São Paulo, sexta, 14 de agosto de 1998

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Completando 50 anos, o solista toca, acompanhado pela Sinfônica Municipal, duas obras de Rachmaninov
Cohen apresenta sua maratona pianística

IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Arnaldo Cohen escolheu uma maratona pianística para comemorar seus 50 anos. Radicado em Londres desde 82, o pianista carioca toca hoje e domingo, no Teatro Municipal, duas obras para piano e orquestra de Rachmaninov: o "Concerto nš 3" e a "Rapsódia sobre um Tema de Paganini". Somadas, as duas peças constituem cerca de 80 minutos de música virtuosística e exigente tanto física quanto mentalmente. E o "tour de force" começou antes do solista chegar ao Municipal. Na última terça, Cohen deu recital noturno em Belém. Após o concerto, pegou um avião para São Paulo às 3h, chegou na capital paulista às 6h e, após ter passado a noite em claro, ensaiou com a Sinfônica Municipal às 9h da quarta. "Achei importante que a gente pudesse trabalhar um pouco", diz Cohen. Leia a seguir trechos da entrevista do pianista à Folha.


Folha - De onde veio a idéia para este concerto?
Arnaldo Cohen
- Surgiu de uma conversa com o maestro Záccaro, atual assistente de Isaac Karabitchevsky na direção do Municipal. Ele estava preocupado, porque, com o cancelamento da temporada de ópera por falta de verba, havia datas sobrando na agenda do teatro, e perguntou se eu tinha sugestões. Sempre tive vontade de fazer em São Paulo algo semelhante à série de piano que acontece no Rio de Janeiro, em que o artista toca uma obra para piano solo e dois concertos para piano e orquestra.
Folha - Você vai estar tocando quatro concertos para piano e orquestra em três dias. O "tour de force" não te assusta?
Cohen
- Mas o Rubinstein fazia isso em Paris. Teve uma época, em que ele fazia três concertos para piano e orquestra em um dia só. Nesse ritmo, teve uma época em que, em cinco semanas, ele acabou tocando 15 concertos para piano e orquestra. Hoje em dia, existe essa mania de que o programa deva ser composto por uma abertura, um concerto e uma sinfonia.
Folha - Por que Rachmaninov? Você quis provar que, aos 50 anos, continua em plena forma?
Cohen
- Não é por aí. Sou avesso a comemorações de aniversário. Mas os meus 50 anos, como pessoa física, são importantes, porque é uma época em que você olha para trás. Eu ouvi o terceiro concerto de Rachmaninov aos 19 anos de idade, na gravação de Vladimir Horowitz. Quando ouvi pela primeira vez, fiquei alucinado, vi a partitura e me perguntava: "Será que algum dia eu vou conseguir tocar isto?".
Folha - Que balanço você faz destes 50 anos? Cohen - Cheguei à Europa com 33 anos. Na época, estabeleci uma meta que eu desejaria atingir aos 50 anos. Hoje, eu me lembro de 17 anos atrás e me sinto feliz, pois atingi a meta que havia estabelecido: chegar a um momento no qual eu não precisasse pedir para tocar. Para mim, o sinônimo de liberda de significa poder dizer não.


Concerto: Arnaldo Cohen e Orquestra Sinfônica Municipal Quando: hoje, às 21h; domingo, às 11h Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 222-8698) Quanto: entre RÏ 8 e RÏ 20 Patrocinador: BankBoston




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