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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
DSquared faz seu primeiro perfume
Grife lança a fragrância He Wood; para os estilistas Dean e Dan Caten, jornalismo de moda não é independente
Eles hesitaram um pouco ao
responder, mas por fim soltaram, em uníssono: a imprensa
de moda dificilmente escreve
com liberdade. E por quê? Porque os anunciantes influenciam nas publicações. A opinião é dos irmãos gêmeos canadenses Dean e Dan Caten, os
estilistas e criadores da cobiçada grife DSquared2.
Eles receberam a Folha para
uma entrevista exclusiva no
ateliê em Milão onde preparavam o seu desfile da primavera-verão 2009, em setembro.
Dean e Dan, que vivem na
Itália, estão lançando a primeira linha de perfumes da DSquared2 -He Wood, para homens,
e She Wood, para mulheres.
Ambos estão sendo produzidos
e lançados pela poderosa empresa italiana ICR (leia mais
nesta pág.). O perfume masculino já chegou ao Brasil. O feminino aporta no final do segundo semestre de 2009.
He Wood (em inglês, "wood"
pode significar madeira, floresta, mato...) foi criado pela perfumista Daphne Bugey. "É um
outono canadense ao entardecer", sugerem os irmãos Caten,
a respeito das sensações provocadas pelo aroma, que tem em
sua fórmula uma nota dominante de madeira (vinda do vetiver e do cedro), além de toques de almíscar, âmbar vegetal, pinheiro branco e violeta.
Dean fala mais do que Dan.
São dele 90% das respostas
abaixo. Mas os dois costumam
concordar em quase tudo -e a
frase de um ressoa na do outro,
como um complemento. Por isso, na entrevista, eles aparecem com uma voz única.
No ateliê em Milão, antes da
entrevista, Dean e Dan estavam muito curiosos para saber
como é a nova loja paulista da
Diesel em São Paulo. A DSquared2 pertence hoje à Staff, que é
também dona da Diesel.
Os gêmeos não escondiam o
seu aborrecimento com o fato
de não disporem mais de uma
loja com o nome de sua grife
em São Paulo. A DSquared2 que
havia na Daslu foi desativada, e
as roupas da grife passaram a
ser vendidas na loja da Staff,
que fica no segundo andar da
nova Diesel. "O nome da nossa
grife está na entrada da loja?",
perguntaram. Não, não está.
FOLHA - Por que vocês decidiram
fazer o He Wood?
DEAN E DAN CATEN - Quando uma
marca chega a um certo ponto
de sua carreira, tem necessidade de fazer uma fragrância para
o seu público. Um perfume é diferente das roupas, é mais pessoal e também atemporal, feito
para durar.
FOLHA - Que tipo de sensação vocês quiseram criar com o perfume?
DEAN E DAN - A de um passeio na
floresta, de um riacho, a do outono canadense ao entardecer.
FOLHA - Quando uma grife lança
um perfume, alguém o faz para ela,
um perfumista. Qual é o trabalho
que vocês de fato tiveram?
DEAN E DAN - Indicamos ao perfumista o que desejaríamos que
a fragrância tivesse. Ele se foi,
fez suas misturas e nos trouxe
algumas provas. Aí, experimentamos e fomos dizendo o que
achávamos de cada uma, o que
estava bom e o que ainda faltava. Ele veio e voltou umas dez
vezes, com diferentes provas.
Foi um trabalho longo, mas divertido, porque nós só colocaríamos o nosso nome em algo
que gostássemos realmente.
FOLHA - Perfumes são os produtos
mais lucrativos da indústria fashion.
Terá sido esse também um bom motivo para fazer o He Wood?
DEAN E DAN - Claro [riem]. Mas
você sabe por que isso ocorre?
Porque nem todo mundo pode
comprar moda. Enquanto nossos jeans custam cerca de
500, o perfume custa mais ou
menos 50 [no Brasil, R$
169,10, R$ 229,90 e R$ 309,70,
dependendo do tamanho do
frasco]. Comprar um He Wood
seria como dizer: "Eu posso ter
alguma coisa da DSquared2".
FOLHA - Vocês não pensam em
criar um jeans mais barato?
DEAN E DAN - Sim, vamos fazer
uma linha acessível no futuro.
Nossos jeans custam caros porque o tecido, o tratamento e a
lavagem são onerosos. Algumas
lavagens custam 30, 40. O
brim japonês não sai por menos do que 10, o metro.
FOLHA - Como vocês descreveriam
a moda, hoje?
DEAN E DAN - Ela é individual e
livre. Todo mundo pode fazer
mais ou menos o que quiser.
FOLHA - Ainda existem tendências?
DEAN E DAN - Sim, mas elas não
são mais obrigatórias, como
nos anos 60. Hoje, todo mundo
tem uma opinião e uma opção
nova. Você faz o que quer.
FOLHA - Existe diferença entre o
que é sensual e o que é sexual na
moda? Não são a mesma coisa?
DEAN E DAN - Claro que é. As
pessoas compram moda porque querem parecer bonitas, ou
seja, se sentirem sexy e atrativas para as outras pessoas.
FOLHA - Vocês fizeram o uniforme
do time de futebol Juventus. O esporte é importante para a moda?
DEAN E DAN - Sim. Os jogadores
de futebol estão se tornando os
novos ícones da garotada. Eles
têm corpos ótimos, muitos deles são bonitos, ricos. Eles são
uma boa imagem para as pessoas se espelharem.
FOLHA - O que pensam das revistas
de moda atuais?
DEAN E DAN - Preferimos as
francesas e inglesas. A maioria
das americanas são tediosas, é
chato ter que dizer isso. Mas
não temos muito tempo de lê-las, elas estão ficando cada vez
mais volumosas.
FOLHA - Vocês acham que os jornalistas de moda são independentes e
escrevem com liberdade?
DEAN E DAN - [Hesitam] Não.
Eles não podem dizer de fato o
que pensam, sabemos muito
bem disso.
FOLHA - Por que não?
DEAN E DAN - Porque eles têm os
anunciantes, que influenciam
no que será publicado.
FOLHA - Não há nenhum jornalista
de moda independente que vocês
conheçam?
DEAN E DAN - Sim, alguns poucos. Depende de onde você está
escrevendo...
FOLHA - Em sua opinião, como deveria ser a crítica de moda?
DEAN E DAN - O crítico tem que
ter a mente aberta. Ele deve relatar o que viu, ouvir o designer
e então criticar. Existe esta
idéia de que você tem que ser
podre com os outros na crítica
-e de que, se não for, você não é
um bom jornalista. É um conceito muito esquisito.
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