São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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Bienal vira sanatório em performance de artista

Norte-americana Joan Jonas quer que público da mostra faça papel de médico

Artista se inspirou em texto de escritor que, internado em sanatório após ataque de nervos, conta sua experiência com índios

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Barack Obama nem suspeita, mas, graças à sua eleição, a 28ª Bienal de São Paulo recebe hoje e amanhã a artista Joan Jonas, 72, umas das mais importantes figuras na história da performance. "Se ele não tivesse sido eleito, acho que eu não teria vindo de vergonha", disse Jonas à Folha, na última terça. "Foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, nós estávamos envergonhados por tudo que os EUA andaram fazendo. A vitória dele é extraordinária, especialmente para minha geração, que testemunhou negras, no sul do país, tendo que ser escoltadas para poder entrar em universidades", diz. Na 28ª Bienal, a artista apresenta "A Forma, o Aroma, a Sensação das Coisas", performance criada em 2005 para o museu nova-iorquino Dia: Beacon. Com a participação de cinco pessoas, entre músicos, atores e ela própria, Jonas aborda a dança da cobra dos índios hari, no Arizona: "Na década de 1960, eu participei desse ritual e fiquei muito impressionada". Contudo, foi só recentemente, com a descoberta de um texto do escritor alemão Aby Warburg (1866-1929), internado num sanatório após um ataque de nervos, e que então relatou sua experiência com os hopi, que a artista retomou o tema. Em sua performance, Jonas transforma a Bienal num sanatório, e Warburg é interpretado por um ator, cabendo ao público o papel do médico. "Eu basicamente uso o texto editado do Warburg, pois me interessou muito como ele aborda o mundo e a arte de dentro do sanatório e sua relação com os hari."

Feminismo
Nos anos 60, a artista iniciou sua carreira voltada para questões feministas, o que a coloca em todos os livros de história da arte como artista voltada a essa questão. Quase meio século depois, esse rótulo a incomoda? "Eu sou uma mulher, e claro que as questões que afligem as mulheres me tocam. Em meus primeiros trabalhos eu realmente buscava questionar a imagem que se criava da mulher, mas isso hoje já não faz parte de meu trabalho. No fim, percebi que são os rituais que me interessam, pois eu compreendi meu próprio trabalho como um ritual", diz.
Nos últimos 50 anos, aliás, Jonas acompanhou como a performance teve altos e baixos, e ainda como, nos últimos anos, tem novamente obtido destaque. "Acho que a performance ganha mais visibilidade em tempos instáveis como o que estamos [vivendo], pois a cultura precisa do corpo, que é a forma mais direta de ação. Quando o mundo passa por uma fase tão virtual, o retorno ao corpo é uma necessidade."


28ª BIENAL DE SÃO PAULO
Quando: hoje e amanhã, às 20h
Onde: pavilhão da Bienal (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/ 5576-7600; livre)
Quanto: entrada franca



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