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MÚSICA
Songbook do compositor é primeiro álbum do intérprete em sete anos; show de apresentação estréia hoje em SP
Noel Rosa quebra silêncio de Johnny Alf
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
É dessas raras oportunidades em
que passa o cometa. Johnny Alf,
68, canta ao vivo de hoje a domingo, em São Paulo, para apresentar
um novo álbum, todo dedicado à
obra de Noel Rosa. Em 45 anos de
carreira profissional, ele gravou
apenas oito discos; não lançava
um havia sete anos.
Reaparece num trabalho que é
mais ou menos seu. O CD que integra o projeto "Letra & Música",
idealizado por Almir Chediak, de
songbooks -Tom Jobim, Chico
Buarque e Ary Barroso já receberam os seus- interpretados por
duplas de músicos.
Assim, piano e arranjos a cargo
de Leandro Braga, os dotes de pianista de Johnny Alf são deixados
de lado no songbook de Noel.
"Todo o projeto foi idéia do
Chediak. Mas Noel, para mim, depois que fui obrigado a me aprofundar em sua obra, é o mais importante compositor brasileiro de
todos os tempos."
Quem afirma isso é o artista que
há cerca de quatro décadas carrega
colado a si, como aposto, o epíteto
de "precursor da bossa nova"
-que continua se esforçando por
afastar, ao menos verbalmente.
"Eu não participei do movimento, me mudei para São Paulo em
54, antes de a bossa explodir no
Rio. Mas tinha algo a ver com ela,
por isso fiquei marcado."
Seja como for, começou a se tornar artista frequentando o Fã-Clube Sinatra-Farney (criado para
adorar o crooner-modelo Frank
Sinatra e seu seguidor brasileiro
Dick Farney), antro de formação
de toda uma geração pré-bossa.
Seguindo os passos de Farney e
Nora Ney -seus "padrinhos"
musicais-, Johnny definia aí os
pré-modelos da contaminação da
MPB tradicional pelo jazz norte-americano. Por isso pode soar algo
inusitado o mergulho atual em
Noel, quase duas décadas anterior
ao advento do samba-jazz (designação que Alf prefere à de bossa
nova para definir seu trabalho).
Ele contesta a contradição.
"Não há nada de estranho em eu
cantar Noel. Sua melodia já tinha
muita coisa de bossa nova", define, assumindo nas entrelinhas a filiação sempre refutada à bossa.
Para evidenciar o Noel Rosa melodista -intenção do projeto,
fundamentada pela presença exclusiva de composições em que o
artista fez música e letra-, Alf diz
que optou pela fidelidade à obra.
"Canto jazzificando, improviso
muito. Até tentei, mas não deu, fugiria muito da obra. Noel exige
uma interpretação simples."
Para os shows que faz de hoje a
domingo no Sesc Pompéia -que
não contam com a presença de
Leandro Braga-, Alf promete não
só canções de Noel. Mostra, então,
desde standards como "Eu e a Brisa", "Rapaz de Bem" e "Céu e
Mar" até peças instrumentais.
Zomba do fato de "Eu e a Brisa"
ser quase mais famosa que ele:
"Essa música é famosa só porque
foi lançada num festival". Refere-se ao festival da TV Record de
67, em que "Eu e a Brisa" foi desclassificada por novidades como
"Alegria, Alegria", de Caetano, e
"Domingo no Parque", de Gil.
De lá para cá, "Eu e a Brisa" ganhou incontáveis reinterpretações
e Alf prosseguiu carreira constante
nos palcos e errática em disco.
"Meu trabalho não é de mídia.
Nem sempre é interessante para as
gravadoras, que só querem os
maiores sucessos. A mídia é muito
desligada do meu trabalho", decreta, desinteressado.
Show: A Rosa do Samba
Artista: Johnny Alf
Onde: teatro do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93,
tel. 011/871-7700)
Quando: de hoje a sábado, às 21h;
domingo, às 18h
Quanto: R$ 12
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