São Paulo, sexta, 14 de agosto de 1998

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Wando deixa de "ir fundo' e troca "tesão' por "religião'

Antonio Gaudério/Folha Imagem
O cantor Wando, que está lançando seu 24º disco, "Palavras Inocentes", e diz que parou com as citações eróticas para atender pedidos de fãs



O cantor lança seu 24º álbum, "Palavras Inocentes", abandona as sugestões eróticas e diz que "o mundo está ficando careta"


PAULO VIEIRA
especial para a Folha

Paradigma dos maus costumes, paladino da obscenidade, Wando mudou. Em seu novo disco, o 24º, "Palavras Inocentes", "tesão" dá lugar a "religião", "amor bonito" é aquele que "a gente sempre põe no altar" e até a mãe é reverenciada (no bom sentido). Saem as calcinhas penduradas no varal de sua capa anterior, entra o cantor, desfocado, folheando sua agenda.
A retirada surpreende, não só ao se pensar na coesão de sua carreira (alguns títulos: "Obsceno", "Ponto G"), mas ao se observar que a banheira do Gugu chega a ter 20 usuários, É o Tchan é marca consolidada, e ET e Rodolfo fazem sucesso com os velhíssimos versos "se eu lavo/ ou se eu cozinho/ ninguém tem nada com isso".
O autor de "Moça" (é assim nas palavras cruzadas) credita a mudança a fãs que lhe pediram para "não ir tão fundo" e à "caretice do mundo". O cantor recebeu a Folha num flat, em São Paulo.

Folha - Por que, depois de autoproclamar-se obsceno, você abandonou a lascívia?
Wando -
Chega um momento que você começa a pesar as palavras. Mas eu também observei uma transformação nas pessoas. Elas estão mudando, não sei se para melhor ou pior, não sei se isso é censura ou não. Acho que elas estão procurando uma pessoa única para viver. Fiz esse disco falando dessa procura. Concordo que aliviei as palavras que apimentavam as letras, dei folga a elas, mas meu trabalho não trocou de sentido, ele sempre fala de amor.
Folha - A mudança não me parece simplesmente um "aliviar de palavras". Supõe-se que um disco chamado "Obsceno" seja obsceno.
Wando -
Na verdade ele não tinha essa obscenidade toda. Eu apenas coloquei para fora coisas que as pessoas pensavam e não diziam. Outro disco, o "Romântico Brasileiro sem Vergonha", que as pessoas levaram para um lado, tinha outro sentido. Era um romântico brasileiro sem vergonha de ser brasileiro e romântico.
Folha - Sua volta a esse repertório menos apimentado coincide com o sucesso de bandas apimentadíssimas, caso do Tchan, Gerasamba etc. A concorrência ficou muito forte?
Wando -
Não penso assim. Faço esse trabalho há muitos anos, e houve um momento em que ele ficou mais apimentado. Esse caminho foi depois seguido por vários segmentos da música brasileira. Mas é o compositor quem escolhe seu caminho. Ele começa a pensar no que está vivendo e escreve em torno disso. Eu recebi também umas reclamações, diziam: "Wando, você está indo muito fundo". E a juventude também está ficando careta. O rapaz ainda quer casar com mulher virgem. Embora pense em transar com outras, ele quer que a mulher da vida dele seja virgem. Assim como as meninas. A vontade delas é ter um único homem. O mundo está ficando careta.
Folha - Você acha que as bandas, para usar uma expressão sua, obscenas, te devem algo?
Wando -
Acho que não. Alguns compositores também falaram o que eu falei, embora esporadicamente. Eu segui uma fórmula, coloquei no disco, coloquei no palco. Talvez os shows tenham acentuado esse meu lado. Fiz brincadeiras como o "troque sua calcinha usada por uma nova". Aí a mulher trocava a calcinha no palco. Esses formatos me ajudaram, e talvez tenham influenciado outros artistas.
Folha - Você já disse que estaria milionário, se recebesse R$ 1 de cada casal que já transou ouvindo "Moça". Quem mais teria uma música desse tipo para entrar nessa proposição?
Wando -
Roberto Carlos têm diversas músicas, Djavan. Mas para se dar bem com esse repertório, tem que escrever músicas que agradem homens e mulheres. Acho que agora é boa hora, todo mundo saiu para dançar, agora é hora de descansar. As pessoas estavam muito percussivas, esqueciam de ouvir as letras. Música brasileira estava ficando mais no refrão. É hora de voltar às letras.
Folha - Seu camarim deve ser uma loucura após os shows.
Wando -
Mas minhas fãs são minhas amigas. Eu diria que costumo atender em média 300 pessoas por show. Tem umas que realmente são carinhosas demais.
Folha - Você é casado?
Wando -
Eu estou namorando em casa.
Folha - E sua namorada tem ciúme das fãs?
Wando -
Eu sou comportado, bom rapaz. Acho que tudo tem limite. O limite é uma necessidade, ainda mais nesses tempos em que "são demais os perigos desta vida". Mas seria um grande mentiroso se dissesse que jamais transei com fãs. Já até invadiram meu apartamento! Mas, sinceramente, penso que achar a pessoa certa é o melhor que pode acontecer a um homem.
Folha - Suponho que você seja um sedutor eficaz, pelo menos um cara que conhece do assunto. Confere?
Wando -
Olha, eu sou mineiro, né. Sempre acreditei que a grande cantada, nem que seja para fazer um convite para jantar, é por meio da poesia. Claro que essa poesia pode ser acompanhada por um champanhe, por um perfume bom, quem sabe por uma lingerie. Mas o homem deve ter um jeito especial de falar "venha jantar comigo". Se não tem, fica muito difícil. Poesia é um negócio muito perigoso, uma arma eficaz.
Folha - Falando nisso, qual sua opinião sobre o maníaco do parque?
Wando -
Pois é, eu estou querendo saber como é que esse cara conseguiu levar essas meninas todas para o mato. É difícil, você convidar para jantar é uma coisa, mas convidar para o mato... O cara deveria ter uma conversa muito refinada. Ele tem o dom da palavra, pena que usou para o lado errado.



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