São Paulo, sexta-feira, 14 de dezembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/ESTRÉIA

"CARREGO COMIGO"

Documentário de Chico Teixeira traz 11 pares de irmãos, um trio de irmãs e um duo rompido

Gêmeos servem para discutir identidade

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Carrego Comigo", documentário de Chico Teixeira que estréia hoje em São Paulo, é sobre as relações entre gêmeos. E não é.
"Na superfície, esse filme fala de gêmeos, mas, no subterrâneo, é um questionamento sobre a identidade. Pelo menos era essa a minha inquietação", diz Teixeira, que atende por Chico, sendo Gustavo. Explica-se: quando garoto, de tão irrequieto, Gustavo era chamado de Chico Macaco por sua mãe. Passaram-se os anos, ficou o prenome. E o cineasta chegou aos 43 sentindo-se herdeiro de "um problema sério com a identidade".
Teixeira pensou em transferir para o cinema sua angústia e viu na relação entre irmãos gêmeos uma boa porta de entrada.
A pesquisa prévia para a preparação de "Carrego Comigo" identificou 35 "casos". Desses, Teixeira reteve na edição final 11 pares de gêmeos, um trio de irmãs e um exemplo de duo rompido.
A idéia inicial do cineasta era dedicar o filme a gêmeos famosos. Assim, estão entre os entrevistados as duplas de cantoras Pepê e Neném, Celma e Célia e a de cartunistas Paulo e Chico Caruso.
Com o projeto mais tarde ampliado para dar vez também a "pessoas que não são públicas, mas muito interessantes", incorporaram-se os irmãos drag queens Dolly e Dolly, os sacerdotes Henrique e Clemente Kesselmeier e a dupla de contraventores Eduardo Marcelo e Eduardo Rogério, entre outros.
A participação das trigêmeas no filme ficou restrita a imagens de um encontro entre todos os entrevistados. "Fiz uma entrevista pequena com elas, mas, no meio das filmagens, desisti de usá-la. Se começasse a entrar num caminho que não era o meu, teria de falar também de muitas outras coisas."
"Carrego Comigo" introduz seus personagens em auto-apresentações sucintas e aborda suas atividades profissionais em referências também breves. A montagem do filme, no entanto, deixou alheias ao conhecimento do espectador essas informações a respeito do gêmeo desgarrado, que se aprende pelos créditos finais ser Fernando di Giorgi.
"Não gosto dos letreiros e não quis o olhar mais erudito, explicativo dos personagens. Então, eles se apresentam de forma pulverizada", diz o cineasta.
Os temas comuns abordados nas entrevistas referem-se a supostos aspectos simbióticos na vida dos gêmeos e aos sentimentos engendrados pela possibilidade do afastamento e da perda.
O cineasta desenvolve agora o roteiro de um filme de ficção ambientado no bairro do Brás, em São Paulo. "Tenho uma coisa escrita sobre um motorista de táxi e uma manicure", diz.



Texto Anterior: Concurso: CCBB seleciona curtas inéditos para lançamento
Próximo Texto: Crítica: O invisível pela ótica pública
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.