UOL


São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"SEABISCUIT - ALMA DE HERÓI"

História de cavalo vencedor se perde na psicologia dos homens

Divulgação
O ator Tobey Maguire interpreta o jóquei Red Pollard no filme "Seabiscuit - Alma de Herói"


PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

O cinema americano adora traçar paralelos entre os indivíduos e a história, quase sempre reforçando a mitologia da terra das oportunidades e do "self made man". É um cinema, em geral, fechado aos marginais e perdedores, e que reproduz, em sua própria forma, a crença cega em uma imagem redentora.
Em "Seabiscuit - Alma de Herói", o roteirista e diretor Gary Ross bate nessa mesma tecla com pequenas variações. O tema do filme é um cavalo de corridas que, na era da Depressão, tornou-se ídolo popular. O tom é parcialmente documental.
Há uma narração em off centrada em fatos históricos; a mistura de cor e preto-e-branco acentua a impressão do "real". Ross reforça, o tempo todo, a ilusão do cinema e a idéia de que é preciso acreditar no que se vê, contradizendo o espírito dos dois filmes que fizeram seu nome ("Dave Presidente por um Dia" e "A Vida em Preto-e-Branco").
O pano de fundo histórico é a América em crise após o "crash" da Bolsa, em 1929. Além da pobreza extrema que se abateu sobre a população, o país viveu uma generalizada crise de auto-estima.
A caminho da recuperação, liderada pelo presidente Roosevelt durante a década de 1930, o país se engajou numa onda escapista que impulsionou o entretenimento popular: as comédias românticas lotavam os teatros, as "screwball comedies" enchiam os cinemas e as corridas de cavalos viviam momentos de glória.
É aí que surge Seabiscuit, o cavalo que quase foi descartado das corridas por seu temperamento difícil, mas que, graças ao esforço do dono Charles Howard (Jeff Bridges), do treinador Tom Smith (Chris Cooper) e do jóquei Red Pollard (Tobey Maguire), transforma-se em pule de dez.
Howard potencializa o sucesso do bicho desafiando o Golias dos cavalos de corrida da época, War Admiral, e a sucessão de recusas de seu dono para aceitar o desafio apenas aumenta a popularidade do rival Seabiscuit.
Partindo desse contexto, o filme se concentra na psicologia dos homens que fazem de Seabiscuit um campeão, todos com feridas na alma: Howard perdeu o filho, Pollard foi abandonado pelos pais e Smith vê seu mundo desmoronar com a era do automóvel.
O cavalo será a cura, transformando potenciais perdedores em vencedores. Ross não faz questão de imprimir à fórmula qualquer marca pessoal.
Talvez por isso o filme seja um tédio até o momento em que um acidente fere Pollard e ele é obrigado a passar seus segredos sobre Seabiscuit para um outro jóquei. Nesse momento, o filme troca a psicologia humana pela do animal, e é preciso dizer que, a partir daí, ele se sai bem melhor.


Seabiscuit - Alma de Herói
Seabiscuit
 
Produção: EUA, 2003
Direção: Gary Ross
Com: Jeff Bridges, Tobey Maguire
Quando: a partir de hoje nos Cine Morumbi, Jardim Sul e circuito



Texto Anterior: "Migração Alada": Investigação preserva o mistério da natureza
Próximo Texto: Copião: Filme sobre a ministra Benedita tenta ir adiante
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.