|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FESTIVAL DE GRAMADO
"Vento Norte", de Salomão Scliar, chega em VHS e com livro; coletânea de Hélio Nascimento é publicada
Lançamentos celebram produção gaúcha
AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Um duplo lançamento celebra
hoje em Gramado a cultura cinematográfica gaúcha. A coleção de
vídeos "Cinemateca RS", inaugurada no ano passado com o delicioso clássico longa em super-8
"Deu pra Ti, Anos 70", de Giba
Assis Brasil e Nélson Nadotti, recupera outro capítulo desconhecido da história do cinema brasileiro: "Vento Norte" (1951), de Salomão Scliar.
Uma tese de mestrado na ECA-USP de Glênio Nicola Póvoas põe
o filme de novo em circulação,
mais de meio século depois de seu
lançamento. "Descobri "Vento
Norte" numa sessão especial em
1985 em Porto Alegre, onde não
era projetado desde a estréia em
1951", disse Póvoas à Folha num
encontro no último fim de semana na capital gaúcha.
Salomão Scliar (1925-1991) migrou do fotojornalismo para o cinema. Seu crédito no filme é de
"produção, direção e fotografia",
nessa ordem. "Vento Norte" foi
seu único longa ficcional. É pela
primeira vez lançado em VHS
num esforço conjunto da Cinemateca Brasileira e da coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal de
Cultura de Porto Alegre.
Uma bela caixa traz a fita e a edição em livro da dissertação de Póvoas, "Vento Norte: História e
Análise do Filme de Salomão
Scliar". "Vento Norte" é um melodrama pesadão, passado numa
comunidade de pescadores da
praia de Torres. O enredo acompanha o tradicional choque provocado pela chegada de um estranho, interpretado por Roberto
Bataglin.
Póvoas acerta na mosca ao destacar dois aspectos do filme. Em
primeiro lugar, ainda impressiona o apuro plástico de suas composições em preto-e-branco, que
remetem aos inacabados "Que
Viva México", de Eisenstein, e "É
Tudo Verdade", de Orson Welles.
Póvoas mata a charada ao lembrar a relação entre Scliar e George Fanto, o fotógrafo húngaro que
colaborou com Welles no Brasil e
em "Othello".
O pesquisador gaúcho insere
"Vento Norte" como pioneiro no
contexto da moderna produção
independente brasileira. Sua filmagem em locações, com equipe
pequena e intérpretes majoritariamente amadores, precede a
dos marcos tradicionais, "Agulha
no Palheiro" (1952), de Alex
Viany, e "Rio 40 Graus" (1955), de
Nelson Pereira dos Santos. Póvoas é particularmente feliz em
matizar a apregoada influência
neo-realista em Scliar.
A série "Escritos de Cinema",
por sua vez, chega ao sétimo volume com a coletânea de resenhas
de Hélio Nascimento, "O Reino
da Imagem". Críticas publicadas
desde os anos 60 no "Jornal do
Comércio" são reorganizadas em
torno de 64 diretores, numa espécie de dicionário dos cineastas do
peito de Nascimento, de Woody
Allen a Valerio Zurlini.
Entre os brasileiros, destacam-se comentários, em geral no calor
das estréias, de obras de Babenco,
Back, Bruno Barreto, Diegues,
Roberto Farias, Jabor, Khouri,
Person, Glauber e Nelson Pereira
dos Santos. Tudo somado, é outra
impressionante demonstração de
força da crítica gaúcha.
VENTO NORTE: HISTÓRIA E ANÁLISE
DE UM FILME. Caixa com VHS do longa
de Salomão Scliar e livro de Glênio
Póvoas (195 págs.). Quanto: R$ 15.
O REINO DA IMAGEM. Autor: Hélio
Nascimento. Quanto: R$ 30 (495 págs.).
Lançamentos da Coordenação de
Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria
Municipal de Cultura de Porto Alegre
(RS). Pedidos e informações pelo tel. 0/
xx/51/3212-5928.
Texto Anterior: Outra Frequência: A fantástica fábrica de jingles políticos Próximo Texto: Mostra dá Kikito a antigos vencedores Índice
|