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Leon Cakoff estréia como cineasta com curta-metragem
da Reportagem Local
Leon Cakoff virou a casaca. Depois de 22 anos trazendo filmes e
diretores de todo o mundo para o
Brasil, o criador e organizador da
Mostra Internacional de Cinema
de São Paulo resolveu estrear como cineasta.
O filme, co-dirigido por Renata
de Almeida, é um curta de seis minutos chamado "Volte Sempre,
Abbas". Mais que uma homenagem ao cineasta iraniano Abbas
Kiarostami ("Através das Oliveiras"), é uma crônica sobre a São
Paulo vista por estrangeiros.
O filme foi selecionado entre
600 curtas para a 56ª Mostra Internacional da Arte Cinematográfica de Veneza, que acontece na
Itália no mês que vem. Foi o único
escolhido da América Latina e fará lá sua estréia mundial.
Cakoff enviou uma cópia para o
festival de Gramado, que termina
hoje, mas o filme foi recusado pela comissão de seleção gaúcha.
"Ser o único escolhido por Veneza em toda a América Latina é
motivo de orgulho, mas isso não
significa que nosso curta é o melhor do continente", diz Cakoff.
Renata e Cakoff -casados e
trabalhando juntos na mostra há
dez anos- sabem do que estão
falando quando se fala na São
Paulo dos forasteiros. Eles trazem
todo ano uma média de 30 convidados dos mais diversos países.
A alguns deles, o casal presenteia com uma tour pela cidade.
Nada de parque do Ibirapuera. A
tour privilegia uma São Paulo noturna e um tanto mais miserável.
Pátio do Colégio, praça da Sé, ruas
do centro, Terraço Itália.
Pois a tour faz parte de "Volte
Sempre, Abbas". Também estão
lá as cenas que todo visitante vê ao
chegar: favelas na marginal, no
caminho do aeroporto de Cumbica ao hotel da Paulista.
Mas o tema central não é nenhum desses, e sim a experiência
que Abbas Kiarostami teve ao ser
jurado da 18ª Mostra Internacional de Cinema, em 94. Passeando
na avenida Paulista, ele teve sua
atenção voltada para uma garota
de rua que vasculhava lixeiras.
Seguiu-a por toda a tarde e, ao
voltar para o Irã, escreveu um
conto chamado "Uma Boa Cidadã". Kiarostami chegou a anunciar a filmagem da história, que
aconteceria em SP em 96, mas outros projetos tomaram a frente.
O filme de estréia de Renata e
Cakoff tomou forma após um
convite para o quadro "Matéria
Assinada", do programa "Metrópolis", da TV Cultura. Ali, pessoas
conhecidas fazem uma reportagem acompanhadas pela equipe
da emissora.
"Gravamos em dois dias", diz
Renata. "Não era nada pretensioso. Mas acabou ficando legal".
Após o quadro ser exibido, em
março deste ano, o casal resolveu
remontar o material, transferir
para filme e lançar.
O resultado poderá ser visto na
23ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa em
15 de outubro. O grande homenageado, Kiarostami -que já viu o
filme e classificou-o como "maravilhoso"- estará presente.
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