São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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LIVRO/LANÇAMENTO

"UM HOMEM SEM PROFISSÃO"

Com cinco textos inéditos, livro varre o período entre 1919 e 1929 da vida do modernista

Reedição enfatiza "personagem" Oswald

DA REPORTAGEM LOCAL

Em entrevista dada a Radhá Abramo um mês antes de morrer, em outubro de 1954, Oswald de Andrade detalhou seu projeto literário de então. O modernista, que acabara de publicar um volume com suas lembranças desde a infância até 1919, escreveria outros três tomos memorialísticos.
A nova edição das lembranças oswaldianas, que a editora Globo está lançando, traz pela primeira vez à luz um fragmento do que seria o segundo volume.
Com o nome de "O Salão e a Selva", que seria adicionado ao nome geral da série, "Um Homem sem Profissão", o texto descreveria um período crucial na biografia de Oswald, e na vida dele para a formação cultural brasileira.
O livro varreria seus rememoramentos entre 1919 e 1929, intervalo no qual ele ajudou a articular a Semana de 22, redigiu o "Manifesto Antropófago" e escreveu pilares da literatura brasilis, tais como "Pau-Brasil".
O fragmento que ficou de "O Salão..." infelizmente não vai tão longe. Nele Oswald ainda é um jovem que frequenta, contrariado, a Faculdade de Direito do largo de São Francisco -e que como vê-se em trecho abaixo, publicado com exclusividade pela Folha, espinafra os advogados.
Mas a nova edição de "Um Homem sem Profissão" não deixa totalmente na mão o leitor que busca algo que seja sobre o modernismo. Entre os cinco inéditos do volume, garimpados por Jorge Schwartz e Gênese Andrade no arquivo do escritor, em posse do Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio, da Unicamp, está uma carta que reflete mais uma vez a inimizade entre os Andrades modernistas.
A luta Oswald x Mário tem mais um rápido round em correspondência a Ribeiro Couto, em 1927, no qual o autor de "Pau-Brasil" cutuca o de "Paulicéia Desvairada". E continua em outro manuscrito inédito incluído no volume, este dos anos 40, batizado de "Minha Vida em Cinco Atos", no qual Oswald chama Mário de "Carmen Miranda" do modernismo.
Gênese Andrade (sem parentescos com o Andrade em questão) diz que, além dessa importância no entendimento histórico do modernismo, os documentos inéditos são relevantes por "antecipar fatos e revelações que ele apresentará nas "Memórias'".
Na carta a Ribeiro Couto, por exemplo, o autor trata da vinda do pai a São Paulo (em "Homem sem Profissão", conta como ele participou da urbanização da cidade), passa pela primeira viagem à Europa e cita sua participação na criação da revista "O Pirralho".
Em "Um Homem sem Profissão", no entanto, se acentua o caráter "personagem" de Oswald de Andrade. Se é que se pode separar vida e obra desse "gordo Quixote procurando conformar a realidade ao sonho", nas palavras de Antonio Candido.
Pois é esse mesmo crítico, que inspirou o antropófago a mastigar-se e digerir-se no livro de memórias, é quem faz no prefácio original do trabalho, reproduzido na nova edição, a leitura mais justa da distinção do real e imaginário para Oswald. "É um escritor que fez da vida romance e poesia, e fez do romance e da poesia um apêndice da vida."
(CASSIANO ELEK MACHADO)


UM HOMEM SEM PROFISSÃO. Autor: Oswald de Andrade. Editora: Globo. Quanto: R$ 24,50 (236 págs.)


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