São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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MODA

A grife brasileira Rosa Chá mostra uma coleção inspirada no sertão; Alexandre Herchcovitch recorre ao hippie-folk-psicodélico

Verão 2006 em NY quer fim da era da tulipa

ERIKA PALOMINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Começou tudo de novo. Os ponteiros do relógio maluco da moda, esses que nunca param de funcionar, giram agora na direção do sol. Do ano que vem: é a temporada de lançamentos do verão 2006 de Nova York, que toma conta da cidade. Isso é: das festas, restaurantes, hotéis, táxis, jornais... Rosa Chá e Alexandre Herchcovitch desfilaram. A primeira chacoalhou com sua festa de moda praia inspirada no Brasil (cangaço, sertão). O segundo avançou com sua coleção hippie-folk-psicodélica, que dividiu a imprensa especializada, mas de fato significou um avanço em termos de identidade para o criador no mercado local. Herchcovitch colocou percussionistas ao vivo na sala de desfiles do Bryant Park, conduzindo o público por uma hipnótica viagem lisérgica de cores e estampas anos 70.
No "New York Times", a poderosa crítica Cathy Horyn sinaliza o que poderia ser o fim da "era da tulipa". Como todo mundo que sai na rua nos últimos dois anos sabe, o cor-de-rosa tomou conta do guarda-roupa feminino. No fim de semana, desfilaram designers (assim são chamados aqui os estilistas) como Oscar de La Renta e Carolina Herrera, considerados artífices do estilo "made in USA", apresentando coleções sóbrias/ sombrias, tendendo para os cinzas e para a melancolia, combinando com a caretice do governo Bush e com a tristeza dos quatro anos do 11 de Setembro.
Proenza Schouler, a talentosa dupla de estilistas formada por Lazaro Hernandez e Jacks McCollough, bem hypada por aqui, caracteriza-se pela construção e arquitetura da roupa. Avança no tal minimalismo que as americanas tanto adoram, trabalhando sobre os cinzas e os metalizados da hora, em comprimentos religiosamente comportados, em 7/8. E Tuleh, outra marca que vem vindo bem para esse gosto "uptown" (para a parte chique e endinheirada da cidade), segue a cartilha de neutros que é um dos mais fortes fundamentos da moda hoje e que tem tudo a ver com a (ausência de) personalidade do prêt-à-porter nova-iorquino.
Nesse cenário, destaca-se o jovem Esteban Cortazar, 21, uma espécie de resposta americana ao prodígio europeu Olivier Theyskens, da Rochas. Ele se inspirou em sereias para vestidos fluidos de jérsei, inteligentes e sensuais.
Digamos que, a olhos nus, seja difícil mesmo perceber as nuances do estilo USA. Daí a onda toda do desfile de Marc Jacobs anteontem à noite. Mais uma vez ao som de "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana, o mais influente estilista norte-americano em atividade hoje desfilou uma parada de clássicos americanos revisitados das décadas de 40, 50 e 60, a partir de idéias tiradas da elegância de mestras como as Bonnie Cashin (1908-2000) e Claire McCardell (1905-1958). Com mais uma pitadinha da alta moda detonada na Europa pela Prada. Numa edição bagunçada, perceba vestidos de babados que conseguem ser Jacobs em seu melhor: retrô, românticos, cool e modernos. Vão aparecer nas Sofias, Camerons e Siennas da vida (Scarlett Johansson, uma das mais adoradas starlets da Hollywood de hoje, entrou causando no desfile da Imitation of Christ. Ela estava, horror do horror, fumando. E com uma blusa transparente).
Para Marc Jacobs, uma vez que ironia não tem encontrado mais muito espaço na moda, o look cashmere com saia chega perto daqueles que as new-yorkers mais bacanas estão comprando há tempos sob o teto de Miuccia Prada. A loja de sua segunda marca, a Marc, tem gente literalmente saindo pelo ladrão, no adorável endereço da Bleeker Street, bem ao lado da famosa Magnolia Bakery, a mesma que vimos em "Sex and the City", no domingo ensolarado com fila de dobrar a esquina, num verão que insiste em não deixar essa enlouquecedora e fascinante Gotham City.


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