|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TELEVISÃO
"Meu Pé de Laranja Lima' é alívio na Bandeirantes
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
A Bandeirantes está irreconhecível. Para abrir caminho até a
novela "Meu Pé de Laranja Lima"
é um sufoco. Não se vê um homem.
Nem do Luciano do Valle e sua bolinha sobra vestígio. É um mulherio atordoante em sua falta do que
fazer. A Márcia Peltier, mais "soignée" do que nunca, vive um alvoroço. Nada daquela moça que
quietinha pesquisava, tão silenciosa para que não se percebesse que
gastava o dinheiro dos Bloch.
Agora que o dinheiro é paulista e
dos bons, a srta. Peltier enche o estúdio de gente e, novo-riquíssima,
faz a festa. Barulho ainda mais feliz faz a espocante Sílvia Poppovic.
Deram-lhe um auditório muito
mais amplo. E como tem mulher
desocupada para qualquer vesperal de mocréias sexualizadas num
entardecer da Paulicéia! Só mesmo Deus para nos acudir.
É mesmo revigorante quando se
encontra a cara daquele menino
de cabelo vermelho e sorriso traquinas avisando que entramos em
território com muita arrumação
pacata na paisagem. Descobre-se
logo que ninguém tem pressa nem
muito dinheiro. As crianças brincam, os adolescentes estudam e
namoram e as mulheres cuidam
da casa. Deve até sobrar tempo para bordar uma almofada para a
poltrona do ruivinho simpático.
Nada disso. O pai dele perdeu o
emprego. Foi o Plano Real ou ele já
bebia antes? As mulheres que não
frequentam auditório procuram
meios de ganhar o dinheiro que o
demitido não ganha mais. Advinha-se a possibilidade de brigas.
Sabe-se que a novela foi escrita
por Ana Maria Moretzohn no tom
muito adequado para o assunto e
o horário. Mesmo com a plantação
adiada do pé de laranja lima, tanta coisa já se plantou para o futuro
que não faltará fruta e sombra para o telespectador se regalar com
os personagens. Gianfrancesco
Guarnieri já deu dessa vez o ar
-inacreditável- de sua simpatia, com sotaque de português e tudo. Só falta mesmo o black-tie.
Tudo indica que uma viúva moça e muito rica agitará a trama. A
princípio orgulhosa, acabou por
contratar o médico alto, forte e
louro que se apresentou para cuidar da saúde local. É rica e previsível. Tem um rapaz de bom porte
que decidiu se fixar naquele campo. Por quê? Isso é pergunta de
quem nunca leu Jane Austen.
Além do menino ruivo que
aprendeu a ler sozinho, tem sempre alguma coisa para entreter a
trama. O diretor Henrique Martins e até Mário Travesso mostram
alguma atenção com o fluir ainda
tênue da trama. A finalidade evidente é o envolvimento fácil do espectador. E isso está acontecendo,
no lento ritmo de um dia e outro
mais no campo. Das 18h às 19h não
há melhor lugar para morar.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|