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Crítica/"Dois de Fevereiro"
Sartori lança CD original sobre Caymmi
DA SUCURSAL DO RIO
As canções de Dorival
Caymmi parecem simples, mas são difíceis
-exatamente pelo fato de parecerem simples, como se existissem antes que alguém as fizesse. É natural, portanto, que ninguém as cante melhor do que o
próprio Caymmi. Mas o pouco
conhecido Mateus Sartori, 29,
paulista de Franca e crescido
em Mogi das Cruzes, conseguiu
realizar um trabalho original e
fiel à obra do gênio baiano.
A primeira explicação para o
acerto está no formato: ele e o
produtor Rodolfo Stroeter optaram por um disco só com voz
e violão. Como o violão de
Caymmi é único, uma ótima alternativa foi revestir as melodias de outros violões únicos,
tocados por oito craques.
Com sua voz de acento feminino, extremamente afinada,
capaz de alcançar notas incríveis, Sartori ganha com esses
violões um ambiente que nenhuma banda ou orquestra lhe
daria, pois está neles o despojamento que a música de Caymmi pede -despojamento que
não tem nada de tosco; é econômico, sem notas fúteis, deixando voz e ouvidos divagarem.
Um momento significativo é
a faixa de abertura, "Acaçá". O
violão de Webster Santos faz
muito com pouco, deixa espaço
para a voz de Sartori se expandir. O resultado é um encontro
coerente entre pregão de rua e
lamento negro. Outro tema festivo que tem andamento freado
é "Dois de Fevereiro", com novo revestimento na guitarra de
Diego Figueiredo.
Daquelas músicas tristes de
nascença, sobressaem "Sargaço
Mar", uma das mais belas de
Caymmi (com violão de Mario
Gil), e "Valerá a Pena", samba-canção reduzido aqui ao osso,
com Sartori cantando à capela
na primeira passagem (e violão
de Jardel Caetano).
No grupo das "urbanas" (sem
referências à Bahia), estão a
valsa "Beijos pela Noite" -tocada seresteiramente por Chico Saraiva-, e "Só Louco", em
que Sartori, amparado por
Guinga, põe a voz nos mais difíceis lugares do CD.
O cantor não escapou de
sambas que, cristalizados em
gravações clássicas, são menos
avessos a recriações, como "Rosa Morena" e "Samba da Minha
Terra". Mas, com os respectivos auxílios de Paulo Bellinati e
Chico Saraiva, emprestou um
jeito novo e seu a "Dora" e "A
Jangada Voltou Só". Sabendo
tocar com delicadeza num repertório precioso, Sartori fez
um dos melhores discos do
ano.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
DOIS DE FEVEREIRO
Artista: Mateus Sartori
Gravadora: Lua
Quanto: R$ 22, em média
Avaliação: ótimo
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