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São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

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CINEMA

"Diabo a Quatro", clássico da comédia norte-americana passado em país imaginário, reestréia com cópia nova

Irmãos Marx dão aula de cultura pop

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em "Hannah e Suas Irmãs" (1986), Mickey Sachs, o maravilhoso personagem hipocondríaco interpretado por Woody Allen, acaba de tentar suicídio, depois de busca infrutífera pelo sentido da vida em diversas religiões.
Enquanto testa a melhor maneira de se dar um tiro de espingarda, dispara a arma por engano e sai de seu apartamento, assustado. Na rua, entra num cinema para recuperar o fôlego e colocar as idéias em ordem. Na tela está sendo exibido "Diabo a Quatro" ("Duck Soup"), deliciosa comédia musical dos irmãos Marx de 1933.
A cena é clássica: Groucho, Harpo, Chico e Zeppo, os quatro irmãos que ajudaram a revolucionar o humor norte-americano, tocam xilofone nos capacetes dos soldados de Freedonia, país imaginário presidido pelo tresloucado Rufus T. Firefly (Groucho, o melhor), que ensaia ir à guerra com a vizinha Sylvania.
Quem o banca no poder é uma milionária matrona apaixonada, mais uma da longa série de mulheres ricas e feias que perseguem Groucho nos filmes e que servem de escada para suas tiradas.
Mickey Sachs, o personagem de Woody Allen, vê o filme e conclui que a vida é mesmo uma droga e no final você morre, mas alguns momentos fazem com que ela valha a pena. Um deles é assistir a "Diabo a Quatro", que reestréia hoje em cópia nova.
É uma excelente oportunidade para as novas gerações entrarem em contato com a família que popularizou o humor nonsense e anárquico nos EUA, com rotinas do vaudeville, frases rápidas, trocadilhos, metalinguagem e jogo de palavras (infelizmente, nem todos traduzíveis em português).
Os Marx (nenhum parentesco com Karl) começaram sua carreira no início do século passado como um grupo musical, formado pela mãe, Minnie, que colocou suas crianças para tocar os instrumentos enquanto ela cantava com a irmã. Depois, junto de Gummo, os quatro irmãos percorreram os EUA, e o espetáculo de música foi ganhando quadros e esquetes em que eles atuavam.
Caíram nas graças da então incipiente indústria cinematográfica norte-americana, que os levou (já sem Gummo) a fazer pérolas como "Uma Noite na Ópera" (1933), "Um Dia nas Corridas" (1936), "No Tempo do Onça" (1947) e este "Diabo a Quatro".
Assisti-los é também ter uma divertida aula de história da cultura pop. De certa maneira, sem eles não existiriam séries cômicas como a pioneira "I Love Lucy" (1951), que desembocaria em "Seinfeld", "Friends" e outras.
Além do que, quem somos nós para discordar de Woody Allen?


Diabo a Quatro
Duck Soup
    
Produção: EUA, 1933
Direção: Leo McCarey
Com: Groucho, Chico, Harpo e Zeppo Marx
Quando: a partir de hoje, no Cinesesc



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