São Paulo, sábado, 14 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EXPOSIÇÃO
Empresas deixaram de bancar salas; privatizada, Telesp Celular afirma que não tem interesse no patrocínio
Bienal tem rombo de R$ 1,4 milhão

CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local

Um rombo de R$ 1,4 milhão ronda o parque Ibirapuera. Esse é o tamanho atual do buraco existente no orçamento da 24ª Bienal de São Paulo, exposição em cartaz há mais de 40 dias em São Paulo.
A informação é de Julio Landmann, presidente da Fundação Bienal, que organiza a mostra de artes plásticas, considerada a mais importante da América Latina.
Esse buraco no orçamento da fundação deve diminuir na próxima semana (leia reportagem à pág. 4-3), mas por enquanto representa 9% do total.
O orçamento da Bienal este ano é de R$ 15,4 milhões. Em junho, a fundação já havia conseguido assegurar R$ 14 milhões e tinha acertado a captação do restante.
Segundo Landmann, o Ministério das Comunicações havia garantido um pedido de liberação de R$ 1 milhão por meio do sistema Telebrás, privatizado em julho.
Outras duas empresas, a Nestlé e a Motorola, haviam manifestado interesse em patrocinar duas salas, que completariam o orçamento.
A Nestlé, que segundo Landmann patrocinaria a sala do artista chileno modernista Roberto Matta, e a Motorola, que assumiria a sala dos artistas contemporâneos norte-americanos Dennis Oppenheim e Tony Oursler, desistiram dois meses antes da exposição.
Segundo a assessoria da Nestlé, a Bienal é "importantíssima", e havia o interesse em patrociná-la, mas a empresa preferiu centrar investimentos em literatura, área com a qual já colabora.
De acordo com assessoria de imprensa da Motorola, a empresa manifestou interesse em investir R$ 150 mil no patrocínio da exposição, mas, "em razão de um redirecionamento do plano de marketing, a empresa não pode concretizar o interesse inicial".
Segundo Landmann, essas empresas "não deram um cano", pois não haviam chegado a assinar contrato. "O problema é o dinheiro da Telebrás", diz o presidente.
Segundo José Expedito Prata, que ocupava o posto de chefe de gabinete do Ministério das Comunicações quando começaram as negociações, o ministério tinha interesse em conseguir patrocínios para a Bienal e encaminhou pedido para que a Telebrás estudasse investimento na exposição. A empresa repassou a solicitação de patrocínio para a Telesp Celular.
Carlos Magalhães, superintendente da Bienal, diz que recebeu a informação de que o patrocínio seria aprovado, mas até ontem não havia recebido nenhum retorno da empresa paulista.
De acordo com fax enviado à Folha pela assessoria da Telesp Celular, "a Telebrás encaminhou, dia 8 de junho, uma solicitação da Fundação Bienal de São Paulo de um patrocínio, no valor de R$ 500 mil (...). Considerando o volume de recursos envolvidos e o próprio projeto de privatização em franco andamento naquela ocasião, a diretoria da Telesp Celular considerou não oportuna a participação da empresa em nenhum dos projetos encaminhados".
Magalhães e Landmann dizem que o pedido era de R$ 1 milhão. "Como isso se transformou em R$ 500 mil é um mistério", diz o superintendente da Bienal.
Ontem pela manhã, Landmann enviou correspondência à nova diretoria da Telesp Celular, solicitando alguma resposta formal.
"É um processo de empurrar com a barriga até não acontecer", resume Magalhães.
"Empurrar com a barriga" o rombo da Bienal é exatamente o que Julio Landmann diz temer que aconteça. Ele explica que, quando assumiu a presidência da Bienal, em março de 1997, recebeu de herança dívidas da gestão anterior, da qual também fazia parte.
Caso o buraco no orçamento atual não seja preenchido, a próxima direção também deve herdar algumas contas de sua gestão. Isso porque o orçamento da megaexposição que acontece a cada dois anos é o que financia diversos outros projetos da Bienal. Os R$ 15,4 milhões da mostra deste ano financiariam, entre outros projetos, parte de uma grande exposição para o festejo dos 500 anos do Brasil.
Cansado das "dores de cabeça com a Bienal", Landmann diz que deixa a fundação em fevereiro de 99, quando termina seu mandato. Ele afirma que seu objetivo agora é completar o orçamento antes disso, para não deixar problemas para a nova diretoria.
²

Visite a XXIV Bienal de São Paulo


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.