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EXPOSIÇÃO
Museu Jeu de Paume apresenta 79 trabalhos do artista sergipano
Paris vê obras de Bispo do Rosário
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS
Sempre misterioso, o processo criativo torna-se ainda mais
insondável quando o artista
apresenta algum desequilíbrio
mental. No entanto, a arte visual
é uma forma de expressão que
frequentemente atrai os doentes
mentais. De fato, há mais de um
século os hospitais psiquiátricos
procuram compreender e tratar
seus pacientes utilizando a arte
como terapia.
Em 1950, o hospital Ste. Anne,
em Paris, organizou uma exposição de "arte psicopatológica"
vinda de 17 países. Posteriormente doadas ao hospital, as
obras da mostra formaram a base de uma coleção que hoje inclui 70 mil objetos. Uma seleção
de 117 deles pode ser vista na exposição fascinante intitulada
"La Clé des Champs", exposta
no museu Jeu de Paume, em Paris, até 28 de setembro.
Fazendo par com "La Clé des
Champs" -uma expressão
francesa que exprime a idéia de
liberdade-, o museu apresenta
uma retrospectiva mais inusitada ainda de 79 trabalhos de Arthur Bispo do Rosário (1909-1989), artista autodidata brasileiro que passou cinco décadas
numa instituição carioca para
doentes mentais.
Ao que tudo indica, Bispo do
Rosário enxergava sua própria
vida como missão de salvamento do mundo. Não há indício de
que ele próprio visse seu trabalho como arte. Como paciente,
se negava a participar das aulas
de terapia artística.
Em dezembro de 1938, após
oito anos na Marinha, teve uma
visão de Cristo e sete anjos que o
fez se apresentar a um mosteiro.
De lá, foi enviado para um hospital, onde foi diagnosticada
uma esquizofrenia paranóide.
Ele acabou por ser internado
permanentemente num hospital psiquiátrico do Rio.
"Bispo do Rosário se recusava
a falar com os médicos e foi
pouco a pouco se isolando cada
vez mais, trabalhando compulsivamente", disse Agustín Arteaga, curador de arte mexicano
que ajudou a organizar a mostra. "Era movido por considerações místicas, preocupava-se
com o julgamento final, registrava tudo e todos com o intuito
de garantir sua salvação."
É possível que o artista tenha
simplesmente registrado o
mundo tal como o enxergava,
mas ele criou ordem onde havia
desordem, beleza no lugar do lixo. Hoje, seria descrito como arte conceitual. Embora o conceito dele continue a ser um mistério insondável, seu trabalho é
arte porque transforma o ordinário em extraordinário.
Tradução Clara Allain
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