São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2001

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NACIONAIS


Referências a 1985 contaminam parte brasileira



DO ENVIADO AO RIO



Contrariando os vaivéns do primeiro dia, os brasileiros do sábado no Rock in Rio primaram pela regularidade e pela competência. Nem Cássia Eller, nem Fernanda Abreu, nem Barão Vermelho fizeram os "shows de suas vidas" -papo comum em festival-, mas também ninguém passou vexame no salão.
De estilos bem distintos, as cantoras se pareceram no quesito tensão -Cássia e Fernanda pareciam amuadas, não ligaram canal de comunicação com o povão.
Foi mais evidente em Fernanda, boicotada pela linha dura da fila do gargarejo. Com a hostilidade, ela própria ficou dura.
Parecia ter deixado o "timing" em casa, desperdiçando por exemplo o momento raro em que o gramado inteiro jogava seus leques quase redondos para o alto, para alegorizar a nova "Roda Que se Mexe" (2000). OK, o medo de apanhar justifica tudo. Só se descontraiu um pouco quando Evandro Mesquita entrou para homenagear o Rock in Rio 1, em releitura do clássico pop "Você Não Soube me Amar" (82) -seria mais legal se a velha Blitz viesse completa, mas tudo bem, o tiro foi certeiro para conduzir a multidão a um princípio de catarse.
Quanto a Cássia, embora tenha soltado seus palavrões e mostrado as tetas, fez falta a performance agressiva, plenamente rock'n'roll, de tempos atrás. Rebeldia não é mesmo moeda em alta no Rock in Rio por um Mundo Melhor.
Ainda que acomodada, Cássia esbanjou interpretação e vitalidade que a fazem talvez a melhor cantora contemporânea da MPB. E jogou para a galera, cantando Nirvana feito gente grande.
Reservou nesgas de afronta à instituição que a abrigava, trazendo para si um elenco de sem-palco: Fábio, do grupo A Bruxa, o baiano Márcio Mello e a Nação Zumbi (confinada à Tenda Brasil, mesmo sendo a banda mais rock'n'roll do Brasil jovem).
Homenagens a Cazuza e Renato Russo? Não, não faltaram, e se repetiram depois, quando o Barão Vermelho domou a platéia em "O Tempo Não Pára" (88) e no resto de um show forte e concentrado.
Mas o contraste com os sem-palco trazia uma sensação de desconforto: com Blitz, Barão e companhia (que em 1985 ainda abriam picadas no pop nacional), o Rock in Rio 3 parece sentir saudades demais do Rock in Rio 1.
Ao menos no front nacional (e desfalcado do "grupo dos seis", bem ou mal uma geração pós-Rock in Rio 1 e 2), o festival fica devendo ao futuro do rock e do pop brasileiro. E o velhão samba'n'roll Jair Rodrigues, na tendinha da esquerda, continua com o cetro de melhor apresentação nacional até aqui. (PAS)


Cássia Eller:    

Barão Vermelho:    

Fernanda Abreu:   


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