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A ÚLTIMA DE CHATÔ
Peça fúnebre, avaliada em R$ 10 mil, foi recusada por Gilberto Chateaubriand e pelo Masp
Sem destino, máscara enfeita lareira
da Reportagem Local
"Quem vai querer um negócio
desses?" A pergunta é de Gilberto
Chateaubriand, maior colecionador de arte moderna do Brasil. O
"negócio" em questão é a máscara mortuária de seu pai, Assis.
Por enquanto, a peça fúnebre
está em cima da lareira da casa de
Marlys Gatto, que encontrou a
máscara nas coisas de seu marido,
o repórter Nelson Gatto (leia texto
ao lado), morto em 1986.
O rosto em bronze de Chatô
ainda não tem data para deixar a
companhia dos porta-retratos
com fotos da família de Marlys.
Mas esse é o maior desejo da professora de piano.
"Não me interessa ficar com ela
e estou com sérios problemas financeiros." Um colecionador
amigo de Marlys estimou a peça
em R$ 10 mil.
Além de oferecer a máscara a
Gilberto, a pianista também tentou vendê-la ao Museu de Arte de
São Paulo, criado por Chateaubriand. "Júlio Neves (presidente
do Masp) disse que eles não tinham verba."
Em entrevista à Folha, Paulo
Cabral, presidente dos Diários
Associados, da Fundação Assis
Chateaubriand e da Associação
Nacional de Jornais, manifestou
interesse pela máscara. "Eventualmente, a Fundação Assis Chateaubriand poderia adquiri-la."
Caso consiga vender a peça,
Marlys pretende saldar algumas
dívidas. "Quando Nelson morreu,
Ulysses tinha 17, mas Mariana era
recém-nascida. Eu não trabalhava. Tivemos que nos virar."
A viúva se tornou professora de
piano. Diariamente, ela percorre
"todos os cantos da cidade", de
ônibus, para dar aulas.
Desde 1997, Marlys tenta conseguir na Justiça uma pensão especial pelo fato de seu marido ter sido um preso político. Nelson Gatto foi proibido de continuar na
profissão e, segundo a viúva,
morreu em consequência dos
maus-tratos sofridos na prisão.
"Ele voltou do navio-presídio
doente do coração e dos rins."
(CASSIANO ELEK MACHADO e IVAN FINOTTI)
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