São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br

DSquared faz seu primeiro perfume

Grife lança a fragrância He Wood; para os estilistas Dean e Dan Caten, jornalismo de moda não é independente

Eles hesitaram um pouco ao responder, mas por fim soltaram, em uníssono: a imprensa de moda dificilmente escreve com liberdade. E por quê? Porque os anunciantes influenciam nas publicações. A opinião é dos irmãos gêmeos canadenses Dean e Dan Caten, os estilistas e criadores da cobiçada grife DSquared2.
Eles receberam a Folha para uma entrevista exclusiva no ateliê em Milão onde preparavam o seu desfile da primavera-verão 2009, em setembro. Dean e Dan, que vivem na Itália, estão lançando a primeira linha de perfumes da DSquared2 -He Wood, para homens, e She Wood, para mulheres.
Ambos estão sendo produzidos e lançados pela poderosa empresa italiana ICR (leia mais nesta pág.). O perfume masculino já chegou ao Brasil. O feminino aporta no final do segundo semestre de 2009.
He Wood (em inglês, "wood" pode significar madeira, floresta, mato...) foi criado pela perfumista Daphne Bugey. "É um outono canadense ao entardecer", sugerem os irmãos Caten, a respeito das sensações provocadas pelo aroma, que tem em sua fórmula uma nota dominante de madeira (vinda do vetiver e do cedro), além de toques de almíscar, âmbar vegetal, pinheiro branco e violeta. Dean fala mais do que Dan.
São dele 90% das respostas abaixo. Mas os dois costumam concordar em quase tudo -e a frase de um ressoa na do outro, como um complemento. Por isso, na entrevista, eles aparecem com uma voz única. No ateliê em Milão, antes da entrevista, Dean e Dan estavam muito curiosos para saber como é a nova loja paulista da Diesel em São Paulo. A DSquared2 pertence hoje à Staff, que é também dona da Diesel.
Os gêmeos não escondiam o seu aborrecimento com o fato de não disporem mais de uma loja com o nome de sua grife em São Paulo. A DSquared2 que havia na Daslu foi desativada, e as roupas da grife passaram a ser vendidas na loja da Staff, que fica no segundo andar da nova Diesel. "O nome da nossa grife está na entrada da loja?", perguntaram. Não, não está.

 

FOLHA - Por que vocês decidiram fazer o He Wood?
DEAN E DAN CATEN
- Quando uma marca chega a um certo ponto de sua carreira, tem necessidade de fazer uma fragrância para o seu público. Um perfume é diferente das roupas, é mais pessoal e também atemporal, feito para durar.

FOLHA - Que tipo de sensação vocês quiseram criar com o perfume?
DEAN E DAN
- A de um passeio na floresta, de um riacho, a do outono canadense ao entardecer.

FOLHA - Quando uma grife lança um perfume, alguém o faz para ela, um perfumista. Qual é o trabalho que vocês de fato tiveram?
DEAN E DAN
- Indicamos ao perfumista o que desejaríamos que a fragrância tivesse. Ele se foi, fez suas misturas e nos trouxe algumas provas. Aí, experimentamos e fomos dizendo o que achávamos de cada uma, o que estava bom e o que ainda faltava. Ele veio e voltou umas dez vezes, com diferentes provas. Foi um trabalho longo, mas divertido, porque nós só colocaríamos o nosso nome em algo que gostássemos realmente.

FOLHA - Perfumes são os produtos mais lucrativos da indústria fashion. Terá sido esse também um bom motivo para fazer o He Wood?
DEAN E DAN
- Claro [riem]. Mas você sabe por que isso ocorre? Porque nem todo mundo pode comprar moda. Enquanto nossos jeans custam cerca de 500, o perfume custa mais ou menos 50 [no Brasil, R$ 169,10, R$ 229,90 e R$ 309,70, dependendo do tamanho do frasco]. Comprar um He Wood seria como dizer: "Eu posso ter alguma coisa da DSquared2".

FOLHA - Vocês não pensam em criar um jeans mais barato?
DEAN E DAN
- Sim, vamos fazer uma linha acessível no futuro. Nossos jeans custam caros porque o tecido, o tratamento e a lavagem são onerosos. Algumas lavagens custam 30, 40. O brim japonês não sai por menos do que 10, o metro.

FOLHA - Como vocês descreveriam a moda, hoje?
DEAN E DAN
- Ela é individual e livre. Todo mundo pode fazer mais ou menos o que quiser.

FOLHA - Ainda existem tendências?
DEAN E DAN
- Sim, mas elas não são mais obrigatórias, como nos anos 60. Hoje, todo mundo tem uma opinião e uma opção nova. Você faz o que quer.

FOLHA - Existe diferença entre o que é sensual e o que é sexual na moda? Não são a mesma coisa?
DEAN E DAN
- Claro que é. As pessoas compram moda porque querem parecer bonitas, ou seja, se sentirem sexy e atrativas para as outras pessoas.

FOLHA - Vocês fizeram o uniforme do time de futebol Juventus. O esporte é importante para a moda?
DEAN E DAN
- Sim. Os jogadores de futebol estão se tornando os novos ícones da garotada. Eles têm corpos ótimos, muitos deles são bonitos, ricos. Eles são uma boa imagem para as pessoas se espelharem.

FOLHA - O que pensam das revistas de moda atuais?
DEAN E DAN
- Preferimos as francesas e inglesas. A maioria das americanas são tediosas, é chato ter que dizer isso. Mas não temos muito tempo de lê-las, elas estão ficando cada vez mais volumosas.

FOLHA - Vocês acham que os jornalistas de moda são independentes e escrevem com liberdade?
DEAN E DAN
- [Hesitam] Não. Eles não podem dizer de fato o que pensam, sabemos muito bem disso.

FOLHA - Por que não?
DEAN E DAN
- Porque eles têm os anunciantes, que influenciam no que será publicado.

FOLHA - Não há nenhum jornalista de moda independente que vocês conheçam?
DEAN E DAN
- Sim, alguns poucos. Depende de onde você está escrevendo...

FOLHA - Em sua opinião, como deveria ser a crítica de moda?
DEAN E DAN
- O crítico tem que ter a mente aberta. Ele deve relatar o que viu, ouvir o designer e então criticar. Existe esta idéia de que você tem que ser podre com os outros na crítica -e de que, se não for, você não é um bom jornalista. É um conceito muito esquisito.


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