São Paulo, segunda, 14 de dezembro de 1998

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TELEVISÃO
"Meu Pé de Laranja Lima' é alívio na Bandeirantes

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

A Bandeirantes está irreconhecível. Para abrir caminho até a novela "Meu Pé de Laranja Lima" é um sufoco. Não se vê um homem. Nem do Luciano do Valle e sua bolinha sobra vestígio. É um mulherio atordoante em sua falta do que fazer. A Márcia Peltier, mais "soignée" do que nunca, vive um alvoroço. Nada daquela moça que quietinha pesquisava, tão silenciosa para que não se percebesse que gastava o dinheiro dos Bloch.
Agora que o dinheiro é paulista e dos bons, a srta. Peltier enche o estúdio de gente e, novo-riquíssima, faz a festa. Barulho ainda mais feliz faz a espocante Sílvia Poppovic. Deram-lhe um auditório muito mais amplo. E como tem mulher desocupada para qualquer vesperal de mocréias sexualizadas num entardecer da Paulicéia! Só mesmo Deus para nos acudir.
É mesmo revigorante quando se encontra a cara daquele menino de cabelo vermelho e sorriso traquinas avisando que entramos em território com muita arrumação pacata na paisagem. Descobre-se logo que ninguém tem pressa nem muito dinheiro. As crianças brincam, os adolescentes estudam e namoram e as mulheres cuidam da casa. Deve até sobrar tempo para bordar uma almofada para a poltrona do ruivinho simpático.
Nada disso. O pai dele perdeu o emprego. Foi o Plano Real ou ele já bebia antes? As mulheres que não frequentam auditório procuram meios de ganhar o dinheiro que o demitido não ganha mais. Advinha-se a possibilidade de brigas.
Sabe-se que a novela foi escrita por Ana Maria Moretzohn no tom muito adequado para o assunto e o horário. Mesmo com a plantação adiada do pé de laranja lima, tanta coisa já se plantou para o futuro que não faltará fruta e sombra para o telespectador se regalar com os personagens. Gianfrancesco Guarnieri já deu dessa vez o ar -inacreditável- de sua simpatia, com sotaque de português e tudo. Só falta mesmo o black-tie.
Tudo indica que uma viúva moça e muito rica agitará a trama. A princípio orgulhosa, acabou por contratar o médico alto, forte e louro que se apresentou para cuidar da saúde local. É rica e previsível. Tem um rapaz de bom porte que decidiu se fixar naquele campo. Por quê? Isso é pergunta de quem nunca leu Jane Austen.
Além do menino ruivo que aprendeu a ler sozinho, tem sempre alguma coisa para entreter a trama. O diretor Henrique Martins e até Mário Travesso mostram alguma atenção com o fluir ainda tênue da trama. A finalidade evidente é o envolvimento fácil do espectador. E isso está acontecendo, no lento ritmo de um dia e outro mais no campo. Das 18h às 19h não há melhor lugar para morar.



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