São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 2000

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CARTOGRAFIA CULTURAL

O projeto Rumos recebeu mais de 3.000 inscrições e faz mapeamento da produção nacional

Música e artes visuais delineiam o país

FERNANDA CIRENZA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Música e artes visuais são as duas áreas de expressão artística mais produzidas no país. É o que mostram os números do projeto Rumos, desenvolvido pelo Itaú Cultural em escala nacional.
A instituição recebeu, de maio a setembro deste ano, 1.679 inscrições de música e 1.576 de artes visuais entre janeiro e junho de 1999 -os projetos não acontecem concomitantemente.
Para Ricardo Ribenboim, diretor do Itaú, existe uma tradição brasileira em música e artes visuais, o que justifica o maior número de participantes nos programas. "Além disso, são produções mais individuais", disse ele.
Lançado em 1997 com música, por meio de shows e encontros entre consagrados e jovens, o programa se diversificou. Atingiu outras áreas (cinema e vídeo, dança, novas mídias e literatura) e tratou de mapear a produção nacional.
"Trabalhamos no tripé fomento -porque o projeto Rumos abre espaço para novos artistas-, formação -enquanto cria ambiente de circulação e troca de informações- e difusão -pois garante a circulação da produção", afirmou Ribenboim.
Para cada área, a instituição convoca, por meio de editais, os projetos dos artistas e, depois de uma avaliação feita por uma comissão de profissionais, seleciona parte dos trabalhos.

Genuinamente brasileira
No segmento musical deste ano, o Rumos não estava interessado em um gênero, mas exigia que a obra revelasse a influência da música genuinamente brasileira.
Um grupo de 30 curadores e curadores assistentes ouviu as 1.679 obras de 26 Estados -não houve inscrição no Amapá.
Ao final, 70 foram selecionadas, sendo que Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia agruparam o maior número de contemplados -sete em cada um.
Segundo o pesquisador Hermano Vianna, um dos curadores, foi feito um registro da diversidade rítmica nacional. "Não há predominância de um ritmo. Há bons choros em Brasília, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Música eletrônica e instrumental são uma tendência. O curioso é que essas manifestações não têm ainda contato entre si."
O resultado para o segmento musical foi a produção de três coleções de CDs com as músicas selecionadas, além de 42 temporadas com 67 espetáculos pelo país.
Em 2001, o Itaú não vai abrir programa para essa área. Segundo Ribenboim, o próximo ano será destinado para avaliar as "consequências" do mapeamento.

Artes visuais
O levantamento para a área de artes visuais envolveu três curadores-coordenadores e nove assistentes, que foram distribuídos em nove regiões do país. Foram analisados 1.576 porta-fólios de 26 Estados -Rondônia não participou.
Do total, 84 obras foram selecionadas com base nos critérios qualidade e contemporaneidade. São Paulo lidera com 17 contemplados, seguido pelo Rio de Janeiro (16) e Rio Grande do Sul (11).
Segundo os coordenadores, não há uma tendência específica, mas o que predomina são obras objetais e fotográficas. Há ainda uma vertente para a arte que usa a mídia tecnológica como suporte.
Para Angélica de Moraes, uma das coordenadoras, São Paulo e Rio concentram o maior número de inscrições (503 e 226, respectivamente) e de selecionados devido ao fato de esses Estados terem mais condições econômicas e culturais. "Há regiões onde existe uma dificuldade enorme de entendimento do que é contemporâneo."
Citou como exemplos Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte e Piauí.
"Nessas regiões, quase tudo está por fazer. O ensino de artes não existe na universidade. Os cursos mais próximos desse conteúdo são os de arquitetura e comunicação social."
Daniela Bousso, diretora do Paço das Artes, em São Paulo, e outra curadora do programa, partilha da mesma opinião. "Existem regiões que não fornecem apoio para a arte contemporânea. O Brasil, nesse segmento, vive em tempos diferentes."

Fora do eixo
Já para Fernando Cocchiarale, atual diretor do MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio de Janeiro e o terceiro coordenador de artes visuais, a produção contemporânea não se restringe mais ao eixo Rio-São Paulo. "Talvez seja reflexo da globalização. Mas é importante ressaltar que há uma escassez de massa crítica fora desse circuito tradicional."
O resultado do projeto foi apresentado em 15 exposições por 31 cidades brasileiras e três workshops. Todas as mostras foram acompanhadas por catálogos produzidos pela entidade.
Segundo Ribenboim, os números não são a base do trabalho. "Eles aferem a presença, mas na área cultural sabe-se que o acúmulo das informações e o efeito sobre elas se dão a médio e longo prazos. Sabe-se também que a construção do conhecimento é uma ação contínua que não deve ser interrompida."
Com base nesse raciocínio, o Itaú prepara para 2001 um novo Rumos para artes visuais. A coordenação será de Cocchiarale, e o critério, contemporaneidade.


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