São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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MÚSICA

Banda inglesa, com histórico de brigas internas e problemas com álcool e drogas, teve um de seus líderes afastado

Libertines traz seu arrastão pop ao Brasil

Divulgação
Os ingleses do Libertines, que se apresentam em São Paulo e no Rio, dias 7 e 8 de novembro, respectivamente, dentro do Tim Festival


THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Nenhuma banda vive um 2004 tão atribulado quanto estes ingleses, os Libertines. Gravaram e lançaram um álbum produzido pelo clash Mick Jones, um dos dois líderes do grupo foi colocado em "quarentena" por tempo indeterminado devido ao seu envolvimento com drogas -e com a Justiça britânica-, fizeram um dos shows mais comentados do festival britânico Reading, em agosto, e, nestes dias, seguem no que é sua maior turnê pelos EUA. E depois seguem para o Brasil, para se encaixarem no meio das atrações do Tim Festival, em novembro, em São Paulo e no Rio.
O furacão Libertines iniciou seu arrastão pelo mundo pop na Inglaterra. Há pouco mais de dois anos, o grupo começou a atrair olhares com seus explosivos shows; os dois guitarristas e vocalistas, Carl Barat e Peter Doherty, protagonistas de brigas no palco e fora dele, além de histórias com bebidas e drogas, eram prato cheio para a imprensa britânica.
Neste ano, em julho, após gravarem o segundo disco, homônimo, com produção de Mick Jones, Barat se cansou das confusões de Doherty, a maioria motivada por seu vício em drogas como crack, e colocou o amigo numa espécie de limbo; só volta após passar por tratamento.
Os Libertines seguem com um substituto, Anthony Rossamondo. Doherty também. Após tentar -sem sucesso- se livrar do vício até em clínicas da Tailândia, ele excursiona e grava disco com o grupo Babyshambles.
"Toda essa atenção da imprensa, com repórteres em cima da gente o tempo inteiro, foi bom e ruim ao mesmo tempo", diz o baixista John Hassall, no Webster Hall, em Nova York, anteontem, onde se apresentariam pouco depois -aparentemente "em esgotamento", de acordo com seu tour manager, Barat não participou de entrevistas.
"Claro, nós saímos nos jornais, as pessoas passam a nos conhecer, mas esse realmente é um lado superficial da banda", continua Hassall. "Há drogas e bebidas, sim, não vou mentir. Mas, acredite, não fazemos mais do que um monte de outras bandas", afirma o baterista Gary Powell.
"Hoje eu e Carl somos tão ou mais unidos do que ele e Peter. Claro que eles ainda gostam um do outro, mas o problema é que seguiram caminhos diferentes." E pelo que Powell declara, aproxima-se de zero a chance de Doherty ser "reempossado" como guitarrista da banda a tempo dos shows no Brasil. "Ele teria que provar que está "limpo" e pedir desculpas a nós", diz Hassall.
A história dos Libertines é, de certa maneira, a história de Carl e Peter. No festival escocês T in the Park, em julho ultimo, no que foi uma das primeiras aparições do grupo sem Peter, Carl Barat dedicou a música "Can't Stand me Now" ao amigo, que compôs a canção. Já Peter, em seu Babyshambles, tem tocado ao vivo uma música em que afirma que Carl "roubou várias letras" suas.
A música do Libertines é constantemente comparada àquela feita pelo Clash há 25 anos e, por mais que se esforcem dizendo que essa definição é "limitante", eles dão uma mãozinha para esse tipo de rótulo. Os dois discos da banda (o primeiro é "Up the Bracket", de 2002; os dois foram lançados no Brasil, pela Trama) foram produzidos pelo ex-guitarrista do Clash.
"Ter Mick Jones no estúdio foi realmente uma estratégia que funcionou bem para a banda. Ele sabia o que queríamos. Teve influência nos CDs, claro, mas não muita. Ele apenas nos deu a direção a seguir", conta Hassall.
A decisão foi, pelo menos do ponto de vista comercial, bem-sucedida. "The Libertines" estreou no topo da parada britânica, e ficou passeando pelos lugares mais altos do chart por um bom tempo.
"O Clash foi uma grande banda porque todos eles gostavam de vários tipos de música, e levavam isso para o estúdio. Topper [Headon, o baterista do Clash] colocava batidas de reggae e música negra no meio de um punk rock. Também tento fazer isso", diz Powell, que afirma ser fã de Chick Corea e Sérgio Mendes ("Brasil "65" é meu disco favorito").
Powell entrou para os Libertines em 1999, três anos depois que a banda foi formada, em Londres. Antes, ele tocava como músico convidado de big bands e já chegou a gravar e se apresentar com... Eddy Grant (da baba "I Don't Wanna Dance").
Desde que estouraram, os Libertines foram jogados na mesma leva de bandas que gerou o rótulo "novo rock", lideradas pelos Strokes. "É legal que uma cena roqueira, de guitarras, tenha surgido, pois antes disso ninguém queria nos contratar ou lançar uma de nossas músicas", afirma Hassall.
As letras que falam sobre como é a vida de garotos em subúrbios londrinos conquistou em cheio os adolescente ingleses. "Nossa musica não tem muitas mensagens políticas ou coisas do tipo, mas representamos o que muitos jovens enfrentam, vivemos situações que eles vivem", diz Hassall, que estampava em sua camisa um broche do candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry.

O jornalista Thiago Ney viajou a Nova York a convite do Tim Festival

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