São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2005

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TEATRO

Dirigido por Paulo de Moraes, grupo do Rio abre temporada no Sesc Belenzinho com peça que discute fé e intolerância

Armazém revela sua identidade forjada aos 18 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

O espetáculo mais recente da Armazém Cia. de Teatro, "A Caminho de Casa" (2004), deixa transparecer uma identidade estética forjada em seus 18 anos. É o que o público paulistano poderá constatar na temporada que começa hoje no Sesc Belenzinho.
São três atos. No primeiro, a ação se passa nos arredores de uma grande cidade. Um engarrafamento é evidenciado pela carcaça de seis automóveis cortados pela metade, preservando-se o lugar do motorista. Há vários efeitos sonoros e visuais, culminando com uma explosão.
No segundo, é como se a história girasse para a vida no subúrbio, na vila, onde uma mercearia e uma casa surgem também incompletas em suas arquiteturas. No terceiro ato, por fim, o espaço é dominado pelo vazio, onde elementos como a terra, a água e o fogo parecem traduzir a essência do trabalho físico dos intérpretes em meio ao barro.
A essa curva espacial e visual, o diretor Paulo de Moraes e o dramaturgo Maurício Arruda Mendonça criaram uma estrutura narrativa de base existencial, na qual o homem questiona a fé em si mesmo e a fé que deposita num deus presumido, em nome do qual comete atos como um atentado terrorista. Segundo o diretor, o congestionamento inicial serve para pontuar as outras duas partes da peça. "Poderia ser num engarrafamento ou dentro de um elevador, o fato é que essas pessoas serão obrigadas a se aproximar, gerando amizade ou intolerância, por exemplo", diz Moraes, 40 anos, quase metade deles dedicada ao teatro.
São personagens os mais diversos, como uma lutadora de telecatch, um legista, um taxista e uma noiva atrasada para o casamento. Para o diretor, a facilidade de o ser humano se envolver com o outro é a mesma com a qual ele o rejeita.
O segundo fragmento apresenta uma fábula sobre a tolerância. Ao lado de um bordel de prostitutas francesas, a solidão e a dor da perda une, inesperadamente, um velho e um menino.
Na terceira história, uma mãe conversa com Deus sobre fé e chora a morte de seu filho, ligado à explosão do ônibus projetada no início da peça. O drama salta a tragédia contemporânea de homens e mulheres que, no limite, explodem a si mesmos para matar o outro multiplicado por dezenas, centenas.
O elenco é formado por Patrícia Selonk, Simone Mazzer, Sérgio Medeiros, Thales Coutinho, Ricardo Martins, Simone Vianna, Stella Rabello, Marcelo Guerra, Isabel Pacheco e Raquel Karro.
Depois da temporada em São Paulo, "A Caminho de Casa" participa do Festival de Teatro de Recife, em novembro. No final daquele mês, a Armazém volta para o Rio, onde estréia "Toda Nudez Será Castigada", seu primeiro texto de Nelson Rodrigues.
Em projeto extracompanhia, Moraes também estréia hoje no Sesc Anchieta a montagem de "O Pequeno Eyolf", drama do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) em que duas famílias são confrontadas em suas condições egoístas ou individualistas (sex. a sáb., às 21h; e dom., às 19h; tel. 0/xx/11/3234-3000; ingressos: R$ 20).
(VS)

A Caminho de Casa
Quando:
estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h; e dom., às 20h. Até 13/11
Onde: Sesc Belenzinho - teatro (av. Álvaro Ramos, 915, Quarta Parada, tel. 0/xx/11/6602-3700)
Quanto: R$ 15


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