São Paulo, sexta, 14 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAMBA
Compositor carioca se apresenta hoje e amanhã no Villagio Café, am São Paulo
Monarco conta a história do samba

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Dois shows do sambista Monarco dão oportunidade aos paulistas, hoje e amanhã, de travar contato com a mal contada -porque raramente registrada em disco- história do samba carioca de raiz.
Monarco, 64, é um dos caçulas da geração heróica dos sambistas da Portela, aquela que foi liderada por Paulo da Portela. Os discos que pôde lançar em 41 anos de carreira (desde que gravou pela primeira vez, em 57) podem-se contar nos dedos de uma mão -e sobram dedos.
"Encaro isso com naturalidade. Cartola, coitado, foi fazer disco só no fim da vida, levado pelo Marcus Pereira. Quem sou eu para chegar aos pés do Cartola? Só por ter conseguido gravar, já me dou por satisfeito", afirma o artista.
Com a mesma resignação ele encara o fato de ter perdido a gravação de seu samba "Passado de Glória" (aquele que diz que "se for falar da Portela hoje não vou terminar").
O samba daria nome ao histórico disco da Velha Guarda da Portela, lançado em 1970 sob coordenação do discípulo Paulinho da Viola (e relançado no ano passado em CD, pela RGE), mas Monarco ficou de fora. "Não pude comparecer porque estava de pernoite no mercado de peixe, meu patrão não liberou. Não tem problema."
Seja como for, de lá para cá a música tomou vulto em sua vida. Década de 70 adentro, composições suas se tornaram conhecidas nas vozes de Paulinho da Viola ("Lenço"), Clara Nunes ("Rancho da Primavera"), Martinho da Vila ("Tudo Menos Amor"), até Zeca Pagodinho. "Hoje vivo de música. Vivo mal, dos direitos autorais, mas vivo."

Gaveta
As músicas vão sendo compostas, interessem-se ou não as gravadoras. "A gente vai fazendo e vai guardando. Não dão valor ao tipo de música que eu faço, mas eu dou. Não vou falar de bundinha, não sei fazer isso. Me inspiro no amor, nas estrelas, nas flores."
E os grupos atuais de pagode? "Nem perco meu tempo, a jogada deles é outra. O que querem não é da minha praia. Claro que sinto na pele por não pensar no comercial, mas deixa eu com meu samba, muito embora vagabundo. Passei fome ao lado desse samba, ele agoniza, mas não morre", parafraseia Nelson Sargento.
É esse o samba que ele traz a São Paulo, cantando músicas de seus contemporâneos e as suas próprias. "Muitas são pouco conhecidas, mas eram sucessos no terreiro da Portela. Minha música fazia sucesso na comunidade, depois é que vieram as gravações, elas foram para o disco e se comportaram muito bem."
Para quem quiser assistir seu show de canções que não tocam no rádio, ele avisa: "Vou fazer um show caprichado, estou com saudade de São Paulo. Vai ser bom, o público paulista não é bobo, sabe o que é bom".

Show: Monarco Onde: Villagio Café (pça. Dom Orione, 298, Bela Vista, tel. 011/251-3730, região central) Quando: hoje, às 23h, e amanhã, às 22h Quanto: R$ 12


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.