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São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

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CINEMA/ESTRÉIAS

"APOLÔNIO BRASIL"

Diretor homenageia anos 50 carioca em "ritual festivo"

Com Nanini, Hugo Carvana recorda o tempo e o Rio

DA REPORTAGEM LOCAL

O ator Marco Nanini, 55, é "Apolônio Brasil, Campeão da Alegria", personagem-título do sexto longa dirigido pelo também ator Hugo Carvana, 65. O filme estréia hoje em São Paulo e no Rio de Janeiro, ocupando dez cinemas nas duas cidades.
Músico por vocação e gosto pela boemia, Apolônio conduz uma trama que percorre os modos e costumes da sociedade carioca dos anos 50 -quando o cantor e pianista inicia a carreira em cabarés- até 1985 -quando um visionário vivido por José Lewgoy (1920-2003), em seu último papel no cinema, revela uma peculiaridade do cérebro de Apolônio, precisamente a que o coloca em primeiro lugar no quesito alegria.
"Percebi que, embora não fosse autobiográfico, esse personagem tinha muito da vida do Carvana, além de simbolizar uma época", afirma Nanini.
O diretor, indiretamente, corrobora a avaliação. "A [atriz e co-roteirista] Denise Bandeira sempre diz que esse filme é o meu "Amarcord'", afirma, citando a produção de 1973 em que o cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993) reconstruiu suas memórias de juventude.
Sem saber tocar piano, Nanini diz que se sentiu atraído pelo "apurado trabalho técnico" que o personagem de um pianista lhe exigiria até conseguir "a liberdade de interpretar".
Com a equipe responsável pela direção musical do filme, o ator estudou as regiões das notas (num primeiro momento) e as próprias notas (em seguida), ensaiou todos os movimentos que teria de fazer com as mãos direita e esquerda.
Ainda assim, conta que, um pouco tenso, era o primeiro a chegar ao set de filmagem, onde ensaiava sozinho as cenas ao piano.
"O que me interessa na interpretação é esquecer a realidade e embarcar na fantasia. Imaginar as possibilidades, o raciocínio do personagem, todas essas buscas são muito divertidas para mim. Mas, se você não estiver tecnicamente organizado, o seu vôo nessa loucura é curto", afirma.
Quando foi apresentado em competição no 31º Festival de Gramado, em agosto, "Apolônio Brasil" afirmou Nanini como favorito ao Kikito de melhor ator entre público e crítica que acompanhavam a mostra.
O júri deu o troféu a Marcelo Serrado, por sua participação no longa gaúcho "Noite de São João", de Sérgio Silva. A decisão foi vaiada por parte da platéia da cerimônia de encerramento.
"Estou calejado. Não almejo prêmios. É claro que gosto de ganhá-los, mas não fico amargurado quando acontece o contrário. E procuro não ficar muito ligado nisso, até para não sofrer e amesquinhar o trabalho", diz Nanini.
Carvana, por sua vez, diz que o lançamento de "Apolônio Brasil" com apenas dez cópias "é um sintoma de que o filme não irá bem". O diretor afirma que hoje, no Brasil, "se um filme não tem uma forte televisão ao seu lado, não terá um grande circuito [de salas de cinema] e se não tem um grande circuito, está fadado ao fracasso".
Carvana diz que seu desânimo com as perspectivas comerciais de "Apolônio Brasil" e seu sentimento em relação ao longa "são duas coisas separadas".
"Talvez esse seja meu filme mais pessoal desde "Bar Esperança" [1982]. E, como todos os outros, é um ritual festivo, com a característica da patota, da trupe." (SA)


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