São Paulo, sábado, 14 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA
Alexis Loret protagoniza, com Juliette Binoche, "Alice e Martin', de André Téchiné, que já dirigiu "Rosas Selvagens'
Modelo-ator é destaque em filme francês

MARIANA SGARIONI
de Paris

Três anos depois de "Os Ladrões", o cineasta francês André Téchiné estreou em Paris, na semana passada, "Alice e Martin", seu mais novo filme.
Com Juliette Binoche no papel de Alice e o principiante Alexis Loret como Martin, Téchiné aborda um assunto delicado: o parricídio.
A trama narra a história de Martin, filho bastardo de uma família burguesa do sudoeste da França, que matou seu pai. Sua família acaba mascarando o crime para evitar um escândalo.
Ao fugir para a casa de Benjamin (Mathieu Amalric) -seu meio-irmão homossexual, que mora em Paris-, Martin conhece Alice, uma violinista com quem Benjamin divide o apartamento.
Os dois tornam-se amantes e o crime de Martin vem à tona quando ele descobre que Alice está grávida.
"Martin é uma criança selvagem em estado bruto. Alice é uma aventureira moderna que experimenta a vida sem modelos e referências, mas com muita força. Escrevi esse papel pensando em Juliette", disse Téchiné.
O modelo estreante na carreira de ator Alexis Loret, 23, personagem principal da história, foi recrutado por Téchiné em uma agência de modelos "por acaso".
"André queria alguém do mundo da moda, desconhecido. Para dar mais veracidade ao personagem, chegamos a filmar em uma verdadeira agência de modelos", disse Loret à Folha.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Como você compôs Martin? Você pesquisou adolescentes parricidas?
Alexis Loret -
Não fiz nenhum tipo de pesquisa, mas sei que André chegou a se encontrar com jovens parricidas.
Ele me pediu para que visse alguns filmes para me inspirar e compus Martin pensando principalmente em sua loucura. Tive apenas um mês para preparar Martin. Não trabalhei no texto junto com André, mas almoçamos juntos várias vezes e ele me dizia o que queria.
Folha - Alice, no filme, representa a maturidade e uma real chance de vida para Martin. Como atriz, Juliette Binoche também representa a maturidade em relação à sua experiência de trabalho. Como foi contracenar com ela?
Loret -
Foi fácil, pois, até por sua própria experiência, Juliette é atenta, paciente e generosa. Ela me deu todo o apoio necessário, sempre tentando preservar a inocência de Martin.
Acho que ela representa para ele, além da maturidade, toda a simbologia relacionada à mulher, inclusive a figura da mãe.
Folha - André Téchiné disse em uma entrevista que Juliette Binoche se negou a aparecer nua nas cenas de amor. Como foi contracenar com ela nesses momentos?
Loret -
Ela não quis aparecer nua, mas, em compensação, eu apareço nu (risos). Eu não sabia dessa condição, ela deve ter negociado isso com André.
Agora, é verdade que houve um constrangimento nas cenas mais fortes, mas Juliette tem energia suficiente para contornar isso sem grandes problemas.
Folha - Qual a parte do filme que você considerou mais difícil do ponto de vista da atuação?
Loret -
Não houve nenhuma parte fácil. Para mim, o mais complicado era ter de ficar todo o tempo em contato com Martin, sem poder esquecê-lo um só minuto. Também achei difíceis as cenas de contato físico, de amor. E, claro, as cenas de loucura de Martin, que para mim eram completamente misteriosas.
Folha - Você pretende continuar na carreira de modelo?
Loret -
Eu ainda sou modelo, mas agora pretendo me dedicar ao máximo à carreira de ator.
"Alice e Martin" é o meu primeiro filme e agora espero ter outras oportunidades. Comecei minha carreira de ator por acaso. André procurava alguém do meio da moda, desconhecido. Então, ele foi até uma agência de modelos e me escolheu.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.