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CINEMA
"Diabo a Quatro", clássico da comédia norte-americana passado em país imaginário, reestréia com cópia nova
Irmãos Marx dão aula de cultura pop
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "Hannah e Suas Irmãs"
(1986), Mickey Sachs, o maravilhoso personagem hipocondríaco interpretado por Woody
Allen, acaba de tentar suicídio,
depois de busca infrutífera pelo
sentido da vida em diversas religiões.
Enquanto testa a melhor maneira de se dar um tiro de espingarda, dispara a arma por engano e
sai de seu apartamento, assustado. Na rua, entra num cinema para recuperar o fôlego e colocar as
idéias em ordem. Na tela está sendo exibido "Diabo a Quatro"
("Duck Soup"), deliciosa comédia
musical dos irmãos Marx de 1933.
A cena é clássica: Groucho, Harpo, Chico e Zeppo, os quatro irmãos que ajudaram a revolucionar o humor norte-americano,
tocam xilofone nos capacetes dos
soldados de Freedonia, país imaginário presidido pelo tresloucado Rufus T. Firefly (Groucho, o
melhor), que ensaia ir à guerra
com a vizinha Sylvania.
Quem o banca no poder é uma
milionária matrona apaixonada,
mais uma da longa série de mulheres ricas e feias que perseguem
Groucho nos filmes e que servem
de escada para suas tiradas.
Mickey Sachs, o personagem de
Woody Allen, vê o filme e conclui
que a vida é mesmo uma droga e
no final você morre, mas alguns
momentos fazem com que ela valha a pena. Um deles é assistir a
"Diabo a Quatro", que reestréia
hoje em cópia nova.
É uma excelente oportunidade
para as novas gerações entrarem
em contato com a família que popularizou o humor nonsense e
anárquico nos EUA, com rotinas
do vaudeville, frases rápidas, trocadilhos, metalinguagem e jogo
de palavras (infelizmente, nem
todos traduzíveis em português).
Os Marx (nenhum parentesco
com Karl) começaram sua carreira no início do século passado como um grupo musical, formado
pela mãe, Minnie, que colocou
suas crianças para tocar os instrumentos enquanto ela cantava
com a irmã. Depois, junto de
Gummo, os quatro irmãos percorreram os EUA, e o espetáculo
de música foi ganhando quadros
e esquetes em que eles atuavam.
Caíram nas graças da então incipiente indústria cinematográfica norte-americana, que os levou
(já sem Gummo) a fazer pérolas
como "Uma Noite na Ópera"
(1933), "Um Dia nas Corridas"
(1936), "No Tempo do Onça"
(1947) e este "Diabo a Quatro".
Assisti-los é também ter uma divertida aula de história da cultura
pop. De certa maneira, sem eles
não existiriam séries cômicas como a pioneira "I Love Lucy"
(1951), que desembocaria em
"Seinfeld", "Friends" e outras.
Além do que, quem somos nós
para discordar de Woody Allen?
Diabo a Quatro
Duck Soup
Produção: EUA, 1933
Direção: Leo McCarey
Com: Groucho, Chico, Harpo e Zeppo Marx
Quando: a partir de hoje, no Cinesesc
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