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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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Japão


A NHK, maior emissora de TV japonesa, produz novela épica no Brasil, a ser gravada em SP e no Japão e exibida em 2005


MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

A NHK Enterprises, emissora de maior audiência do Japão [36 milhões só de assinantes a cabo], está no Brasil para gravar uma novela, "Haru e Natsu" (Primavera e Verão), a ser exibida no horário nobre no Império do Sol.
A novela irá ao ar em 2005. As gravações começam em março. Na última segunda, em São Paulo, foram feitos testes com atores brasileiros e de origem japonesa.
Seus produtores não sabiam do know-how de suas colegas brasileiras, nunca ouviram falar de "Escrava Isaura", novela que estourou na vizinha China, nem conheciam nossa tradição: fazer e exportar teledramas.
A única referência que tinham do Brasil era o futebol. Vieram, na verdade, em busca da história de seus descendentes, nas comemorações dos 50 anos da emissora pública japonesa. Encontraram uma parceria com a Casablanca, produtora independente paulista, que leva para as telas "A Turma do Gueto" (Record).
A autora da novela, Sugako Hashida, 80, já tinha vindo três vezes ao Brasil. Especialista em dramas épicos, há 15 anos fez "Oshin", novela de grande sucesso no seu país, que contava a trajetória de uma septuagenária, testemunha das mudanças do Japão medieval para o moderno.
"Como aqui, lá as novelas passam no horário nobre. A diferença é que, aqui, têm muitos capítulos, e lá duram três meses. Na maioria das vezes, os capítulos passam uma vez por semana", diz Yasuhiko Abe, produtor da NHK.
Segundo ele, "Haru e Natsu" será rodada 50% no Brasil e 50% no Japão. Os protagonistas são atores japoneses. O casting brasileiro é de atores secundários; exigia-se conhecimento básico da língua.
"Haru e Natsu" é um épico: a história de duas irmãs de dez anos que se perderam em 1935. Uma desembarcou no porto de Santos. A outra ficou no Japão. A história dos dois países será contada, especialmente a da imigração japonesa. A guerra, que devastou um país e perseguiu seus imigrantes no outro, estará no foco.
"Esperamos uma média de 20% de audiência. A novela irá ao ar em high vision [alta-definição] e terá versões compactadas depois em reprises. Vai ser muito comentada no Japão", diz Abe.
O diretor, Mineyo Sato, que encabeçou os testes, conta que, no Japão, há tradição de muitas novelas de época e grandes épicos. Ele mesmo já dirigiu uma, "Toshi e Matu", passada no século 17.
"Pesquisei bastante sobre o Brasil antes de vir. Viajamos para o interior de São Paulo, onde encontrei japonesas de 80 anos exatamente como as personagens. E fiquei impressionado com a semelhança entre Santos, a Serra do Mar e o Japão", diz Sato.
Ele explica que a novela é uma ficção com fatos históricos e será narrada a época em que, no Brasil, a colônia japonesa foi proibida de falar sua língua natal e publicar seus jornais.
Marilene Carvalho, da Casablanca, explica que sua produtora, antes uma empresa de pós-produção, está também se abrindo para o mercado de conteúdo e produção independente.
"A base de produção de "Haru e Natsu" é nossa. Não vai ter uma cidade específica. Gravaremos a chegada dos japoneses a Santos, a estada na Casa dos Imigrantes, o trabalho em plantações de café, algodão e o cultivo de flores", diz.
Para isso, a produtora contratou Yurica Yamazaki, irmã de Tizuka Yamazaki, familiarizada com o tema devido ao filme "Gaijin".
Parte do equipamento de alta-definição vem do Japão e parte vem da produtora brasileira, que usa a tecnologia desde 1998 e já fez co-produções internacionais, como com a TV 5 francesa.
"Descobri que, em tecnologia, não devemos nada a eles, estamos bem servidos", diz Alex Pimentel, produtor da Casablanca.
"Para eles, é muito importante os elementos de cena serem o mais próximo possível do real. Eles priorizam a fidelidade da época, apesar de ser uma ficção. Como se trata de uma empresa estatal, eles não dão prioridade ao marketing e venda, mas à qualidade", completa.

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