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"Máscaras eram a mania de Darwin"
da Reportagem Local
A máscara mortuária de Chatô
não foi a única realizada pelo pintor Darwin Silveira Pereira. Seu
colega, o também pintor Paolo
Maranca, 61, possui duas outras: a
do crítico, poeta, ensaísta e artista
plástico Sérgio Milliet e a do pintor Vittorio Gobbis.
Ambas foram feitas na mesma
época da de Assis Chateaubriand.
A de Milliet, um ano e meio antes,
em novembro de 66. A de Gobbis,
em julho de 68.
Maranca possui as duas máscaras há cerca de dez anos. "Comprei quando ele morreu. A viúva
me telefonou, oferecendo, porque
ela ia voltar para o Rio. Não tinham filhos. Havia diversas máscaras lá, umas dez. Escolhi essas
duas porque eram meus amigos
também. Não havia do Chatô."
Maranca, que conheceu Darwin
no fim dos anos 50, no ambiente
do Museu de Arte Moderna do
Rio, diz que a especialidade do colega era pintar cidades históricas
mineiras, como Ouro Preto e Sabará.
Era bem-humorado e expansivo. Tinha uma perna mais curta
que a outra e mancava. "Era brincalhão, mas foi um pintor que não
teve sorte nenhuma. Infelizmente, não fez sucesso", diz o colega.
"Mas sua mania era máscara
mortuária. Todo cara que morria,
se fosse uma personalidade, ele
corria para lá. Ouvia no rádio e
saía correndo. Se fosse em outra
cidade, pegava até ônibus."
O pintor diz que, na época, Darwin não as fazia para vender. "Fazia porque sabia fazer. E ponto. Se
enterrasse o sujeito, aquilo se perderia. Ele ia lá e pegava aquela informação em gesso."
"A maioria das famílias deixava
Darwin trabalhar. Mas nem sempre. Porque às vezes, machucava
o morto."
"Primeiro, ele colocava um
monte de gesso preparado na cara
do sujeito. Um gesso de secagem
rápida. Aí, levanta esse "capacete".
Nessa hora, o gesso costuma arrancar pêlos e pedaços de pele. O
resto é trabalho comum de escultor. Enche esse "negativo" com outro gesso, ou bronze, e tira o "positivo". Está pronta."
Nos Diários
Paolo Maranca afirma não ter
trabalhado com Darwin nos Diários Associados, mas conviveu
bastante com Nelson Gatto e também com Chateaubriand.
Com o primeiro, trabalhou no
"Diário da Noite" e no "Última
Hora". Maranca era crítico de arte
e Gatto, a maior estrela do jornalismo policial da época (leia texto
à pág. 5-3).
Maranca trabalhou diretamente
com Chatô no fim da vida do
magnata. Foi durante dois anos o
jornalista de plantão encarregado
de revisar os textos do chefe. "Ele
morava na Casa Amarela, em São
Paulo, perto da avenida Brasil. Já
estava muito doente e só conseguia escrever com a ajuda de uma
máquina especial americana",
conta.
"Só que saía tudo errado, com
letras repetidas, palavras incompletas. Aí eu pegava o texto, passava a limpo e lia para ele ver se
estava certo. Quando estava, tudo
bem. Quando eu escrevia algo errado, ele ficava muito nervoso.
Balançava a cabeça e soltava baba
no quarto inteiro."
(CEM e IF)
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