São Paulo, sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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Crítica/"Se Nada Mais Der Certo"

Diretor prefere risco de incomodar público

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Empenhado em recorrer a fórmulas que possam garantir circulação (às vezes, apenas algum espaço) no mercado exibidor, boa parte do cinema contemporâneo -inclusive o brasileiro- é pautado pelo comodismo.
O receio de contrariar supostas "regras" combina-se ao desejo de apostar em algo seguro, como se houvesse garantia de êxito para qualquer filme que não traga no título "Harry Potter" e outras grifes da indústria. Não é, decididamente, o caso de "Se Nada Mais Der Certo", que prefere o risco de incomodar o espectador à alternativa usual e conservadora de lhe passar a mão na cabeça.
A sensação é gerada por uma representação sombria, ainda que temperada por alguma esperança, de dramas e situações característicos da sociedade brasileira urbana. Não por acaso, uma personagem amaldiçoa a decisão de se mudar para São Paulo; para ela, o inferno é ali.
Um jornalista que sobrevive de trabalhos precários (Cauã Reymond), uma figura andrógina que ganha a vida no tráfico de drogas (Caroline Abras) e um taxista desconfiado da própria saúde mental (João Miguel) têm suas trajetórias entrelaçadas. Outras figuras da metrópole se relacionam com eles, em geral no papel de quem os força a ir até o limite, e depois um pouco além. A escalada provoca desconforto -como em "A Concepção" (2005), também de José Eduardo Belmonte- porque, entre outras razões, não é difícil vislumbrar seu desfecho. Entrecortado por saltos no tempo e no espaço, o filme compensa certa redundância narrativa com a busca incessante por um frescor no modo de compreender, graças a personagens desenhados com lirismo, a falta que a perspectiva de futuro faz.


SE NADA MAIS DER CERTO

Direção: José Eduardo Belmonte
Produção: Brasil, 2009
Com: Cauã Reymond, Caroline Abras, João Miguel
Onde: Cine UOL Lumière, HSBC Belas Artes, Jardim Sul e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: bom




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