São Paulo, sexta, 14 de agosto de 1998

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RESTAURANTE - CRÍTICA
Galinhada mata a fome

especial para a Folha

Basta ter fome para ter motivo de ir ao restaurante Galinhada do Bahia. A fome será saciada.
Mas, se a visita for precedida de um espírito antropológico, a viagem ficará melhor ainda. Pois o local é um enclave do agreste brasileiro, nordestino, no centro de São Paulo. Não apenas por seu cardápio, mas por todo o espírito que dali emana.
Ele fica perdido num beco do Canindé, beirando a marginal Tietê, ao cabo de uma curva ornada com varais de roupa. Algo que, se fosse na Itália, seria descrito como uma romântica ruela residencial, envolta pelo calor da convivência familiar. Aqui, nas condições do agreste paulistano, poderia mais parecer a beira de um cortiço.
Mas não é cortiço nenhum. É um retrato da vida brasileira, com gente passando nos becos, criança brincando na rua e um quintal onde se come em família, como em tantos outros.
Só que nesse caso o dono do quintal cobra pela comida, e portanto o lugar passa a ser oficialmente um restaurante -assim como um outro, também chamado Galinhada, que já abriu poucos metros adiante.
O Bahia é Raimundo Souza Soares, nascido há 50 anos na cidade baiana de Rui Barbosa. Cozinhando ao lado da mulher, Tereza Soares de Almeida, há seis anos ele serve aos convivas da região (e de cada vez mais longe) a cozinha um tanto rústica, mas definitivamente substanciosa, do sertão de onde ele veio, deixando para trás a profissão de vaqueiro.
Pelo preço de R$ 10 os clientes podem se fartar de pratos, trazidos em rodízio à mesa, que incluem a galinhada (cozido de galinha com caldo espesso), o baião-de-dois (grãos de feijão e arroz misturados com temperos), o macio carneiro ensopado, os legumes do Brasil profundo (quiabo, jiló, abóbora), a buchada de carneiro (bucho recheado de miúdos).
Pratos cuja descrição poderia fazer o pesadelo de paladares mais melindrados, mas que, embora muitas vezes rústicos, são uma janela aberta para um Brasil quase desconhecido por aqui. (JM)

Cotação: regular / $
Onde: r. Azurita, 46, casa 8 (Canindé, região central), tel. 011/225-8614
Quando: seg a sex, 12h/16h; sáb e dom, 12h/20h
Cozinha: baiana do sertão, farta e rica
Ambiente: quintal de casa de vila
Serviço: precário
Quanto: R$ 10 (rodízio)



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