São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2005

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MÚSICA

Banda canadense se apresenta de 22 a 25 deste mês em festival no Brasil e prepara "hipnose" para apresentações

Familiar, Arcade Fire prepara show furioso

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles tocam com acordeão, violino, às vezes até com um martelo, instrumentos não muito associados a uma banda jovem. Mas são poucos os grupos hoje que fazem show tão rock and roll quanto o combo canadense Arcade Fire.
Em apresentação no gigantesco Reading Festival, na Inglaterra, em agosto, o Arcade Fire roubou a atenção de gente como Foo Fighters, Iron Maiden, Pixies e Marilyn Manson. É uma experiência hipnótica, com canções que alternam momentos calmos com seqüências furiosas -à certa altura, um dos tecladistas, tomado por uma espécie de transe psicótico, bate violentamente com uma toalha nos pratos da bateria.
O Brasil terá a chance de presenciar isso. A banda é atração do próximo dia 22 no Tim Festival. No dia seguinte, tocam na versão paulista do evento e, em 25/10, vão a Porto Alegre. (Em São Paulo, o Arcade Fire se apresenta antes do Kings of Leon; não será nada fácil para o KoL ganhar o público após a fúria do grupo...)
Um show do Arcade Fire ganha muito também com o aspecto teatral da banda. Todos se vestem sobriamente, com ternos (os homens) e vestidos classudos (as mulheres).
"Queríamos algo diferente para nossos shows, para não nos apresentarmos como as outras bandas, de calças jeans e camisetas. Quando você convida alguém para ir à sua casa, você normalmente limpa os cômodos, se veste bem, até como sinal de respeito a essa visita. É essa a nossa intenção nos shows, mostrar ao público que os respeitamos", contou à Folha Régine Chassagne, que toca acordeão, teclados e, às vezes, bateria.
Além de Chassagne e de seu marido, o vocalista Win Butler, o Arcade Fire, formado em 2003, reúne William Butler (irmão de Win), Richard Parry, Tim Kingsbury, Sarah Neufeld e Jeremy Gara. Eles têm apenas um álbum inteiro, "Funeral", lançado no ano passado nos EUA e que acaba de ganhar edição brasileira devido a iniciativa da gravadora Slag.
Recentemente, emplacaram uma nova música, "Cold Wind", na trilha do seriado cult "A Sete Palmos". A canção saiu também em formato single, que traz, como "lado B", um bizarro quase-cover de "Aquarela do Brasil".
Há mais conexões com o país. Uma de suas canções, "Brazil", foi inspirada pelo filme de Terry Gilliam. "Estava tocando a melodia ao piano, apenas brincando no estúdio, e resolveram gravar aquilo, sem eu saber", disse Chassagne, sobre o quase-cover. "Não conheço muito de música brasileira, mas gosto de samba, bossa nova. Adoro os grooves."
A banda foi criada em Montreal, mas isso, hoje, já não quer dizer muita coisa, pois a banda passa mais tempo fora do que na cidade canadense. "Quando acabarmos essa turnê que parece interminável, voltaremos para lá", diz, ansiosa. Estar na estrada com o marido e o cunhado ajuda, afirma Chassagne. "Somos uma família, então é uma coisa natural passarmos tanto tempo juntos. Conheci Win e todos os outros antes de pensarmos em formar a banda, nos damos muito bem."
Com apenas um disco lançado, o Arcade Fire está se tornando um fenômeno cult do rock independente. Tanto que eles foram convidados pelo U2 para abrir dois shows deles, no Canadá, em novembro. "Não os conhecemos, mas eles passaram a usar uma música nossa, "Wake Up", para entrar no palco. Então queriam que a gente abrisse várias apresentações deles, mas não podíamos por causa de nossos próprios shows. Faremos apenas duas datas. Acho que será uma experiência bem estranha para nós."

Morte
A música do Arcade Fire é difícil de classificar; pode ser folk, pode ser rock, pode ser punk. A voz de Win é bem parecida com a de David Byrne, o que rende comparações com o Talking Heads.
"Quando escrevemos as canções, definitivamente não estávamos pensando em nenhuma banda em particular. Mas entendo essa relação que fazem, não me incomoda. É melhor ser comparado aos Talking Heads do que a uma banda ruim", diz Chassagne.
A temática das canções, no geral, remete a idéias de morte. Não à toa, "Cold Wind" entrou na trilha do soturno "A Sete Palmos".
"Há algo similar, esteticamente, entre a banda e o seriado. Ambos falamos bastante de morte, não no típico sentido do termo, mas como uma exploração do que circunda a morte."


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