São Paulo, quarta-feira, 14 de novembro de 2001

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Vizinho comediante atrapalha gravação de "Gran Hermano"

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Silvio Santos sabia o que fazia quando comprou a casa ao lado da sua para de lá transmitir seu "reality show". Na Espanha, o comediante Leo Bassi levou os produtores de "Gran Hermano" (o "Big Brother" de lá) à loucura ao alugar uma propriedade vizinha com o único intuito de bagunçar a veiculação do programa.
Para começar, Bassi, com a ajuda de potentes alto-falantes, colocava música clássica e lia trechos de "1984", de George Orwell (o criador do "Big Brother"), em volume tal que "vazava" na transmissão, interferindo nos diálogos entre os participantes.
Não satisfeito, montou um andaime de nove metros de altura para fazer imagens piratas da piscina do vizinho televisivo. Os produtores faziam o que podiam: tentaram pôr uma lona cobrindo o quintal; com uma mangueira, lançaram jatos d'água contra o comediante e sua equipe; e, apesar do calor, proibiram os participantes de usar a piscina.
Um dos últimos concursantes a sair da casa acabou não podendo ser entrevistado como de costume, porque o humorista acionou uma sirene da Marinha soviética que tornou praticamente impossível se escutar outra coisa na transmissão. Bassi acabou preso.
Mas a pirataria do comediante foi só um dos percalços enfrentados pela Telecinco na exibição do primeiro "Gran Hermano" (acaba de terminar o segundo). O programa espanhol causou tanta polêmica do lado de fora que acabou rendendo um livro homônimo que também se tornaria sucesso, de autoria dos jornalistas Rebeca Quintáns e Andrés Sánchez.
No livro "Gran Hermano - El Precio de la Dignidad" (Ardi), sob o pretexto de criticar um programa feito para explorar a intimidade alheia, os autores relatam os bastidores da produção, cuja segunda edição chegou a quase 50% da audiência da TV aberta -cerca de 7,7 milhões de telespectadores em um país com aproximadamente 40 milhões de habitantes.
Quintáns e Sánchez falam, por exemplo, da espionagem sem trégua promovida pela revista sensacionalista "Interviú", que teve acesso aos questionários sigilosos distribuídos aos candidatos na fase de seleção, com perguntas do tipo: "Quando, como e com quem perdeu a virgindade?".
A revista também causaria polêmica extramuros ao revelar que duas das participantes eram ex-prostitutas. Uma das moças já havia sido eliminada; a outra acabou se decidindo -ou sendo coagida, não fica claro- a deixar a casa. A revista vai revelando que nem tudo, ao contrário do que dizem os produtores, é espontâneo, mas combinado com a direção.
Alguns acontecimentos não programados resultaram hilários: um simpatizante (pacífico) do grupo terrorista ETA conseguiu pular os muros da casa e, com uma bandeira em mãos, dizer palavras de ordem. A transmissão saiu do ar até que o rapaz fosse retirado da casa.


GRAN HERMANO - EL PRECIO DE LA DIGNIDAD. De: Rebeca Quintáns e Andrés Sánchez. Editora: Ardi. US$ 10,28 (cerca de R$ 26). Onde encomendar: www.elmundolibro.com.

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