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TECNOLOGIA
Jovens cineastas usam câmeras de aparelhos para filmar curtas-metragens; veículo ainda tem limitações
Celular cria novas possibilidades para brincar de cinema
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Final do século 19: o inglês Eadweard Muybridge posiciona várias câmeras fotográficas em torno de um cavalo. O objetivo da experiência é provar que os animais
tiram as patas do chão durante o
galope. Sem querer, Muybridge
cria uma animação.
Início do século 21: telefones celulares com câmeras digitais tornam-se aparelhos triviais. E repetem a proeza de Muybridge.
As possibilidades dessas minicâmeras estão se transformando
agora em ferramentas de jovens
cineastas, que usam a tecnologia
na produção de curtas.
Giuliano Chiaradia, 34, por
exemplo, optou pelo celular para
gravar seu curta "Biiip", em produção. "O roteiro é feito de mensagens telefônicas que retratam a
loucura humana. Gravar com o
celular fez o projeto ser mais minimalista, intimista e experimental, por usar essa mídia para fazer
arte", diz o diretor, que vive há
quatro anos nos EUA, onde trabalha num canal de TV paga.
Há também motivações mais
materiais e menos estéticas no
uso dos telefones. Fabricantes de
celulares, como a Siemens e a Motorola, realizam concursos que
desafiam criadores a produzir filmes com telefones.
A 20ª edição do festival de curtas de Berlim, encerrado no último domingo, teve uma competição dedicada ao formato. Foram
20 filmes finalistas (veja em
www.micromovie-award.com).
Escolhido por voto popular na
internet, o vencedor, que levou
3.000, foi "Checklist", do colombiano Felipe Cardona, 31, que
conta a história de um rapaz que
sai de casa e tem que voltar várias
vezes porque esqueceu algo.
Até então, Cardona nunca havia
pensado em fazer filmes usando o
telefone, mas aceitou a proposta e
recebeu um celular para filmá-lo.
"As produções de hoje precisam
de um valor agregado, que chame
a atenção. A possibilidade de fazer
curtas usando "handycams" foi a
passagem para a democracia audiovisual", diz Cardona. "O talento está em muitas partes e se deve
mostrá-lo. O mundo está cheio de
visões, e a tecnologia está fazendo
o possível para que mais gente se
expresse pelo audiovisual."
O novo formato, no entanto,
ainda impõe dificuldades comparáveis às que Muybridge enfrentou em sua tomada célebre.
A capacidade de armazenamento de dados das câmeras de celulares é irrisória, o que obriga os
usuários a descarregar as imagens
em um computador a cada três
minutos de gravação.
Há também uma incompatibilidade entre o arquivo de imagem
gerado pelos telefones e a extensão usada nos programas de finalização e edição de imagens.
Por fim, a qualidade de definição geralmente é muito baixa, o
que torna proibitiva a exibição em
telas muito maiores do que as dos
próprios aparelhos.
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