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MODA
A grife brasileira Rosa Chá mostra uma coleção inspirada no sertão; Alexandre Herchcovitch recorre ao hippie-folk-psicodélico
Verão 2006 em NY quer fim da era da tulipa
ERIKA PALOMINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
Começou tudo de novo. Os
ponteiros do relógio maluco da
moda, esses que nunca param de
funcionar, giram agora na direção
do sol. Do ano que vem: é a temporada de lançamentos do verão
2006 de Nova York, que toma
conta da cidade. Isso é: das festas,
restaurantes, hotéis, táxis, jornais... Rosa Chá e Alexandre
Herchcovitch desfilaram. A primeira chacoalhou com sua festa
de moda praia inspirada no Brasil
(cangaço, sertão). O segundo
avançou com sua coleção hippie-folk-psicodélica, que dividiu a imprensa especializada, mas de fato
significou um avanço em termos
de identidade para o criador no
mercado local. Herchcovitch colocou percussionistas ao vivo na
sala de desfiles do Bryant Park,
conduzindo o público por uma
hipnótica viagem lisérgica de cores e estampas anos 70.
No "New York Times", a poderosa crítica Cathy Horyn sinaliza
o que poderia ser o fim da "era da
tulipa". Como todo mundo que
sai na rua nos últimos dois anos
sabe, o cor-de-rosa tomou conta
do guarda-roupa feminino. No
fim de semana, desfilaram designers (assim são chamados aqui os
estilistas) como Oscar de La Renta
e Carolina Herrera, considerados
artífices do estilo "made in USA",
apresentando coleções sóbrias/
sombrias, tendendo para os cinzas e para a melancolia, combinando com a caretice do governo
Bush e com a tristeza dos quatro
anos do 11 de Setembro.
Proenza Schouler, a talentosa
dupla de estilistas formada por
Lazaro Hernandez e Jacks McCollough, bem hypada por aqui, caracteriza-se pela construção e arquitetura da roupa. Avança no tal
minimalismo que as americanas
tanto adoram, trabalhando sobre
os cinzas e os metalizados da hora, em comprimentos religiosamente comportados, em 7/8. E
Tuleh, outra marca que vem vindo bem para esse gosto "uptown"
(para a parte chique e endinheirada da cidade), segue a cartilha de
neutros que é um dos mais fortes
fundamentos da moda hoje e que
tem tudo a ver com a (ausência
de) personalidade do prêt-à-porter nova-iorquino.
Nesse cenário, destaca-se o jovem Esteban Cortazar, 21, uma
espécie de resposta americana ao
prodígio europeu Olivier Theyskens, da Rochas. Ele se inspirou
em sereias para vestidos fluidos
de jérsei, inteligentes e sensuais.
Digamos que, a olhos nus, seja
difícil mesmo perceber as nuances do estilo USA. Daí a onda toda
do desfile de Marc Jacobs anteontem à noite. Mais uma vez ao som
de "Smells Like Teen Spirit", do
Nirvana, o mais influente estilista
norte-americano em atividade
hoje desfilou uma parada de clássicos americanos revisitados das
décadas de 40, 50 e 60, a partir de
idéias tiradas da elegância de
mestras como as Bonnie Cashin
(1908-2000) e Claire McCardell
(1905-1958). Com mais uma pitadinha da alta moda detonada na
Europa pela Prada. Numa edição
bagunçada, perceba vestidos de
babados que conseguem ser Jacobs em seu melhor: retrô, românticos, cool e modernos. Vão
aparecer nas Sofias, Camerons e
Siennas da vida (Scarlett Johansson, uma das mais adoradas starlets da Hollywood de hoje, entrou
causando no desfile da Imitation
of Christ. Ela estava, horror do
horror, fumando. E com uma blusa transparente).
Para Marc Jacobs, uma vez que
ironia não tem encontrado mais
muito espaço na moda, o look
cashmere com saia chega perto
daqueles que as new-yorkers mais
bacanas estão comprando há
tempos sob o teto de Miuccia Prada. A loja de sua segunda marca, a
Marc, tem gente literalmente
saindo pelo ladrão, no adorável
endereço da Bleeker Street, bem
ao lado da famosa Magnolia Bakery, a mesma que vimos em "Sex
and the City", no domingo ensolarado com fila de dobrar a esquina, num verão que insiste em não
deixar essa enlouquecedora e fascinante Gotham City.
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