São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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ANÁLISE

'Em Busca de Tadzio': os anos proustianos

CRÍTICO DA FOLHA

Se, num primeiro momento, o herói viscontiano encontra-se enraizado num contexto social e histórico que o define para além da escolha individual -"Rocco e Seus Irmãos", seu "Irmãos Karamazov", é a obra-prima dessa fase-, num segundo, tomando cada vez mais a forma de seu autor, aristocrata, homossexual e desencantado, ele se desvencilha das contingências coletivas para afirmar sua liberdade individual, em nome de uma exigência de pureza em que moral e arte são indissociáveis.
É para além dos engodos históricos que o protagonista de "O Leopardo" afirma a sua liberdade de escolha. Daí para a frente, seguindo uma inspiração proustiana, não concretizada pelo seu mais caro projeto inacabado, uma adaptação de "Em Busca do Tempo Perdido", Visconti concentra-se na expressão (cristalizada) do espírito de uma época perdida na sua memória de infância.
Eis o sentido de "Morte em Veneza" e do documentário "Em Busca de Tadzio", que retrata a procura do cineasta pelo ator ideal para encarnar o efebo dessa (proustiana) versão do romance de Thomas Mann. Visconti buscava o tempo perdido de sua infância quando, como Tadzio, brincava no Lido, nas férias em Veneza, sob o olhar imperioso da mãe, essa figura bela, protetora e tirana que, da tormenta de "Rocco e Seus Irmãos" ao incesto de "Os Deuses Malditos", esteve sempre na origem do universo viscontiano. (TMM)



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