São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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"TARSILA DO AMARAL E DI CAVALCANTI"

Mostra dos dois expoentes do movimento no Brasil está no MAM Ibirapuera

Do modernismo, sobra mais intenção que obra

TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA

A exposição de dois expoentes do primeiro modernismo no Brasil, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti, retoma o tema "mito e realidade". Saindo do mérito da discussão proposta pela curadoria e transpondo essa polarização para outro âmbito, pode-se dizer, de olho nas telas, que, infelizmente, nesse primeiro impulso modernista nas artes do Brasil, sobra mais mito que realidade, mais intenção que obra.
Esse tipo de afirmação deve ser feita com cuidado, mantendo distância da cantilena antimodernista. Não se trata disso, mas de verificar qual a distância entre as obras e sua intenção manifesta.
No caso de Tarsila, ela desenvolveu uma contribuição original na transposição das inovações das vanguardas européias para cá. Nos quadros de 1924 a 30, a organização dá à tela a feição de uma lenda de formas planas, passagens de cor suavizadas, seres e escalas fantásticas. O "selvagem" do imaginário popular é re-significado como vantagem, nossa contribuição civilizatória.
Entretanto, quando Tarsila, nos anos 30, inicia uma pintura realista, o popular perde essa potência criadora. Ela passa a olhar para o povo com comoção. Os pobres na tela são gente de bom coração, mas que não reagem. Talvez a artista quisesse lhes retirar a pecha de "classes perigosas", mas é demais lhes tratar como vítimas.
No caso de Di Cavalcanti não se trata da metamorfose de uma promessa utópica numa forma complacente. Na sua caricatura ele já manifesta um interesse mais moral do que artístico. Preocupa-se com a hipocrisia das elites, sua falta de retidão e com a corrupção dos modos. Vai além e, populista como ele só, se volta aos desvalidos, atrás de mitos urbanos.
Desse modo, Di apela para formas e esquemas de estruturação visual mais tradicionais. Só que seus personagens são negros e moradores de vielas e cortiços. Assim, se em Tarsila a mitificação da urbanização anunciava uma utopia, em Di ele quer ser a realidade da "humanidade brasileira".

Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti


  
Onde: MAM Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nš, portão 3, pq. Ibirapuera, SP, tel. 0/xx/11/5549-9688)
Quando: ter., qua. e sex.: das 12h às 18h; qui.: das 12h às 22h; sáb. e dom., das 10h às 18h; até 15/12
Quanto: R$ 5 (grátis p/ menores até dez e maiores de 65 anos, qui. a partir das 17h e às ter.)


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