São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2004

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TELEVISÃO

Minissérie faz metáfora do 11 de Setembro ao abordar o retorno de pessoas que foram raptadas por alienígenas

"The 4400" vê uma América abduzida por invasores

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Com a recente reeleição de George W. Bush, produções que fazem alegorias sobre os traumas do 11 de Setembro acabam soando passadistas, quando não descartáveis ou tendenciosas demais. "The 4400", minissérie americana que estréia nesta sexta-feira no Universal Channel, aglutina todos esses poréns, no entanto mantém seu interesse quando trabalha no terreno da pura ficção.
Com o cineasta Francis Ford Coppola como produtor-executivo, a série parte de uma premissa pouco abordada pela maioria das produções de ficção científica. Em certo sentido, é uma espécie de continuação para a televisão de "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (1977), o filme de Steven Spielberg sobre pessoas raptadas por seres extraterrestres.
"The 4400" começa no ponto em que termina o longa, ou seja, uma nave despeja em Washington (EUA) 4.400 pessoas que sumiram do planeta nos últimos 50 anos e que foram consideradas mortas. Para elas, nenhum dia se passou desde o desaparecimento.
Olhadas com desconfiança pelas forças de segurança norte-americanas, elas não fazem idéia do que aconteceu e inicialmente são colocadas em quarentena em uma base militar.
"O 11 de Setembro é a matéria-prima da série. A principal relação com a data é imaginar como um fato de tal magnitude transforma a vida das pessoas e como isso vai determinando o que somos hoje", diz o criador da série, Scott Peters, à Folha.
Ao menos no primeiro episódio (de um total de cinco, na primeira temporada), ficam sugestões um tanto unilaterais: o inimigo vem de fora, e todos agora vivem com saudades de um idílico passado, na busca por uma suposta inocência perdida. Entre os personagens está uma mulher que é abduzida no começo dos anos 90. Quando retorna à Terra, já nos dias atuais, vai ao encontro de sua família, apenas para descobrir que o marido e a filha já não a desejam mais por perto. Ou então, uma menina de oito anos que some nos anos 40, para voltar órfã.
A julgar pelo desenrolar da trama, todos os afetados pelo episódio tornam-se seres anormais. Os "retornados" desenvolvem poderes incomuns, momento em que a série cruza com idéias do filme-HQ "X-Men", sobre mutantes.
O público norte-americano gostou da metáfora. Na estréia, o episódio bateu recordes de audiência dentro da TV a cabo, com 7,4 milhões de telespectadores, superando a marca anterior, de 6,4 milhões ("The Dead Zone"). O bom resultado garantiu uma segunda temporada nos EUA, agora com mais 13 episódios.
Peters, no entanto, acredita que o sucesso se deve a fatores não ligados diretamente a sentimentos patrióticos, mas sim a outros terremotos, como o declínio do segmento dos "reality shows".
"Havia muitos "realities" no verão passado [julho, nos EUA], quando estreamos. O formato tornou-se repetitivo demais, e as pessoas começaram a voltar às séries, que possuem roteiros elaborados, personagens, diálogos etc.", acredita Peters.
"The 4400" ganha simpatia por extrapolar os limites da ficção científica. "A diferença com séries como "Arquivo X" é que nós mostramos o que os personagens fazem quando chegam em casa à noite, por exemplo, além de abordar questões relativas a pessoas de todas as idades."


THE 4400. Quando: sexta-feira (dia 19), às 21h, no Universal Channel.


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