|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"SEABISCUIT - ALMA DE HERÓI"
História de cavalo vencedor se perde na psicologia dos homens
Divulgação
|
O ator Tobey Maguire interpreta o jóquei Red Pollard no filme "Seabiscuit - Alma de Herói" |
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
O cinema americano adora
traçar paralelos entre os indivíduos e a história, quase sempre reforçando a mitologia da terra das oportunidades e do "self
made man". É um cinema, em geral, fechado aos marginais e perdedores, e que reproduz, em sua
própria forma, a crença cega em
uma imagem redentora.
Em "Seabiscuit - Alma de Herói", o roteirista e diretor Gary
Ross bate nessa mesma tecla com
pequenas variações. O tema do
filme é um cavalo de corridas que,
na era da Depressão, tornou-se
ídolo popular. O tom é parcialmente documental.
Há uma narração em off centrada em fatos históricos; a mistura
de cor e preto-e-branco acentua a
impressão do "real". Ross reforça,
o tempo todo, a ilusão do cinema
e a idéia de que é preciso acreditar
no que se vê, contradizendo o espírito dos dois filmes que fizeram
seu nome ("Dave Presidente por
um Dia" e "A Vida em Preto-e-Branco").
O pano de fundo histórico é a
América em crise após o "crash"
da Bolsa, em 1929. Além da pobreza extrema que se abateu sobre
a população, o país viveu uma generalizada crise de auto-estima.
A caminho da recuperação, liderada pelo presidente Roosevelt
durante a década de 1930, o país se
engajou numa onda escapista que
impulsionou o entretenimento
popular: as comédias românticas
lotavam os teatros, as "screwball
comedies" enchiam os cinemas e
as corridas de cavalos viviam momentos de glória.
É aí que surge Seabiscuit, o cavalo que quase foi descartado das
corridas por seu temperamento
difícil, mas que, graças ao esforço
do dono Charles Howard (Jeff
Bridges), do treinador Tom Smith
(Chris Cooper) e do jóquei Red
Pollard (Tobey Maguire), transforma-se em pule de dez.
Howard potencializa o sucesso
do bicho desafiando o Golias dos
cavalos de corrida da época, War
Admiral, e a sucessão de recusas
de seu dono para aceitar o desafio
apenas aumenta a popularidade
do rival Seabiscuit.
Partindo desse contexto, o filme
se concentra na psicologia dos homens que fazem de Seabiscuit um
campeão, todos com feridas na alma: Howard perdeu o filho, Pollard foi abandonado pelos pais e
Smith vê seu mundo desmoronar
com a era do automóvel.
O cavalo será a cura, transformando potenciais perdedores em
vencedores. Ross não faz questão
de imprimir à fórmula qualquer
marca pessoal.
Talvez por isso o filme seja um
tédio até o momento em que um
acidente fere Pollard e ele é obrigado a passar seus segredos sobre
Seabiscuit para um outro jóquei.
Nesse momento, o filme troca a
psicologia humana pela do animal, e é preciso dizer que, a partir
daí, ele se sai bem melhor.
Seabiscuit - Alma de Herói
Seabiscuit
Produção: EUA, 2003
Direção: Gary Ross
Com: Jeff Bridges, Tobey Maguire
Quando: a partir de hoje nos Cine
Morumbi, Jardim Sul e circuito
Texto Anterior: "Migração Alada": Investigação preserva o mistério da natureza Próximo Texto: Copião: Filme sobre a ministra Benedita tenta ir adiante Índice
|