São Paulo, Sábado, 15 de Janeiro de 2000


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"Máscaras eram a mania de Darwin"

da Reportagem Local

A máscara mortuária de Chatô não foi a única realizada pelo pintor Darwin Silveira Pereira. Seu colega, o também pintor Paolo Maranca, 61, possui duas outras: a do crítico, poeta, ensaísta e artista plástico Sérgio Milliet e a do pintor Vittorio Gobbis.
Ambas foram feitas na mesma época da de Assis Chateaubriand. A de Milliet, um ano e meio antes, em novembro de 66. A de Gobbis, em julho de 68.
Maranca possui as duas máscaras há cerca de dez anos. "Comprei quando ele morreu. A viúva me telefonou, oferecendo, porque ela ia voltar para o Rio. Não tinham filhos. Havia diversas máscaras lá, umas dez. Escolhi essas duas porque eram meus amigos também. Não havia do Chatô."
Maranca, que conheceu Darwin no fim dos anos 50, no ambiente do Museu de Arte Moderna do Rio, diz que a especialidade do colega era pintar cidades históricas mineiras, como Ouro Preto e Sabará.
Era bem-humorado e expansivo. Tinha uma perna mais curta que a outra e mancava. "Era brincalhão, mas foi um pintor que não teve sorte nenhuma. Infelizmente, não fez sucesso", diz o colega.
"Mas sua mania era máscara mortuária. Todo cara que morria, se fosse uma personalidade, ele corria para lá. Ouvia no rádio e saía correndo. Se fosse em outra cidade, pegava até ônibus."
O pintor diz que, na época, Darwin não as fazia para vender. "Fazia porque sabia fazer. E ponto. Se enterrasse o sujeito, aquilo se perderia. Ele ia lá e pegava aquela informação em gesso."
"A maioria das famílias deixava Darwin trabalhar. Mas nem sempre. Porque às vezes, machucava o morto."
"Primeiro, ele colocava um monte de gesso preparado na cara do sujeito. Um gesso de secagem rápida. Aí, levanta esse "capacete". Nessa hora, o gesso costuma arrancar pêlos e pedaços de pele. O resto é trabalho comum de escultor. Enche esse "negativo" com outro gesso, ou bronze, e tira o "positivo". Está pronta."

Nos Diários
Paolo Maranca afirma não ter trabalhado com Darwin nos Diários Associados, mas conviveu bastante com Nelson Gatto e também com Chateaubriand.
Com o primeiro, trabalhou no "Diário da Noite" e no "Última Hora". Maranca era crítico de arte e Gatto, a maior estrela do jornalismo policial da época (leia texto à pág. 5-3).
Maranca trabalhou diretamente com Chatô no fim da vida do magnata. Foi durante dois anos o jornalista de plantão encarregado de revisar os textos do chefe. "Ele morava na Casa Amarela, em São Paulo, perto da avenida Brasil. Já estava muito doente e só conseguia escrever com a ajuda de uma máquina especial americana", conta.
"Só que saía tudo errado, com letras repetidas, palavras incompletas. Aí eu pegava o texto, passava a limpo e lia para ele ver se estava certo. Quando estava, tudo bem. Quando eu escrevia algo errado, ele ficava muito nervoso. Balançava a cabeça e soltava baba no quarto inteiro." (CEM e IF)


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