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LIVRO/LANÇAMENTO
"UM HOMEM SEM PROFISSÃO"
Com cinco textos inéditos, livro varre o período entre 1919 e 1929 da vida do modernista
Reedição enfatiza "personagem" Oswald
DA REPORTAGEM LOCAL
Em entrevista dada a Radhá
Abramo um mês antes de morrer,
em outubro de 1954, Oswald de
Andrade detalhou seu projeto literário de então. O modernista,
que acabara de publicar um volume com suas lembranças desde a
infância até 1919, escreveria outros três tomos memorialísticos.
A nova edição das lembranças
oswaldianas, que a editora Globo
está lançando, traz pela primeira
vez à luz um fragmento do que seria o segundo volume.
Com o nome de "O Salão e a Selva", que seria adicionado ao nome geral da série, "Um Homem
sem Profissão", o texto descreveria um período crucial na biografia de Oswald, e na vida dele para a
formação cultural brasileira.
O livro varreria seus rememoramentos entre 1919 e 1929, intervalo no qual ele ajudou a articular a
Semana de 22, redigiu o "Manifesto Antropófago" e escreveu pilares da literatura brasilis, tais como "Pau-Brasil".
O fragmento que ficou de "O Salão..." infelizmente não vai tão
longe. Nele Oswald ainda é um jovem que frequenta, contrariado, a
Faculdade de Direito do largo de
São Francisco -e que como vê-se
em trecho abaixo, publicado com
exclusividade pela Folha, espinafra os advogados.
Mas a nova edição de "Um Homem sem Profissão" não deixa
totalmente na mão o leitor que
busca algo que seja sobre o modernismo. Entre os cinco inéditos
do volume, garimpados por Jorge
Schwartz e Gênese Andrade no
arquivo do escritor, em posse do
Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio, da Unicamp, está uma carta que reflete
mais uma vez a inimizade entre os
Andrades modernistas.
A luta Oswald x Mário tem mais
um rápido round em correspondência a Ribeiro Couto, em 1927,
no qual o autor de "Pau-Brasil"
cutuca o de "Paulicéia Desvairada". E continua em
outro manuscrito inédito incluído no volume, este dos anos 40,
batizado de "Minha Vida em Cinco Atos", no qual Oswald chama
Mário de "Carmen Miranda" do
modernismo.
Gênese Andrade (sem parentescos com o Andrade em questão)
diz que, além dessa importância
no entendimento histórico do
modernismo, os documentos inéditos são relevantes por "antecipar fatos e revelações que ele
apresentará nas "Memórias'".
Na carta a Ribeiro Couto, por
exemplo, o autor trata da vinda
do pai a São Paulo (em "Homem
sem Profissão", conta como ele
participou da urbanização da cidade), passa pela primeira viagem
à Europa e cita sua participação
na criação da revista "O Pirralho".
Em "Um Homem sem Profissão", no entanto, se acentua o caráter "personagem" de Oswald de
Andrade. Se é que se pode separar
vida e obra desse "gordo Quixote
procurando conformar a realidade ao sonho", nas palavras de Antonio Candido.
Pois é esse mesmo crítico, que
inspirou o antropófago a mastigar-se e digerir-se no livro de memórias, é quem faz no prefácio
original do trabalho, reproduzido
na nova edição, a leitura mais justa da distinção do real e imaginário para Oswald. "É um escritor
que fez da vida romance e poesia,
e fez do romance e da poesia um
apêndice da vida."
(CASSIANO ELEK MACHADO)
UM HOMEM SEM PROFISSÃO. Autor:
Oswald de Andrade. Editora: Globo.
Quanto: R$ 24,50 (236 págs.)
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