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CRÍTICA
"Bernarda" sufoca Lorca
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Acontece com "A Casa de
Bernarda Alba", de Federico
García Lorca, encenada por
William Pereira, o mesmo que
se viu em "Gata em Teto de
Zinco Quente", de Tennessee
Williams, encenada por
Moacyr Góes -diretor de
mesma geração.
Dois clássicos modernos,
com temática de polêmica sexual na superfície, mas que, até
por se tratar de autores de qualidade real, vencem nas relações humanas -ou poderiam
vencer- a controvérsia datada. Com Williams, a qualidade
se revelaria em montagens menores, em que atores se aproximaram de personagens.
"A Casa de Bernarda Alba",
último e único texto em que o
poeta espanhol deixou as formas mais ancestrais do teatro,
como a tragédia de "Yerma",
para entrar pelo drama moderno e hoje um pouco datado, é
ainda assim uma bela peça.
O confronto de suas mulheres, as cinco filhas de Bernarda
Alba (Nilda Maria), em torno
de um só homem carrega ainda
alguma coisa do primitivismo
que o crítico Décio de Almeida
Prado notou em "Yerma".
A (exageradamente sublinhada) virgindade ou não de
Adela (Julia Feldens), a filha
mais jovem, é o que menos interessa, é a superfície -a menos que se queira diminuir
Bernarda Alba, a mãe, a uma
repressora prepotente. Ou ainda, que se queira um panfleto
contra a repressão sexual, na
virada do milênio.
Mas no espetáculo do projeto
Lorca na Rua, apresentado semana passada em São Paulo e
agora pelo interior paulista, a
primeira máscara é o que comanda, nas duas personagens
citadas como nas demais, tornadas como que caricaturas.
É assim com a Angustias de
Agnes Zuliani e com a Madalena/Amélia (papéis reunidos no
espetáculo) de Mirian Rinaldi.
Muito se explica, na interpretação frustrante de ótimas atrizes, reveladas em outros momentos, pelo conservadorismo
da encenação.
"A Casa de Bernarda Alba"
transferiu o palco italiano para
um caminhão, para apresentações de rua. Em tal palco, fechou-se em si mesma, nas suas
quatro paredes -que é, imagina-se, a visão do diretor para o
texto. Uma visão formal, exterior, que acabou por sufocar as
personagens e o próprio Lorca.
Peça: A Casa de Bernarda Alba
Próximas apresentações: Palmital
(hoje), Bauru (amanhã), Pindorama
(dia 17), Santa Adélia (dia 18)
Informações: 011/234-3000, r. 3081
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