São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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TEATRO

Ziraldo estréia peça e critica programas infantis de TV

PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

"Até eu já não ando me suportando mais", brinca Ziraldo Alves Pinto, 70. O cansaço de si próprio, de tal maneira anunciado, pode sugerir dilemas existenciais, metafísicos. Parece, entretanto, ter fundo menos aéreo, mais urgente.
No ano que vem, o cartunista e escritor é o enredo da escola de samba paulistana Nenê de Vila Matilde. Em 2004, assina o cartaz da 26ª Bienal de São Paulo. Também uma exposição sobre a sua faceta de cartazista foi inaugurada recentemente no Rio.
O programa "Turma do Pererê", produção da TVE/Rede Brasil inspirada em personagens suas, foi na primeira semana de setembro o quinto programa mais assistido da TV Cultura, deixando para trás em audiência o mais dispendioso "Ilha Rá-Tim-Bum", que não figurou então entre os cinco primeiros da emissora.
A fadiga declarada reflete, assim, o incremento do número de projetos e convites que o cartunista vem ultimamente experimentando. Um deles é a peça "Bonequinha de Pano", que estréia amanhã em São Paulo.
"Sou o velhinho mais produtivo do Brasil. É uma coisa engraçada, porque a tendência de a pessoa chegar a essa idade provecta que cheguei é ou se aposentar ou ficar à côte da vida. Acho que este é o momento de mais coisa acontecendo na minha vida, simultaneamente", afirma.
"Bonequinha de Pano" é a primeira incursão de Ziraldo pela dramaturgia infantil. Habitué dos palcos desde os anos 60 (com a estréia de "Flicts"), por meio de adaptações de seus livros, ele tem oito montagens em cartaz.
"Já escrevi algumas peças para os adultos. Mas nunca tinha muita paciência nem me ocorria nenhuma idéia que pudesse virar teatro infantil", comenta. O texto, criado especialmente para a atriz Zezé Fassina, mostra o esquecimento a que é legada uma boneca depois que sua dona, a menina Leninha, cresce.
Sobre o universo teatral infantil, Ziraldo identifica situações bastante díspares no nível dos espetáculos, da interpretação dos autores, da qualidade dos textos. "Não sou da área, mas sei que há um teatro infantil em que se faz um trabalho muito sério. Foi sempre um laboratório para muita gente, mas ao mesmo tempo há muito projeto caça-níqueis, que vai para escola vender espetáculo."
Passando ao palco maior -a TV- o artista tem opiniões críticas aos programas para as crianças. "Eles atendem muito a uma falsa expectativa em relação ao público, aceitam muito a tendência popular. Diz-se "vamos fazer o que o público está querendo e às vezes se quebra a cara". É preciso acreditar na intuição."
E por que "Turma do Pererê", para ele, escapa da sina e tem conseguido obter sucesso? "O "Pererê" não acha a criança imbecil. O que fascina no programa é a trama, porque até as roupas são "malfeitinhas". A caracterização dos meninos acho fraquíssima. Se forem levados em consideração os recursos que há hoje -você vê ator americano ficar, virar gordo e não consegue fazer um menino virar coelhinho direito..."
Ziraldo refere-se ao exíguo caixa do programa. "Talvez um sucesso sirva para alguém investir, para fazer direito. Ele foi feito com muito sacrifício, mas é um belo resultado", observa.
A respeito de "Ilha Rá-Tim-Bum", que o cartunista diz não assistir, levanta a possibilidade de ser "um pouco exacerbado". "Fiz uma coisa light. Porque a criança, na essência, não mudou. O que muda é o entorno."


BONEQUINHA DE PANO. Texto: Ziraldo. Direção: Carlos Arruda "Puruca". Com: Zezé Fassina. Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 915, tel. 0/xx/11/6602-3700) Quando: amanhã, às 16h; sáb. e dom., às 16h; até 29/12. Quanto: R$ 5. Patrocinador: Material Didático Positivo.


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