São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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Leon Cakoff estréia como cineasta com curta-metragem

da Reportagem Local

Leon Cakoff virou a casaca. Depois de 22 anos trazendo filmes e diretores de todo o mundo para o Brasil, o criador e organizador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo resolveu estrear como cineasta.
O filme, co-dirigido por Renata de Almeida, é um curta de seis minutos chamado "Volte Sempre, Abbas". Mais que uma homenagem ao cineasta iraniano Abbas Kiarostami ("Através das Oliveiras"), é uma crônica sobre a São Paulo vista por estrangeiros.
O filme foi selecionado entre 600 curtas para a 56ª Mostra Internacional da Arte Cinematográfica de Veneza, que acontece na Itália no mês que vem. Foi o único escolhido da América Latina e fará lá sua estréia mundial.
Cakoff enviou uma cópia para o festival de Gramado, que termina hoje, mas o filme foi recusado pela comissão de seleção gaúcha.
"Ser o único escolhido por Veneza em toda a América Latina é motivo de orgulho, mas isso não significa que nosso curta é o melhor do continente", diz Cakoff.
Renata e Cakoff -casados e trabalhando juntos na mostra há dez anos- sabem do que estão falando quando se fala na São Paulo dos forasteiros. Eles trazem todo ano uma média de 30 convidados dos mais diversos países.
A alguns deles, o casal presenteia com uma tour pela cidade. Nada de parque do Ibirapuera. A tour privilegia uma São Paulo noturna e um tanto mais miserável. Pátio do Colégio, praça da Sé, ruas do centro, Terraço Itália.
Pois a tour faz parte de "Volte Sempre, Abbas". Também estão lá as cenas que todo visitante vê ao chegar: favelas na marginal, no caminho do aeroporto de Cumbica ao hotel da Paulista.
Mas o tema central não é nenhum desses, e sim a experiência que Abbas Kiarostami teve ao ser jurado da 18ª Mostra Internacional de Cinema, em 94. Passeando na avenida Paulista, ele teve sua atenção voltada para uma garota de rua que vasculhava lixeiras.
Seguiu-a por toda a tarde e, ao voltar para o Irã, escreveu um conto chamado "Uma Boa Cidadã". Kiarostami chegou a anunciar a filmagem da história, que aconteceria em SP em 96, mas outros projetos tomaram a frente.
O filme de estréia de Renata e Cakoff tomou forma após um convite para o quadro "Matéria Assinada", do programa "Metrópolis", da TV Cultura. Ali, pessoas conhecidas fazem uma reportagem acompanhadas pela equipe da emissora.
"Gravamos em dois dias", diz Renata. "Não era nada pretensioso. Mas acabou ficando legal". Após o quadro ser exibido, em março deste ano, o casal resolveu remontar o material, transferir para filme e lançar.
O resultado poderá ser visto na 23ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa em 15 de outubro. O grande homenageado, Kiarostami -que já viu o filme e classificou-o como "maravilhoso"- estará presente.


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