São Paulo, quinta, 15 de janeiro de 1998.



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Um aviso em tempo para Campinas

DAVID DREW ZINGG

em Sampa

"O dinheiro não é capaz de lhe comprar amigos, mas com ele você consegue inimigos de maior categoria." Spike Mulligan

Tio Dave tem um aviso amigável a dar aos moradores da área geográfica que engloba a Grande Campinas -vendam suas casas agora e se mudem para outro lugar, antes que seja tarde!
O buchicho que circula pela Internet é que Bill Gates está pensando em construir uma casa de veraneio no Brasil. Graças aos "geeks" da Unicamp, Campinas é uma cidade superplugada, e correm boatos de que o homem mais rico do mundo está olhando nessa direção.
Como vocês talvez já tenham ouvido falar, o sr. Gates é um sujeito que pensa grande.
Quando fui verificar, hoje, seu valor líquido pessoal era de exatamente US$ 35.068.211.500 -ou seja, o suficiente para comprar picolés de tangerina para todo mundo na classe e ainda sobrar alguns para quem quiser repetir.
A fortuna pessoal de Bill Gates equivale mais ou menos ao total das reservas de dinheiro do Brasil, dependendo do dia em que você lê os jornais.
Isso significa que se o sr. Windows resolver construir sua casa de verão na Bananalândia, ele provavelmente terá o cuidado de comprar Campinas inteira, para ter lugar suficiente para agregar um estacionamento para 10 mil carros e um novo aeroporto particular para 747s, para receber as visitas que resolverem dar uma passadinha em sua casa.
De todas as pessoas no mundo que usam computadores, 80% olham para alguma versão dos produtos da Microsoft em suas telas.
Cientistas do comportamento já observaram que esse fato exerce um efeito estranho sobre os usuários. O uso constante dos produtos Gates parece gerar letargia. É como se ele estivesse nos hipnotizando.
Acorde, acorde! Está na hora de enxergar o que está acontecendo, antes que o Velho Pac-Man Gates devore o mundo inteiro.
O Departamento de Justiça da Gringolândia finalmente resolveu enfrentar a ameaça monopolista da Microsoft, embora timidamente. Alguns dias atrás, advogados do governo enfrentaram os advogados da Microsoft, numa tentativa de obrigar a gangue de Gates a parar de enfiar seu browser Internet pela goela dos indefesos compradores de "Windows".
Além disso, há a questão de todas as pequenas empresas cujo controle Gates adquire em base quase diária.
O "The New York Times" recentemente publicou uma reportagem sobre as aquisições da Microsoft. Nos últimos dois anos, uma empresa independente depois da outra vêm caindo nas garras de Bill Gates. Essas companhias todas possuem uma característica em comum: cada uma delas desenvolveu uma parte de um sistema que, quando interligado, pode conferir à Microsoft um controle ainda mais completo e sem divisões do mundo digital.
Nos velhos tempos em que as fortunas eram feitas de matérias-primas antiquadas, tais como petróleo e aço, lutávamos com todas as nossas forças contra uma coisa chamada monopólio.
Nesta época aparentemente mágica em que computadores e seios são feitos de areia, parece que não nos importamos que um homem ou uma empresa mande em nosso sistema nervoso muito digital.
Não é difícil perceber no que o Pac-Man Gates realmente está de olho. É aquela caixinha preta que, dentro em breve, você terá sentada em cima de seu televisor.
Essa engenhoca de controle remoto vai prometer conectar você à Internet sem aquela mão-de-obra confusa envolvida no uso do computador. O simpático sr. Gates acaba de gastar nada menos do US$ 1 bilhão para comprar uma participação numa enorme companhia de cabo que, dentro em breve, vai estar usando a tal caixinha preta.
Uma vez que a caixa em cima do aparelho de TV estiver dentro de sua sala, o palco estará pronto para Bill Gates virar trilionário. Por exemplo, ele já é dono de dois sites de viagens e entretenimento na Internet.
O próximo passo que ele dará será tirar sua porcentagem de alguns pequenos serviços tais como lhe vender uma passagem aérea ao Rio ou ingressos para um show de rock.
Quando penso na fome de dinheiro de Bill Gates, lembro-me de um velho político da Gringolândia que dizia: "Você junta um milhão daqui, um milhão dali, e de repente, somando tudo, percebe que está com dinheiro de verdade nas mãos".
No final, vamos acabar pagando a ele por qualquer coisa que quisermos fazer na estrada da informação do futuro, a Internet.
Então o que você e eu podemos fazer a respeito?
Bem, Joãozinho, existe, sim, uma coisa que você pode pensar em fazer. Como sempre, você pode adotar uma postura política decisiva, de verdade, e fazer exatamente ...nada.
Se você não fizer nada, estará ajudando a perpetuar a piada monopolista que é a política brasileira geral em relação a tudo que tem a ver com informática. O pessoal simpático de Brasília acaba sendo o melhor aliado de Bill Gates. Menos supervisão do mundo plugado inevitavelmente se traduz em mais Microsoft em nossas vidas.
Qual presidente vai ganhar o
SEU voto?
Segue um teste de múltipla escolha, muito simples, para ajudar você a decidir se quem o irrita mais é o presidente do Brasil ou o presidente da Microsoft. Diante dessas perguntas, até Leonel Brizola pode ter dificuldade em marcar uma das opções apresentadas.
- Com qual presidente você gostaria que seus filhos se parecessem (fortuna pessoal não deve ser levada em conta)?
Fernando / Bill / Ambos / Nenhum dos dois
- Qual presidente você convidaria para jantar?
Fernando / Bill / Ambos / Nenhum dos dois
- Qual dos presidentes você pediria no jantar?
Fernando / Bill / Ambos / Nenhum dos dois
- Qual presidente você pediria para dar de jantar a seu cachorro?
Fernando / Bill / Ambos / Nenhum dos dois.


Tradução de Clara Allain



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