|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
'Em Busca de Tadzio': os anos proustianos
CRÍTICO DA FOLHA
Se, num primeiro momento, o herói viscontiano encontra-se enraizado
num contexto social e histórico que o define para além
da escolha individual
-"Rocco e Seus Irmãos",
seu "Irmãos Karamazov", é
a obra-prima dessa fase-,
num segundo, tomando cada vez mais a forma de seu
autor, aristocrata, homossexual e desencantado, ele se
desvencilha das contingências coletivas para afirmar
sua liberdade individual, em
nome de uma exigência de
pureza em que moral e arte
são indissociáveis.
É para além dos engodos
históricos que o protagonista de "O Leopardo" afirma a
sua liberdade de escolha. Daí
para a frente, seguindo uma
inspiração proustiana, não
concretizada pelo seu mais
caro projeto inacabado, uma
adaptação de "Em Busca do
Tempo Perdido", Visconti
concentra-se na expressão
(cristalizada) do espírito de
uma época perdida na sua
memória de infância.
Eis o sentido de "Morte em
Veneza" e do documentário
"Em Busca de Tadzio", que
retrata a procura do cineasta
pelo ator ideal para encarnar
o efebo dessa (proustiana)
versão do romance de Thomas Mann. Visconti buscava
o tempo perdido de sua infância quando, como Tadzio, brincava no Lido, nas férias em Veneza, sob o olhar
imperioso da mãe, essa figura bela, protetora e tirana
que, da tormenta de "Rocco
e Seus Irmãos" ao incesto de
"Os Deuses Malditos", esteve sempre na origem do universo viscontiano.
(TMM)
Texto Anterior: Cinema: Visconti irresistível Próximo Texto: Artes Plásticas: MAM define nova comissão curatorial Índice
|