São Paulo, Sábado, 15 de Janeiro de 2000


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A ÚLTIMA DE CHATÔ
Peça fúnebre, avaliada em R$ 10 mil, foi recusada por Gilberto Chateaubriand e pelo Masp
Sem destino, máscara enfeita lareira

da Reportagem Local

"Quem vai querer um negócio desses?" A pergunta é de Gilberto Chateaubriand, maior colecionador de arte moderna do Brasil. O "negócio" em questão é a máscara mortuária de seu pai, Assis.
Por enquanto, a peça fúnebre está em cima da lareira da casa de Marlys Gatto, que encontrou a máscara nas coisas de seu marido, o repórter Nelson Gatto (leia texto ao lado), morto em 1986.
O rosto em bronze de Chatô ainda não tem data para deixar a companhia dos porta-retratos com fotos da família de Marlys. Mas esse é o maior desejo da professora de piano.
"Não me interessa ficar com ela e estou com sérios problemas financeiros." Um colecionador amigo de Marlys estimou a peça em R$ 10 mil.
Além de oferecer a máscara a Gilberto, a pianista também tentou vendê-la ao Museu de Arte de São Paulo, criado por Chateaubriand. "Júlio Neves (presidente do Masp) disse que eles não tinham verba."
Em entrevista à Folha, Paulo Cabral, presidente dos Diários Associados, da Fundação Assis Chateaubriand e da Associação Nacional de Jornais, manifestou interesse pela máscara. "Eventualmente, a Fundação Assis Chateaubriand poderia adquiri-la."
Caso consiga vender a peça, Marlys pretende saldar algumas dívidas. "Quando Nelson morreu, Ulysses tinha 17, mas Mariana era recém-nascida. Eu não trabalhava. Tivemos que nos virar."
A viúva se tornou professora de piano. Diariamente, ela percorre "todos os cantos da cidade", de ônibus, para dar aulas.
Desde 1997, Marlys tenta conseguir na Justiça uma pensão especial pelo fato de seu marido ter sido um preso político. Nelson Gatto foi proibido de continuar na profissão e, segundo a viúva, morreu em consequência dos maus-tratos sofridos na prisão. "Ele voltou do navio-presídio doente do coração e dos rins."
(CASSIANO ELEK MACHADO e IVAN FINOTTI)


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