São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2004

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TECNOLOGIA

Jovens cineastas usam câmeras de aparelhos para filmar curtas-metragens; veículo ainda tem limitações

Celular cria novas possibilidades para brincar de cinema

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Final do século 19: o inglês Eadweard Muybridge posiciona várias câmeras fotográficas em torno de um cavalo. O objetivo da experiência é provar que os animais tiram as patas do chão durante o galope. Sem querer, Muybridge cria uma animação.
Início do século 21: telefones celulares com câmeras digitais tornam-se aparelhos triviais. E repetem a proeza de Muybridge.
As possibilidades dessas minicâmeras estão se transformando agora em ferramentas de jovens cineastas, que usam a tecnologia na produção de curtas.
Giuliano Chiaradia, 34, por exemplo, optou pelo celular para gravar seu curta "Biiip", em produção. "O roteiro é feito de mensagens telefônicas que retratam a loucura humana. Gravar com o celular fez o projeto ser mais minimalista, intimista e experimental, por usar essa mídia para fazer arte", diz o diretor, que vive há quatro anos nos EUA, onde trabalha num canal de TV paga.
Há também motivações mais materiais e menos estéticas no uso dos telefones. Fabricantes de celulares, como a Siemens e a Motorola, realizam concursos que desafiam criadores a produzir filmes com telefones.
A 20ª edição do festival de curtas de Berlim, encerrado no último domingo, teve uma competição dedicada ao formato. Foram 20 filmes finalistas (veja em www.micromovie-award.com).
Escolhido por voto popular na internet, o vencedor, que levou 3.000, foi "Checklist", do colombiano Felipe Cardona, 31, que conta a história de um rapaz que sai de casa e tem que voltar várias vezes porque esqueceu algo.
Até então, Cardona nunca havia pensado em fazer filmes usando o telefone, mas aceitou a proposta e recebeu um celular para filmá-lo.
"As produções de hoje precisam de um valor agregado, que chame a atenção. A possibilidade de fazer curtas usando "handycams" foi a passagem para a democracia audiovisual", diz Cardona. "O talento está em muitas partes e se deve mostrá-lo. O mundo está cheio de visões, e a tecnologia está fazendo o possível para que mais gente se expresse pelo audiovisual."
O novo formato, no entanto, ainda impõe dificuldades comparáveis às que Muybridge enfrentou em sua tomada célebre.
A capacidade de armazenamento de dados das câmeras de celulares é irrisória, o que obriga os usuários a descarregar as imagens em um computador a cada três minutos de gravação.
Há também uma incompatibilidade entre o arquivo de imagem gerado pelos telefones e a extensão usada nos programas de finalização e edição de imagens.
Por fim, a qualidade de definição geralmente é muito baixa, o que torna proibitiva a exibição em telas muito maiores do que as dos próprios aparelhos.


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