São Paulo, sexta-feira, 14 de dezembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/ESTRÉIAS

"MONSTROS S/A"

Animação trata de criaturas que saem do armário

No peito dos monstros também há um coração

DENISE MOTA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Relatórios de produtividade, romances interdepartamentais, empresários sequiosos de lucros, rixas entre colegas de trabalho e atividades que se espalham pelos cinco continentes, divulgadas com ampla publicidade.
Sim, trata-se da rotina de uma multinacional, onde tudo funciona, literalmente, na base do grito. Não, não é nenhum libelo contra o neoliberalismo, e sim a mais nova produção a chegar por aqui dos estúdios Disney.
"Monstros S/A", longa de animação feito em parceria com a Pixar (em dobradinha que já resultou em filmes como a série "Toy Story" e "Vida de Inseto"), narra as aventuras (e desventuras) de Sulley, a estrela da corporação.
A companhia, idolatrada na cidade de Monstrópolis, provê energia para seus habitantes a partir do grito de crianças, aterrorizadas em todo o mundo, todas as noites, por seus profissionais: monstros treinados para se manterem dependurados em lustres, assustarem gêmeos e, principalmente, entrarem e saírem de armários com destreza, sem serem tocados e contaminados pelos pequenos humanos.
Sulley se vê em apuros depois que uma criança sai do quarto e chega a Monstrópolis. Ao lado dele está Mike -rechonchuda figura com vocação para o exibicionismo-, lançado no turbilhão de confusões graças ao coração mole do amigo. Porque é claro que Sulley decide devolver Boo, a criança, a salvo para casa, e para isso terá de atravessar obstáculos aparentemente intransponíveis (como sair do Himalaia, na divertida sequência em que ninguém menos do que o Abominável Homem das Neves faz uma ponta).
Atrapalha a missão de Sulley, particularmente, seu antagonista no trabalho: Randall, monstro que ambiciona ocupar lugar de destaque na companhia, mas que, ao ver o talento de Sulley levar sempre a melhor, se sai com uma engenhoca capaz de aumentar a lucratividade da empresa.
"Monstros S/A" se vale de alguns truques para prender a atenção dos adultos e arrancar deles boas risadas, como quando faz referência aos "Caça-Fantasmas", na roupa da equipe contratada pelo governo de Monstrópolis para detectar o paradeiro de Boo.
Ou nas referências a clichês de filmes-catástrofe -como o uso da câmera lenta para a entrada de monstros em ação, ao som de trilha épica, ou a manjada cena com depoimentos de pessoas comuns na TV falando sobre o que teriam presenciado do horror na cidade.
O filme parte de uma premissa já visitada pelo mundo infantil desde pelo menos "A Bela e a Fera" (a de que o caráter não está na aparência) e é previsível, mas tem ritmo, muito bom humor, demonstração de princípios elevados como a amizade, a honestidade, a coragem e a bondade, e cumpre com leveza e notáveis recursos tecnológicos a missão a que se propõe: entreter e mostrar que, no peito dos monstros, também pode bater um (bom) coração.


Monstros S/A
Monsters, Inc.
   
Direção: Peter Docter
Produção: EUA, 2001
Com: na versão original, vozes de John Goodman (para Sulley), Billy Crystal (Mike), Steve Buscemi (Randall)
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte, Interlagos e circuito




Texto Anterior: Crítica: O invisível pela ótica pública
Próximo Texto: "Xuxa e os Duendes": Sem novas "celebridades", filme agora é "com história"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.