São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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Governo chinês não concorda com Nobel

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo comunista da China não concordou com o prêmio Nobel de Literatura que a Academia Sueca concedeu anteontem ao escritor Gao Xingjian, segundo a France Presse.
"O resultado mostra mais uma vez que o Nobel é utilizado politicamente. Não merece nosso comentário", afirmou ontem um porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores.
A reação é a mesma ocorrida em 1989, quando o Nobel da Paz foi entregue ao Dalai Lama, líder espiritual tibetano exilado na Índia. Também costuma se repetir quando cineastas como Zhang Yimou, Chen Kaige e Zhang Yuan são premiados no exterior.
Jin Jianfan, representante da Associação Chinesa de Escritores, vinculada ao governo comunista, endossou o argumento e ressaltou que o comitê do Nobel "desconhece totalmente" a literatura de seu país. "Há centenas de escritores melhores que Gao Xingjian", disse.
A imprensa chinesa também silenciou, com exceção da agência semi-oficial Notícias da China, que informou que Xingjian foi o primeiro chinês a obter o prêmio. Alguns sites locais divulgaram a notícia, mas com brevidade. "Foi mais uma bofetada na China", disse um diplomata ocidental que preferiu não se identificar.
Xingjian é praticamente desconhecido em seu país, salvo em alguns círculos de intelectuais que demonstraram orgulho pela premiação.
"Haverá seguramente um impacto sobre a cultura chinesa", afirmou Liu Xinwu, ex-redatora da "Renmin Wenxue", uma das mais tradicionais revistas de literatura no país.
Xingjian, 60, naturalizado francês, não esconde sua oposição ao governo chinês. "O terror reina na vida cotidiana chinesa. É um terror que sufoca a consciência humana e que destrói o povo", disse o autor de "Fugitives" (93) e "Le Livre d'un Homme Seul" (2000).
Ele começou a ser perseguido pelo governo chinês no início dos anos 80, por causa do tom de contestação presente em suas obras. Seus livros não são vendidos na China, onde ele é praticamente desconhecido.


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