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Wando deixa de "ir fundo' e troca "tesão' por "religião'
Antonio Gaudério/Folha Imagem
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O cantor Wando, que está lançando seu 24º disco, "Palavras Inocentes", e diz que parou com as citações eróticas para atender pedidos de fãs
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O cantor lança seu
24º álbum, "Palavras
Inocentes", abandona
as sugestões eróticas e
diz que "o mundo está
ficando careta"
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PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Paradigma dos maus costumes,
paladino da obscenidade, Wando
mudou. Em seu novo disco, o 24º,
"Palavras Inocentes", "tesão" dá
lugar a "religião", "amor bonito"
é aquele que "a gente sempre põe
no altar" e até a mãe é reverenciada (no bom sentido). Saem as calcinhas penduradas no varal de sua
capa anterior, entra o cantor, desfocado, folheando sua agenda.
A retirada surpreende, não só ao
se pensar na coesão de sua carreira
(alguns títulos: "Obsceno",
"Ponto G"), mas ao se observar
que a banheira do Gugu chega a
ter 20 usuários, É o Tchan é marca
consolidada, e ET e Rodolfo fazem
sucesso com os velhíssimos versos
"se eu lavo/ ou se eu cozinho/ ninguém tem nada com isso".
O autor de "Moça" (é assim nas
palavras cruzadas) credita a mudança a fãs que lhe pediram para
"não ir tão fundo" e à "caretice
do mundo". O cantor recebeu a
Folha num flat, em São Paulo.
Folha - Por que, depois de autoproclamar-se obsceno, você abandonou a lascívia?
Wando -Chega um momento
que você começa a pesar as palavras. Mas eu também observei
uma transformação nas pessoas.
Elas estão mudando, não sei se para melhor ou pior, não sei se isso é
censura ou não. Acho que elas estão procurando uma pessoa única
para viver. Fiz esse disco falando
dessa procura. Concordo que aliviei as palavras que apimentavam
as letras, dei folga a elas, mas meu
trabalho não trocou de sentido, ele
sempre fala de amor.
Folha - A mudança não me parece simplesmente um "aliviar de palavras". Supõe-se que um disco
chamado "Obsceno" seja obsceno.
Wando -Na verdade ele não tinha essa obscenidade toda. Eu
apenas coloquei para fora coisas
que as pessoas pensavam e não diziam. Outro disco, o "Romântico
Brasileiro sem Vergonha", que as
pessoas levaram para um lado, tinha outro sentido. Era um romântico brasileiro sem vergonha de ser
brasileiro e romântico.
Folha - Sua volta a esse repertório menos apimentado coincide
com o sucesso de bandas apimentadíssimas, caso do Tchan, Gerasamba etc. A concorrência ficou
muito forte?
Wando -Não penso assim. Faço
esse trabalho há muitos anos, e
houve um momento em que ele ficou mais apimentado. Esse caminho foi depois seguido por vários
segmentos da música brasileira.
Mas é o compositor quem escolhe
seu caminho. Ele começa a pensar
no que está vivendo e escreve em
torno disso. Eu recebi também
umas reclamações, diziam:
"Wando, você está indo muito
fundo". E a juventude também está ficando careta. O rapaz ainda
quer casar com mulher virgem.
Embora pense em transar com outras, ele quer que a mulher da vida
dele seja virgem. Assim como as
meninas. A vontade delas é ter um
único homem. O mundo está ficando careta.
Folha - Você acha que as bandas,
para usar uma expressão sua, obscenas, te devem algo?
Wando -Acho que não. Alguns
compositores também falaram o
que eu falei, embora esporadicamente. Eu segui uma fórmula, coloquei no disco, coloquei no palco.
Talvez os shows tenham acentuado esse meu lado. Fiz brincadeiras
como o "troque sua calcinha usada por uma nova". Aí a mulher
trocava a calcinha no palco. Esses
formatos me ajudaram, e talvez tenham influenciado outros artistas.
Folha - Você já disse que estaria
milionário, se recebesse R$ 1 de
cada casal que já transou ouvindo
"Moça". Quem mais teria uma música desse tipo para entrar nessa
proposição?
Wando -Roberto Carlos têm diversas músicas, Djavan. Mas para
se dar bem com esse repertório,
tem que escrever músicas que
agradem homens e mulheres.
Acho que agora é boa hora, todo
mundo saiu para dançar, agora é
hora de descansar. As pessoas estavam muito percussivas, esqueciam de ouvir as letras. Música
brasileira estava ficando mais no
refrão. É hora de voltar às letras.
Folha - Seu camarim deve ser
uma loucura após os shows.
Wando -Mas minhas fãs são
minhas amigas. Eu diria que costumo atender em média 300 pessoas por show. Tem umas que realmente são carinhosas demais.
Folha - Você é casado?
Wando -Eu estou namorando
em casa.
Folha - E sua namorada tem ciúme das fãs?
Wando -Eu sou comportado,
bom rapaz. Acho que tudo tem limite. O limite é uma necessidade,
ainda mais nesses tempos em que
"são demais os perigos desta vida". Mas seria um grande mentiroso se dissesse que jamais transei
com fãs. Já até invadiram meu
apartamento! Mas, sinceramente,
penso que achar a pessoa certa é o
melhor que pode acontecer a um
homem.
Folha - Suponho que você seja
um sedutor eficaz, pelo menos um
cara que conhece do assunto. Confere?
Wando -Olha, eu sou mineiro,
né. Sempre acreditei que a grande
cantada, nem que seja para fazer
um convite para jantar, é por meio
da poesia. Claro que essa poesia
pode ser acompanhada por um
champanhe, por um perfume
bom, quem sabe por uma lingerie.
Mas o homem deve ter um jeito especial de falar "venha jantar comigo". Se não tem, fica muito difícil. Poesia é um negócio muito perigoso, uma arma eficaz.
Folha - Falando nisso, qual sua
opinião sobre o maníaco do parque?
Wando -Pois é, eu estou querendo saber como é que esse cara
conseguiu levar essas meninas todas para o mato. É difícil, você
convidar para jantar é uma coisa,
mas convidar para o mato... O cara
deveria ter uma conversa muito
refinada. Ele tem o dom da palavra, pena que usou para o lado errado.
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