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EXPOSIÇÃO
Empresas deixaram de bancar salas; privatizada, Telesp Celular afirma que não tem interesse no patrocínio
Bienal tem rombo de R$ 1,4 milhão
CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local
Um rombo de R$ 1,4 milhão ronda o parque Ibirapuera. Esse é o tamanho atual do buraco existente
no orçamento da 24ª Bienal de São
Paulo, exposição em cartaz há
mais de 40 dias em São Paulo.
A informação é de Julio Landmann, presidente da Fundação
Bienal, que organiza a mostra de
artes plásticas, considerada a mais
importante da América Latina.
Esse buraco no orçamento da
fundação deve diminuir na próxima semana (leia reportagem à pág.
4-3), mas por enquanto representa
9% do total.
O orçamento da Bienal este ano é
de R$ 15,4 milhões. Em junho, a
fundação já havia conseguido assegurar R$ 14 milhões e tinha acertado a captação do restante.
Segundo Landmann, o Ministério das Comunicações havia garantido um pedido de liberação de
R$ 1 milhão por meio do sistema
Telebrás, privatizado em julho.
Outras duas empresas, a Nestlé e
a Motorola, haviam manifestado
interesse em patrocinar duas salas,
que completariam o orçamento.
A Nestlé, que segundo Landmann patrocinaria a sala do artista
chileno modernista Roberto Matta, e a Motorola, que assumiria a
sala dos artistas contemporâneos
norte-americanos Dennis Oppenheim e Tony Oursler, desistiram
dois meses antes da exposição.
Segundo a assessoria da Nestlé, a
Bienal é "importantíssima", e havia o interesse em patrociná-la,
mas a empresa preferiu centrar investimentos em literatura, área
com a qual já colabora.
De acordo com assessoria de imprensa da Motorola, a empresa
manifestou interesse em investir
R$ 150 mil no patrocínio da exposição, mas, "em razão de um redirecionamento do plano de marketing, a empresa não pode concretizar o interesse inicial".
Segundo Landmann, essas empresas "não deram um cano", pois
não haviam chegado a assinar contrato. "O problema é o dinheiro da
Telebrás", diz o presidente.
Segundo José Expedito Prata,
que ocupava o posto de chefe de
gabinete do Ministério das Comunicações quando começaram as
negociações, o ministério tinha interesse em conseguir patrocínios
para a Bienal e encaminhou pedido para que a Telebrás estudasse
investimento na exposição. A empresa repassou a solicitação de patrocínio para a Telesp Celular.
Carlos Magalhães, superintendente da Bienal, diz que recebeu a
informação de que o patrocínio seria aprovado, mas até ontem não
havia recebido nenhum retorno da
empresa paulista.
De acordo com fax enviado à Folha pela assessoria da Telesp Celular, "a Telebrás encaminhou, dia 8
de junho, uma solicitação da Fundação Bienal de São Paulo de um
patrocínio, no valor de R$ 500 mil
(...). Considerando o volume de recursos envolvidos e o próprio projeto de privatização em franco andamento naquela ocasião, a diretoria da Telesp Celular considerou
não oportuna a participação da
empresa em nenhum dos projetos
encaminhados".
Magalhães e Landmann dizem
que o pedido era de R$ 1 milhão.
"Como isso se transformou em R$
500 mil é um mistério", diz o superintendente da Bienal.
Ontem pela manhã, Landmann
enviou correspondência à nova diretoria da Telesp Celular, solicitando alguma resposta formal.
"É um processo de empurrar
com a barriga até não acontecer",
resume Magalhães.
"Empurrar com a barriga" o
rombo da Bienal é exatamente o
que Julio Landmann diz temer que
aconteça. Ele explica que, quando
assumiu a presidência da Bienal,
em março de 1997, recebeu de herança dívidas da gestão anterior,
da qual também fazia parte.
Caso o buraco no orçamento
atual não seja preenchido, a próxima direção também deve herdar
algumas contas de sua gestão. Isso
porque o orçamento da megaexposição que acontece a cada dois
anos é o que financia diversos outros projetos da Bienal. Os R$ 15,4
milhões da mostra deste ano financiariam, entre outros projetos,
parte de uma grande exposição para o festejo dos 500 anos do Brasil.
Cansado das "dores de cabeça
com a Bienal", Landmann diz que
deixa a fundação em fevereiro de
99, quando termina seu mandato.
Ele afirma que seu objetivo agora é
completar o orçamento antes disso, para não deixar problemas para a nova diretoria.
²
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