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Crítica/"Se Nada Mais Der Certo"
Diretor prefere risco de incomodar público
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Empenhado em recorrer
a fórmulas que possam
garantir circulação (às
vezes, apenas algum espaço) no
mercado exibidor, boa parte do
cinema contemporâneo -inclusive o brasileiro- é pautado
pelo comodismo.
O receio de contrariar supostas "regras" combina-se ao desejo de apostar em algo seguro,
como se houvesse garantia de
êxito para qualquer filme que
não traga no título "Harry Potter" e outras grifes da indústria.
Não é, decididamente, o caso
de "Se Nada Mais Der Certo",
que prefere o risco de incomodar o espectador à alternativa
usual e conservadora de lhe
passar a mão na cabeça.
A sensação é gerada por uma
representação sombria, ainda
que temperada por alguma esperança, de dramas e situações
característicos da sociedade
brasileira urbana. Não por acaso, uma personagem amaldiçoa
a decisão de se mudar para São
Paulo; para ela, o inferno é ali.
Um jornalista que sobrevive
de trabalhos precários (Cauã
Reymond), uma figura andrógina que ganha a vida no tráfico
de drogas (Caroline Abras) e
um taxista desconfiado da própria saúde mental (João Miguel) têm suas trajetórias entrelaçadas. Outras figuras da
metrópole se relacionam com
eles, em geral no papel de quem
os força a ir até o limite, e depois um pouco além.
A escalada provoca desconforto -como em "A Concepção" (2005), também de José
Eduardo Belmonte- porque,
entre outras razões, não é difícil vislumbrar seu desfecho.
Entrecortado por saltos no
tempo e no espaço, o filme
compensa certa redundância
narrativa com a busca incessante por um frescor no modo
de compreender, graças a personagens desenhados com lirismo, a falta que a perspectiva
de futuro faz.
SE NADA MAIS
DER CERTO
Direção: José Eduardo Belmonte
Produção: Brasil, 2009
Com: Cauã Reymond, Caroline
Abras, João Miguel
Onde: Cine UOL Lumière, HSBC Belas Artes, Jardim Sul e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: bom
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