estado de direito descentralizado, garantindo autonomia ao Nordeste. Também chega às livrarias "Frei Joaquim do Amor Divino Caneca", coletânea de textos políticos do revolucionário pernambucano organizada pelo historiador. O livro será lançado nesta quinta-feira, às 19h30, na livraria Argumento (r. Dias Ferreira, 417, Leblon, Rio, tel. 0/xx/21/ 2259-9398). Na introdução ao volume, Cabral de Mello não poupa críticas à historiografia fluminense construída a partir da Independência para justificar o Estado unitário que se formava. Essa historiografia conservadora, que ele chama de tradição "saquarema", teria contribuído para ofuscar projetos políticos para o Brasil surgidos naquela época no Nordeste. O volume traz as obras políticas de Frei Caneca, que, com as literárias, constavam de uma edição de 1875, feita em Pernambuco. Integram a seleção, entre outros, o "Typhis Pernambucano", periódico editado por ele nos anos da Confederação do Equador, e o "Itinerário", um diário da retirada das tropas rebeldes. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Pesquisador ainda vê "vícios" na história do país Índice |
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