São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FESTIVAL DE GRAMADO

"Vento Norte", de Salomão Scliar, chega em VHS e com livro; coletânea de Hélio Nascimento é publicada

Lançamentos celebram produção gaúcha

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Um duplo lançamento celebra hoje em Gramado a cultura cinematográfica gaúcha. A coleção de vídeos "Cinemateca RS", inaugurada no ano passado com o delicioso clássico longa em super-8 "Deu pra Ti, Anos 70", de Giba Assis Brasil e Nélson Nadotti, recupera outro capítulo desconhecido da história do cinema brasileiro: "Vento Norte" (1951), de Salomão Scliar.
Uma tese de mestrado na ECA-USP de Glênio Nicola Póvoas põe o filme de novo em circulação, mais de meio século depois de seu lançamento. "Descobri "Vento Norte" numa sessão especial em 1985 em Porto Alegre, onde não era projetado desde a estréia em 1951", disse Póvoas à Folha num encontro no último fim de semana na capital gaúcha.
Salomão Scliar (1925-1991) migrou do fotojornalismo para o cinema. Seu crédito no filme é de "produção, direção e fotografia", nessa ordem. "Vento Norte" foi seu único longa ficcional. É pela primeira vez lançado em VHS num esforço conjunto da Cinemateca Brasileira e da coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre.
Uma bela caixa traz a fita e a edição em livro da dissertação de Póvoas, "Vento Norte: História e Análise do Filme de Salomão Scliar". "Vento Norte" é um melodrama pesadão, passado numa comunidade de pescadores da praia de Torres. O enredo acompanha o tradicional choque provocado pela chegada de um estranho, interpretado por Roberto Bataglin.
Póvoas acerta na mosca ao destacar dois aspectos do filme. Em primeiro lugar, ainda impressiona o apuro plástico de suas composições em preto-e-branco, que remetem aos inacabados "Que Viva México", de Eisenstein, e "É Tudo Verdade", de Orson Welles. Póvoas mata a charada ao lembrar a relação entre Scliar e George Fanto, o fotógrafo húngaro que colaborou com Welles no Brasil e em "Othello".
O pesquisador gaúcho insere "Vento Norte" como pioneiro no contexto da moderna produção independente brasileira. Sua filmagem em locações, com equipe pequena e intérpretes majoritariamente amadores, precede a dos marcos tradicionais, "Agulha no Palheiro" (1952), de Alex Viany, e "Rio 40 Graus" (1955), de Nelson Pereira dos Santos. Póvoas é particularmente feliz em matizar a apregoada influência neo-realista em Scliar.
A série "Escritos de Cinema", por sua vez, chega ao sétimo volume com a coletânea de resenhas de Hélio Nascimento, "O Reino da Imagem". Críticas publicadas desde os anos 60 no "Jornal do Comércio" são reorganizadas em torno de 64 diretores, numa espécie de dicionário dos cineastas do peito de Nascimento, de Woody Allen a Valerio Zurlini.
Entre os brasileiros, destacam-se comentários, em geral no calor das estréias, de obras de Babenco, Back, Bruno Barreto, Diegues, Roberto Farias, Jabor, Khouri, Person, Glauber e Nelson Pereira dos Santos. Tudo somado, é outra impressionante demonstração de força da crítica gaúcha.


VENTO NORTE: HISTÓRIA E ANÁLISE DE UM FILME. Caixa com VHS do longa de Salomão Scliar e livro de Glênio Póvoas (195 págs.). Quanto: R$ 15.


O REINO DA IMAGEM. Autor: Hélio Nascimento. Quanto: R$ 30 (495 págs.). Lançamentos da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre (RS). Pedidos e informações pelo tel. 0/ xx/51/3212-5928.



Texto Anterior: Outra Frequência: A fantástica fábrica de jingles políticos
Próximo Texto: Mostra dá Kikito a antigos vencedores
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.